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Bruxelas quer o isolamento institucional e econômico da Rússia

A Comissão propõe fechar ainda mais o financiamento de bancos e empresas

A nova responsável pela diplomacia europeia, a ministra italiana de Relações Exteriores Federica Mogherini, em uma reunião ministerial em Bruxelas.
A nova responsável pela diplomacia europeia, a ministra italiana de Relações Exteriores Federica Mogherini, em uma reunião ministerial em Bruxelas.Yves Logghe (AP)

A UE aprovará na sexta-feira um projeto excepcionalmente duro de sanções contra a Rússia, que pretende um isolamento institucional, econômico e financeiro pelo recrudescimento do conflito na Ucrânia. Sempre em coordenação com o G-7 (os países mais industrializados do mundo), Bruxelas quer elevar em vários níveis as restrições nos mercados de capitais, as medidas que já causaram mais danos e que têm maior potencial para asfixiar a economia russa. Além disso, pretende endurecer as restrições para a compra e venda de armas e de tecnologias vitais para o setor energético, em um pacote feito para conseguir o maior impacto possível, segundo o documento ao qual o EL PAÍS teve acesso. Pretende inclusive “ampliar as restrições a novos setores” e, em um inesperado golpe de efeito, Bruxelas recomenda excluir a Rússia de “acontecimentos culturais, econômicos e esportivos internacionais”, como “corridas de Fórmula 1, competições futebolísticas e a Copa do Mundo de 2018”, que deve ser organizada pela Rússia. Fontes diplomáticas minimizaram tais extremos, dizendo que ainda não estão decididos e podem ficar para a fase seguinte.

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A Europa começa a morder. Com veneno: a nova chefa da diplomacia europeia, Federica Mogherini, confirmou na terça-feira na Eurocâmara que as medidas estarão prontas na sexta ao ficar comprovado que o conflito na Ucrânia é “cada dia mais dramático”. Os países membros da UE se reunirão nesta quarta e na quinta para rematar os detalhes definitivos e darão sua aprovação – sem variações significativas, segundo as fontes consultadas – à proposta da Comissão, solicitada de maneira urgente pelos chefes de Estado e de Governo na reunião de sábado ao constatar que a Rússia entrou em um confronto que não abranda.

A Estônia pede bases da Aliança

A Estônia teme o impacto da crise ucraniana em seu próprio território. O país báltico, com 26% de população de origem russa, quer uma proteção permanente da OTAN, de que faz parte desde 2004. O presidente estoniano, Toomas Hendrik, fez o pedido para a Aliança Atlântica na terça, quando um jornalista o questionou sobre essa possibilidade. “Não deveríamos ter dois níveis de países da OTAN: os que têm bases permanentes e os que não têm. É um sinal equivocado que se envia ao potencial agressor”, assegurou em Oslo. O mandatário estoniano receberá nesta quarta-feira a visita do presidente norte-americano. Barack Obama expressará seu apoio ao país antes de viajar para Gales, para a reunião da OTAN.

Os aliados se comprometeram com a Rússia em 1997 a não instalar bases permanentes no antigo bloco do leste – a Estônia então ainda não fazia parte da organização – como símbolo da boa vizinhança com Moscou. Com o confronto entre a Rússia e o Ocidente na raiz da crise ucraniana, alguns membros da OTAN se perguntam sobre a validade desses acordos e advogam por reforçar a presença aliada no leste.

A opção da Aliança se situa, no momento, no meio do caminho. Sem instalar bases permanentes, a organização aprovará em sua reunião de Gales, que se realiza na quinta e sexta-feira, uma maior presença na região através de tropas semipermanentes que dissuadam um possível agressor. A OTAN realizará mais exercícios militares na região e manterá equipes suficientes para enfrentar qualquer contingência.

As palavras de Mogherini escoram a sensação europeia de que Moscou está em um caminho de difícil retorno. “Estamos diante de uma agressão. Temos que responder da maneira mais dura possível”, assegurou. Essa contundência tem maior significado ao vir da ministra das Relações Exteriores italiana, considerada a mais complacente com Moscou por seus colegas europeus.

A UE aprovou a rodada anterior de castigos no final de julho. Mesmo antes, com restrições mais suaves, conseguiu efeitos substanciais sobre a confiança dos investidores na Rússia. Esse novo aperto vai mais longe e, especialmente no âmbito financeiro, pretende realizar um aumento de grandes proporções. A medida mais dura de julho era a proibição aos bancos controlados pelo Estado de comprar e vender ações, bônus e outros instrumentos financeiros com prazos de 90 dias ou mais. Isso deixou cicatrizes em uma economia que beira a recessão, se é que não caiu nela. Agora, Bruxelas quer rebaixar os prazos “de 90 para 30 dias”, o que estrangulará ainda mais as vias de financiamento. Quer que as restrições afetem “mais tipos de [instrumentos financeiros] derivados”. E proíbe explicitamente “os créditos sindicados aos grandes bancos controlados pelo Estado e outras entidades”, segundo o documento, que fecha uma via de acesso aos mercados que as sanções anteriores deixavam aberta. O projeto impede também “o financiamento através de bônus, ações e empréstimos sindicados” de empresas de defesa e outras companhias de controle estatal “cuja atividade seja a exploração, produção e transporte de petróleo”.

As fontes consultadas mostram que essa bateria de medidas deixa praticamente secas as linhas de financiamento de setores básicos para Moscou.

Diferentemente dos outros projetos, mais prudentes e técnicos para não fechar as portas para uma solução diplomática, a Europa parece assim descartar que a Rússia dê marcha a ré na Ucrânia e age em consequência: endurece o tom e até prevê os próximos passos diante da possibilidade de um recrudescimento. Desse modo, deixa claro que as sanções continuarão por muito tempo. “Isso não é um toma lá e dá cá” após as represálias de Moscou às medidas anteriores, diz o documento da Comissão e o Serviço Exterior.

No próximo ano, a Rússia terá um gargalo sensacional nos mercados: o Estado deve refinanciar a dívida de seus bancos e empresas pelo valor de mais de 70 bilhões de euros (205 bilhões de reais). Os bancos privados precisam refinanciar 20 bilhões de euros (58 bilhões de reais), e as empresas, 67 bilhões de euros (196 bilhões de reais).

Na defesa, o documento pretende “remediar as inconsistências” das medidas aprovadas em julho relativas a novos contratos de exportação e importação de armas. Ficam assim em evidência polêmicas como a venda de fragatas por parte da França, segundo interpretam fontes diplomáticas. Além disso, Bruxelas pretende proibir exportações de vários produtos adicionais de uso civil e militar, especialmente “os quais a Rússia é mais dependente da UE”. A Comissão endurece também o acesso da Rússia às tecnologias sensíveis para sua indústria energética, sempre buscando a cumplicidade do G-7.

A UE aprovou também na terça-feira medidas para apoiar a Ucrânia. A Eslováquia abriu o canal que permitirá redirecionar para a Ucrânia parte do gás natural que recebe da Rússia, uma medida destinada a combater o corte de gás imposto por Moscou a Kiev em junho.

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