Santos vira palco das artes cênicas ibero-americanas
O festival Mirada apresenta 40 espetáculos de 12 países da região na Baixada Santista. O Chile é o homenageado da vez
Havia um tempo em que mesmo os habitantes de um centro cosmopolita como São Paulo tinham de cruzar as fronteiras do país para se aproximar da cultura dos vizinhos. Hoje, basta ir a Santos, a pouco mais de 70 quilômetros da capital, para mergulhar em um festival que reúne na cidade litorânea o melhor do teatro ibero-americano. Fala-se do Mirada – Festival de Artes Cênicas de Santos, que acontece até 13 de setembro em teatros, praças, parques e monumentos da Baixada Santista, além de espaços do Sesc.
São 40 espetáculos, sendo 15 nacionais e 25 produções internacionais de 12 países da região: Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Espanha, México, Paraguai, Peru e Portugal, além do Chile – país homenageado nesta edição do evento. “Nosso objetivo é valorizar a produção teatral ibero-americana, projetando-a no mundo do todo. Essa é uma janela de projeção e uma oportunidade de aproximar o Brasil de seus laços com a América Latina, assim como de suas raízes ibéricas”, explica o diretor geral do Sesc, Danilo Miranda.
A curadoria é tarefa da instituição, que em 2010 acolheu a primeira edição do projeto inspirado no FIT, o Festival Ibero-Americano de Teatro de Cádiz, na Espanha. Há o cuidado de inserir o Mirada em um contexto nem experimental, nem tradicional, oferecendo “as mais novas tendências do teatro”. Para escolher os homenageados e selecionar as montagens mais interessantes do momento, o Sesc visita os principais festivais de artes cênicas da região, como o renomado Festival Ibero-Americano de Teatro de Bogotá.
Um destaques da programação deste ano, por sinal, vem da Colômbia. É o “13 sonhos (ou somente um atravessado por um pássaro”, uma ocupação do coletivo Teatro Odeón que passará por diferentes lugares. O público começa o trajeto em um bar e, em seguida, será conduzido a outros espaços da cidade.
A ditadura, que no Brasil completou 50 anos e é para a maioria dos países do continente um assunto também latente, é um dos temas abordados em espetáculos como o brasileiro “Walmor y Cacilda 64 – Robogolpe, do Teat(r)o Oficina e da Uzyna Uzona, de São Paulo.
Da Argentina, vem “Spam”, da Companhia Spregelburd/Zypce, em que um professor especialista em línguas mortas se vê envolvido em uma série de acontecimentos dos quais não se recorda ao acessar um spam de uma garota malaia. Com uma narrativa não linear, o espetáculo constrói uma narrativa não linear e mistura os universos real e virtual. Do Chile, o país homenageado, chama atenção “La imaginación del futuro”, da Companhia La Resentida, que recria os últimos dias de Salvador Allende.
E como a motivação de toda a iniciativa é um namoro cada vez mais sério entre brasileiros e demais latino e ibero-americanos, há uma montagem que não dá pra perder: “Nuestra Senhora de las Nuvens”, do coletivo brasileiro Clowns de Shakespeare, do Rio Grande do Norte. O espetáculo surge da necessidade de o grupo entender as semelhanças e diferenças entre o Brasil e os países hispânicos, investigando as relações entre memória e identidade e somando as experiências da ditadura e do exílio.
Miranda celebra esse esforço de reconhecimento e aproximação, que julga essencial para que o Brasil seja “pleno” culturalmente. “Você não gosta daquilo que não conhece”, diz.
Confira a programação completa do Mirada aqui.
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