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O Brasil será a principal escala do premiê japonês na América Latina

Shinzo Abe quer desenvolver laços comerciais, ampliar influência e pedir apoio diplomático

Macarena Vidal Liy
O primeiro-ministro, em um discurso em 20 de julho.
O primeiro-ministro, em um discurso em 20 de julho.T. Yamanaka (AFP)

Mal se encerrou o giro midiático do presidente chinês, Xi Jinping, pela América Latina, e já um pouco distante o empreendido pelo russo, Vladimir Putin, agora é a vez do Japão. O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, parte nesta sexta-feira para um giro de 11 dias pela América Latina e o Caribe que o levará ao México, Trinidad e Tobago, Colômbia, Chile e Brasil. O objetivo, segundo informa Tóquio, é desenvolver os laços diplomáticos e comerciais com uma região importante provedora de recursos naturais e com um mercado de consumidores de crescente poder aquisitivo. Mas também busca ampliar a influência e angariar apoio, especialmente para sua candidatura a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU no ano que vem.

A visita é a primeira de um chefe de Governo japonês à região em dez anos, desde a realizada por Junichiro Koizumi em 2004. Segundo afirmou o porta-voz do Executivo, Yoshihide Suga, a região adquire “uma importância cada vez maior para a economia japonesa pelo seu crescimento econômico e recursos naturais”. Os países da zona “também são importantes parceiros que compartemvalores básicos, como a liberdade, a democracia e o Estado de Direito, e juntos podemos contribuir para a paz e a prosperidade mundial”, acrescentou.

O Japão já conta com uma importante presença de suas empresas na região desde as décadas de 80 e 90, se bem que esse investimento se estagnou à medida que a economia japonesa se desacelerava. Mas à medida que o país, terceira economia do mundo, recupera o dinamismo, volta a prestar maior atenção à região, segundo explica Evan Ellis, pesquisador associado do Center for Strategic and International Studies (CSIS), dos Estados Unidos.

“Embora os bancos japoneses, incluindo o JBIC, não tenham na atualidade os recursos de seus homólogos chineses, as empresas japonesas têm a vantagem de uma maior experiência na região e, se poderia dizer, despertam um maior nível de confiança entre os latino-americanos do que a contraparte chinesa”, diz Ellis.

A etapa mais significativa da viagem para Tóquio será a última, o Brasil. O Japão é o quinto mercado para as exportações brasileiras e o Brasil, o sétimo para as japonesas. Está prevista uma reunião de Abe com a presidenta Dilma Rousseff em 1 de agosto. O diário japonês Yomiuri Shimbun publicou que o chefe do Executivo japonês divulgará planos de seu país para a melhoria da infraestrutura brasileira, como estradas e portos, com o objetivo de facilitar o aumento das exportações de grãos.

A agência japonesa Kyodo garantiu também que ambos os países poderiam chegar a acordos no setor petrolífero. Segundo um esboço divulgado por essa agência, o Japão oferecerá sua tecnologia para a construção de superplataformas flutuantes destinadas à exploração de poços petrolíferos. Essas plataformas, de uns 300 metros de comprimento por 100 de largura, teriam um custo de construção de 50 bilhões de ienes (1,8 bilhão de reais).

Ainda no Brasil, Abe fará um pronunciamento em São Paulo no qual exporá a política japonesa para a América Latina. O momento do discurso será significativo, já que ocorrerá apenas uma semana depois do encerramento da viagem de Xi Jinping, na qual os laços da China com a América Latina foram substancialmente reforçados. Não somente no aspecto econômico, mas também no político, por meio de acontecimentos como a cúpula dos BRICS em Fortaleza ou reuniões com países membros da CELAC (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos). Abe não vai querer ficar por baixo.

Nesse sentido, fontes governamentais do Japão indicaram à agência de notícias japonesa Kyodo que parte do objetivo do giro é conseguir o apoio da região às aspirações de Tóquio a um assento permanenteno Conselho de Segurança da ONU. A etapa-chave para isso será Trinidad e Tobago, onde Abe participará da primeira cúpula entre seu país e a CARICOM (Comunidade do Caribe). Cinco dos 14 membros dessa organização regional não reconhecem a República Popular da China, mas sim Taiwan, e Abe quer jogar essa cartada.

A viagem de Abe começará no México, um país com o qual o Japão mantém um acordo de livre-comércio desde 2005 e um intercâmbio comercial bilateral em torno de 22 bilhões de dólares anuais (48,8 bilhões de reais). O país asiático investiu 12 bilhões de dólares na nação da América do Norte, dos quais a metade chegou nos últimos três anos, e contempla com interesse possíveis oportunidades nas telecomunicações e energia, depois da recém-aprovada reforma do setor.

Na Colômbia, o primeiro-ministro japonês tratará das perspectivas para dar impulso ao acordo de livre-comércio que começaram a negociar em dezembro de 2012 e que provavelmente permitiria aumentar suas exportações a um dos principais mercados da região. Divergências em áreas como a redução de tarifas para produtos como os automóveis ou o aço constituíram até agora obstáculos difíceis de superar.

No Chile, país com o qual já mantém um acordo de livre-comércio, Abe abordará, entre outras coisas, o estado das conversações sobre o futuro Acordo da Associação Transpacífico (TPP), a ambiciosa área de livre-comércio de ambos os lados do Pacífico, na qual participarão 12 países.

Os meios de comunicação oficiais chineses dedicaram grande atenção ao giro de Abe, que se encerrará em 4 de agosto. Entre outros, o diário Information Times - segundo o qual o que o Japão busca é um assento permanente no Conselho de Segurança– afirma que o primeiro-ministro não terá êxito. “Em 2005 o Japão já lançou uma campanha maciça para conseguir isso, mas teve a forte oposição dos países vizinhos. As possibilidades de ganhar um assento num futuro próximo são agora ainda menores, dada a situação atual”, de tensões regionais, diz.

Na opinião de Ellis, independentemente dos motivos que Abe tiver para viajar pela região, “muitos na China veem o giro como parte de uma manobra mundial do Japão contra a China, algo conectado em sua mente, entre outras coisas, com as tentativas de Tóquio de envolver os EUA no lado japonês no conflito sobre as ilhas Diaoyu/Senkaku” que os dois países disputam.

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