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Cristina Fernández de Kirchner cria a secretaria do Pensamento Nacional

A oposição critica a instituição do cargo e a nomeação do filósofo situacionista Ricardo Forster

Francisco Peregil
A presidenta Cristina Fernández de Kirchner, em um ato oficial.
A presidenta Cristina Fernández de Kirchner, em um ato oficial.EFE

A presidenta da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, criou a Secretaria de Coordenação Estratégica do Pensamento Nacional, subordinada ao ministério da Cultura, mediante um decreto publicado terça-feira no Boletim Oficial do Estado. Para comandar o órgão, designou o filósofo situacionista Ricardo Forster, de 56 anos. Entre as filas da oposição a nomeação foi considerada um “presente tardio” a Forster e um gesto de “velho fascismo”.

O primeiro dos seis objetivos da Secretaria, segundo afirma o próprio Boletim, será “assessorar e elevar as propostas a serem consideradas pela Ministra da Cultura em questões de pensamento nacional e latino americano, em matéria de sua competência”. A nomeação teve a virtude de fomentar desde o primeiro dia o pensamento crítico nacional. Assim, o candidato presidencial da oposicionista União Cívica Radical, Ernesto Sanz, afirmou: “A um ano e meio de ir embora [o Governo de Fernández], podia ter nomeado alguém para administrar, não para pensar”.

O historiador e colunista do diário La Nación, Luis Alberto Romero, declarou: “Só falta pouco mais de um ano para este Governo. É muito pouco [tempo] para engendrar uma cultura nacional, apesar de ser suficiente para que alguns trabalhadores intelectuais se agarrem à teta do orçamento estatal”. Romero, que foi professor de Forster, acrescentou sobre o ex-aluno: "É uma pessoa muito inteligente e formada. Depois mudou um pouco. O mais notável é a secretaria que criaram para ele. Primeiro, pelo 'estratégico', uma palavra que teria usado [o general Juan Domingo] Perón, porque este Governo não pode coordenar estrategicamente nada. E depois está o velho carrossel do pensamento nacional, como se existisse um pensamento nacional e outro não nacional".

O jornalista Marcelo Longobardi afirmou na Rádio Mitre, pertencente ao grupo Clarín: “É inevitável que se pense em [George] Orwell e no famoso romance 1984, no qual criou um Ministério do Pensamento. E nos remete lamentavelmente à Venezuela, que tem uma instituição semelhante, de gente que coordena o pensamento nacional venezuelano. Podemos imaginar comissários políticos ou, como disse Julio Bárbaro, uma espécie de Ministério da Verdade. A reação frente a estes questionamentos por parte do senhor Forster e do Chefe de Gabinete foram reações no plano pessoal. Ninguém está discutindo a escolha do senhor Forster. Se está confundindo o debate querendo colocá-lo na figura de Forster. A ideia de uma secretaria que se dedique a estabelecer qual deve ser o pensamento de um país produz calafrios à Argentina”.

A única coisa que posso dizer é que olhem minha biografia acadêmico-intelectual para apagar do mapa qualquer alusão ao pensamento totalitário ou único. Ricardo Forster

Forster é um dos intelectuais mais destacados do grupo Carta Abierta, organização nascida há seis anos, em pleno enfrentamento do Governo com o setor rural e com os diários Clarín e La Nación. Desde 2008, o grupo se reuniu em muitas ocasiões e publicou 16 cartas. A última, difundida na semana passada, tratava do que já se tornou assunto de quase todas as análises políticas: as eleições presidenciais que acontecerão em outubro de 2015.

Quem Cristina Fernández de Kirchner apoiará dentro do kirchnerismo? Ela não disse. Mas o candidato que tem mais chances é Daniel Scioli, governador de Buenos Aires. E Scioli tem fama entre os mais fiéis kirchneristas de ser muito complacente com os “meios hegemônicos”, ou seja, com o grupo Clarín e com as grandes “corporações” capitalistas. Forster disse a título pessoal que Scioli não o representa. E acrescentou: “Confiamos que Cristina não está disposta a entregar anos de paixão, de sacrifício e de sonho a uma alternativa que simplesmente enclausure, sob o nome de outro homem que não tem nada a ver com a história do kirchnerismo”. A nomeação de Forster como secretário de Coordenação Estratégica do Pensamento Nacional pode ser interpretada como um apoio explícito de Fernández a Forster e um rechaço implícito a Scioli.

Por sua parte, Forster afirmou ao diário Clarín: “A única coisa que posso dizer é que olhem minha biografia acadêmico-intelectual para apagar do mapa qualquer alusão ao pensamento totalitário ou único. Qualquer pessoa que tenha honestidade intelectual e se dedique a ver o que escrevi ao longo de minha vida sabe que venho de uma tradição plural, democrática. E que para mim o pensamento, e neste caso o pensamento nacional, faz referência à confluência de tradições que formam a tradição argentina e sobre isso vou trabalhar como secretário, e com muito orgulho, no ministério da Cultura”.

A outra vertente da nomeação aconteceu nas redes sociais. Há quem entenda que Forster costuma usar uma linguagem demasiado barroca e empolada. Alguém criou um perfil falso com seu nome no Twitter e dali lança há meses frases que pretendem imitar as expressões de Forster. Ontem, as mensagens de “Forster de Peaple” se tornaram um trending topic nacional. Uma delas dizia: "Secretário de Coordenação Estratégica para o Pensamento Nacional. Entraram 140 caracteres". E outra: "Como SDCEPPNDMC me comprometo a criar um DDIPLCDM (Dispositivo Discursivo Interpessoal para a Comunicação de Massas) e nos entenderemos melhor".

O verdadeiro Forster insistiu, em declarações à agência oficial Télam, que seu objetivo será gerar "um debate aberto, um espaço aberto para discutir tudo o que é imprescindível discutir na Argentina de hoje".

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