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Ronaldo diz que sente vergonha da "incapacidade do Brasil"

Ex-jogador critica em entrevista à Reuters os atrasos do país para completar a infraestrutura prometida para o Mundial

Ronaldo em entrevista nesta sexta.
Ronaldo em entrevista nesta sexta.PAULO WHITAKER (REUTERS)

O ex-jogador Ronaldo Nazário, que evitava criticar a organização do Mundial no Brasil, mudou de discurso. Em entrevista à agência Reuters nesta sexta-feira, ele afirmou que se sente envergonhado pela “incapacidade” do país em completar a infraestrutura prometida para a realização da Copa do Mundo, que começa em exatos 19 dias.

"Em 2007, quando eles decidiram que a Copa do Mundo seria no Brasil, o presidente [Luiz Inácio Lula da Silva] assinou tudo e concordou em tudo e, em seguida, eles [ FIFA] chegam aqui e há essa burocracia, total confusão e atraso”, disse na entrevista feita nesta sexta-feira. “É uma vergonha. Estou envergonhado. Este é o meu país e eu o amo e não devemos transmitir esta imagem no exterior", acrescentou.

O Brasil tem apresentado dificuldades na entrega das estruturas para o Mundial. A pouco menos de um mês para a abertura do evento, em 12 de junho, um levantamento do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco) mostrou que apenas 38% do total das obras de mobilidade urbana, portos, estádios e aeroportos haviam sido entregues. O atraso na entrega dos estádios fez a FIFA ameaçar, a apenas seis meses do início dos jogos, deixar de fora a arena da Baixada, em Curitiba, que teve que realizar um plano de emergência para acelerar as obras que avançavam lentamente.

Mas as críticas de Ronaldo, que é também membro do Comitê Organizador local da Copa, foram vistas como uma guinada política do ex-craque, que chegou a defender o governo de Dilma Rousseff (PT), sucessora de Lula. No ano passado, a imprensa brasileira divulgou um vídeo dele gravado em 2011, em que ele minimizava as críticas de parte da população com os gastos para a Copa, expressas em manifestações por todo o país, e com a falta de projetos do Governo em áreas importantes como saúde e educação. “Tá sendo gasto também muito dinheiro em saúde, em segurança. Mas a gente vai receber a Copa do Mundo. Sem estádio não se faz Copa do Mundo. Não se faz Copa do Mundo com hospital”.

O novo discurso coincide com o de Aécio Neves (PSDB), o principal opositor de Rousseff nas eleições presidenciais de outubro deste ano. No mês passado, Ronaldo já dava indícios de que faria campanha para Neves, ao postar em seu Twitter uma foto com o futuro candidato tucano e uma legenda em que se referia a ele como “futuro presidente do Brasil”.

Na entrevista à Reuters, o ex-jogador de times como Corinthians, Milan e Barcelona, disse que o país enfrenta problemas de “corrupção e superfaturamento”. “Mas nós não podemos esquecer que o Brasil já não era perfeito antes da Copa do Mundo. Era a mesma coisa ou pior”, afirmou.

Jogadores polêmicos

Ronaldo não é o primeiro ex-craque do Brasil a causar polêmica durante a preparação para o Mundial. No mês passado, Pelé, o jogador mais importante da história do Brasil, afirmou que a morte de operários nas obras dos estádios é algo “normal”, após ser questionado sobre um acidente que levou à óbito um trabalhador na Arena Corinthians, popularmente conhecida como Itaquerão, no mês anterior. “O que aconteceu no Itaquerão, o acidente, é normal, coisa da vida, pode acontecer. Foi um acidente. Isso aí eu não acredito que assuste”, disse ele. “Mas a maneira como está sendo administrada a entrada e saída de turistas nos aeroportos do Brasil, isso eu acho que é uma coisa que está preocupando”, afirmou. Nove operários já morreram em obras da Copa.

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