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Protestos e morte de operário ofuscam visita de Rousseff a estádio da Copa

Série de manifestações por moradia e contra os gastos do Mundial e a morte de mais um operário nas obras em estádios, a nona no total, prejudica injeção de otimismo do governo em São Paulo

Dilma posa para fotos com trabalhador da Arena Corinthians.
Dilma posa para fotos com trabalhador da Arena Corinthians.NACHO DOCE (REUTERS)

O que era para ser um dia de injeção de ânimo do Governo brasileiro na opinião pública acabou se tornando mais um balde de água fria na presidenta Dilma Rousseff, a pouco mais de um mês do início da Copa do Mundo e em plena corrida eleitoral. O otimismo que possivelmente seria vendido na visita da governante ao estádio de abertura do Mundial, em São Paulo, foi ofuscado nesta quinta-feira por mais uma morte de operários nas obras dos estádios do torneio –a nona até agora– e por protestos de movimentos sociais por moradia e contra os gastos da realização da competição, reforçando também o alerta em relação a possíveis manifestações durante a Copa nos moldes das que reuniram dezenas de milhares de pessoas em junho de 2013.

Logo pela manhã, antes do embarque da presidenta a São Paulo, centenas de integrantes de movimentos sociais invadiram as sedes de três grandes construtoras na cidade: a Odebrecht, a Andrade Gutierrez e a OAS, todas responsáveis por obras de infraestrutura para o Mundial. Muros e painéis na entrada dos edifícios foram pichados e a segurança foi reforçada nesses locais. As principais reclamações dos protestos eram a construção de moradias populares e os gastos excessivos com a Copa, em detrimento da aplicação de recursos em áreas de maior carência. Uma das portas da Odebrecht, por exemplo, trazia a pichação “Copa das Tropas e das Empreiteiras”. As manifestações foram organizadas pelos Movimentos dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e dos Sem Terra (MST).

Os atos que trouxeram caos à circulação de pessoas nas redondezas fizeram com que a equipe do governo federal encaixasse na agenda de Rousseff um encontro com cinco representantes dos movimentos. Em cerca de 20 minutos, a presidenta esclareceu aos ativistas que as reivindicações seriam encaminhadas a programas de habitação do governo federal e que o Ministério das Cidades assumiria a situação. “As reivindicações foram apresentadas de forma pacífica”, resumiu horas depois o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, também do Partido dos Trabalhadores (PT) e um dos interlocutores.

A menos de um quilômetro do próprio estádio de abertura do Mundial, no bairro de Itaquera, por exemplo, há uma comunidade composta por 300 famílias que esperam moradias populares e convivem com esgoto a céu aberto e problemas de falta de luz. As obras de melhoria viária no entorno da Arena Corinthians, conhecida popularmente como Itaquerão, acabam moldando um bolsão de riqueza no meio de uma das áreas mais pobres da cidade. O bairro fica na zona leste de São Paulo, uma região onde vive 37% da população da capital paulista e que é a segunda mais densa da cidade. A área tem cerca de 300 favelas e registra a menor renda familiar de São Paulo.

Dilma visitou posteriormente as obras do entorno do Itaquerão, como as de um anel viário –e que, segundo o prefeito de São Paulo, deverão estar liberadas na próxima semana ao tráfego de veículos– e o estádio pouco depois, mas optou por não falar com a imprensa. A presidenta entrou no gramado e cumprimentou operários vigiada por dezenas de jornalistas, brasileiros e estrangeiros, que se aglomeraram em uma das laterais do gramado. Haddad acrescentou ainda que, para a presidenta, as obras no Itaquera serão um dos grandes legados desse Mundial.

Morte em Cuiabá

A quinta-feira, no entanto, terminaria pior. Mais uma morte nas obras de estádios foi anunciada, elevando para nove o total de vítimas fatais desde que o país foi escolhido como sede do torneio, em 2007. Muhammad Ali Maciel Afonso, de 32 anos, foi eletrocutado enquanto trabalhava no setor leste da Arena Pantanal, em Cuiabá (Centro-Oeste). Ele prestava serviços na instalação de equipamentos de tecnologia, informação e comunicação do estádio – que receberá quatro jogos da primeira fase do Mundial–, segundo informou em nota oficial a Secretaria Extraordinária da Copa do Mato Grosso (Secopa-MT). Peritos da Polícia Técnica local investigam as causas do acidente.

Antes, já haviam perdido a vida nas arenas da Copa quatro operários em Manaus, três em São Paulo e um em Brasília. Com a morte de Cuiabá, nada menos que um terço dos 12 estádios que participarão do torneio passou a registrar vítimas fatais durante a sua construção. O alto número de mortes levanta ainda questões sobre a aceleração das obras à medida que a Copa se aproxima e nem todos eles estão 100% prontos.

O Brasil virou o ano passado, por exemplo, com seis arenas ainda não entregues. Ainda faltam ser totalmente concluídas, além da Arena Corinthians e a Arena Pantanal, a Arena na Baixada (no estado do Paraná, sul); e o Beira-Rio (Porto Alegre, sul). A Arena Corinthians é o caso mais emergencial: sediará o jogo de abertura do Mundial entre Brasil x Croácia, em 12 de junho. A Arena da Baixada, por sua vez, deverá receber a visita de Rousseff nesta sexta-feira.

O acidente em Cuiabá também ajuda a esfriar o ânimo pela realização da Copa um dia após a convocação do técnico Luiz Felipe Scolari dos 23 jogadores que representarão o país no torneio. Algo que, no Itaquerão na tarde desta quinta, praticamente só pôde ser sentido na passagem de um carro com bandeiras e buzinando na saída dos jornalistas.

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