“A Copa não está isenta de tentativas de manipulação de jogos”
O diretor da Fifa diz que a entidade monitora jogadores e árbitros para evitar jogos arranjados Organizadores afirmam que estão preparado para os protestos
O alemão Ralf Mutschke (1959, Kaiserslautern), antigo diretor da Interpol, está há pouco mais de dois anos se encarregando de vigiar todos os aspectos relacionados com a segurança nas competições da FIFA em todo mundo e de proteger, como afirma repetidamente, “a integridade do futebol”. Notícias provenientes da Ásia a respeito de tentativas de suborno a jogadores e árbitros por um milhão de dólares colocam jogos arranjados, a um mês da Copa do Mundo, no topo de suas numerosas preocupações diárias. Mutschke atendeu ao EL PAÍS do seu escritório em Zurique.
Pergunta. A sua máxima prioridade como diretor de segurança da FIFA é lutar contra os jogos arranjados?
Resposta. A luta contra o arranjo e a manipulação de partidas é certamente uma prioridade máxima para mim. Devemos aumentar a consciência sobre esta marca e criar disputas no futebol mundial para poder nos defender melhor do ataque sustentado dos manipuladores e do crime organizado global. Devem participar nossos 209 membros. Como pode imaginar, falta ainda muito caminho para percorrer, mas fico contente de poder dizer que já vimos vários avanços. Só poderemos ter sucesso se o futebol estiver unido.
P. Em qual região do mundo o arranjo de jogos é especialmente preocupante?
R. A manipulação de partidas é, sem nenhuma dúvida, um problema global. Ocorre na Ásia, África, Europa e nas Américas. Um só caso já é demasiado. É triste, mas não há refúgios seguros para o arranjo, em nenhum lugar do mundo.
P. Como uma equipe de segurança luta contra esta ameaça em escala mundial? Quais são seus recursos mais valiosos?
R. Enfrentar a manipulação de partidas é uma tarefa complexa sem soluções rápidas ou fáceis. A prevenção é a chave para o sucesso, mas nos falta muito ainda. Oferecemos ferramentas de trabalho exaustivas para a prevenção, formamos os árbitros e exigimos que assinem declarações de integridade. Através da Interpol, oferecemos também cursos sobre aplicação da lei, com recomendações específicas para os países membros. Tratamos continuamente de chegar aos jogadores, árbitros e outros atores com ferramentas de e-learning e de sensibilizar os jogadores jovens desde as academias. Vimos inclusive jogadores sub-17 que foram contatados para manipular partidas. Resolver o problema significa parar aos delinquentes, investigar atos criminosos. Mas se não tem leis adequadas, é difícil.
P. Diria que existe o risco concreto de que algumas seleções aceitem estas ofertas no último jogo da fase de grupos na Copa do Mundo?
R. Há muitas aposta sobre o Mundial e muito dinheiro comprometido, de modo que devemos assumir que os manipuladores pensarão em manipular partidas da Copa do Mundo. Devemos estar alerta contra essa manipulação, preparar-nos bem e, com certeza, não achar que a Copa do Mundo está isenta. Há que aplicar a máxima proteção possível à competição. Faremos uma classificação (apoiada por dados de inteligência) de jogadores, árbitros e partidas de alto risco. Um dos critérios será o tipo de jogo que se trate: fase de grupos ou eliminatória.
P. No caso de que a FIFA tivesse a informação sólida sobre provável jogo sujo em um partido, qual seria sua resposta?
R. Há diferentes níveis de suspeita e muitas ações possíveis de nosso lado. A reação dependerá do que soubéssemos sobre o arranjo. Dado que a maioria só se detectará através das aposta ao vivo, perto do apito final, devemos nos concentrar em recolher provas. Terá funcionários de segurança da FIFA em todos os estádios, e a maioria tem um passado policial, de modo que saberão o que têm que fazer. Apresentaríamos o caso ao Comitê Disciplinar da FIFA.
P. Como continuaria a competição?
R. Não quero especular, porque teria tantos extremos que ter em conta… É um assunto muito complexo. Teoricamente, seria possível atrasar ou suspender um jogo. Mas como disse antes, este é um palco, o pior palco possível.
P. Jerome Valcke [secretário geral da FIFA] reconheceu no mês passado no Brasil que os atrasos na construção dos estádios não deixariam tempo para realizar todos os ‘testes de segurança’ previstos. Estes atrasos trazem algum risco para os torcedores?
R. Vivemos isto já na Copa Confederações (2013). Teve muito pouco tempo para preparar todas as medidas de segurança. Está claro que a entrega atrasada dos estádios está nos complicando a vida. Mas todos os estádios requerem a obtenção de um certificado de segurança. Não transigimos nesta matéria. Os estádios são seguros.
P. Quais expectativas a FIFA têm sobre possíveis manifestações na rua neste mês de junho no Brasil?
R. Respeitamos absolutamente o direito a expressar opiniões e a protestar enquanto seja de maneira pacífica e enquanto os direitos de todo mundo sejam respeitados. A diferença do ano passado, quando as manifestações pegaram todo mundo de surpresa, agora estamos preparados. Ainda tenho fé de que teremos uma Copa do Mundo maravilhosa.
P. Há provas sobre os rumores de que grupos radicais compraria entradas de partidos para causar alvoroço? Existe alguma maneira de opor a essa estratégia em um país democrático?
R. Isto é algo que poderia acontecer, a violência nas arquibancadas. Mas nossa política de venda de entradas faz com que os confrontos em massa dentro de um estádio sejam quase impossíveis.
P. Como a FIFA aborda o mercado negro de entradas, algumas das quais alcançam já preços astronômicos na Internet?
R. As entradas autênticas estão disponíveis exclusivamente no site oficial FIFA.com, mas indivíduos sem escrúpulos estão tentando vender entradas que podem, inclusive, não possuir, ou que são revendidas ilegalmente. Temos uma equipe especial trabalhando para combater essas ofertas ilegais. Não podemos aceitar que os autênticos torcedores sejam enganados desta maneira. Existe um alto risco de que os torcedores não consigam as entradas ou de que a FIFA cancele qualquer entrada verificada como ilegalmente revendida, impedindo o torcedor de entrar nas partidas. Já vimos alguns casos no Brasil. Logicamente, a decepção é enorme.
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