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PROCESSO DE PAZ NO ULSTER

Um juiz autoriza a estender por 48 horas a detenção de Gerry Adams

A polícia poderá seguir interrogando o presidente do partido Sinn Féin pelo assassinato de Jean McConville pelo IRA em 1972

Um homem caminha ante a delegacia de Antrim.
Um homem caminha ante a delegacia de Antrim.PETER MUHLY (AFP)

A polícia da Irlanda do Norte conseguiu nesta sexta-feira permissão judicial para seguir interrogando o presidente do partido Sinn Féin, Gerry Adams, por mais 48 horas em uma delegacia. A decisão imediatamente desatou uma feroz reação do número dois do Sinn Féin, Martin McGuinness, que acusou o Serviço da Polícia da Irlanda do Norte (PSNI, na sigla em inglês) de atuar contra Adams por motivos políticos.

O prolongamento do interrogatório pode indicar que há mais material contra Adams do que se pensava inicialmente. A polícia podia optar entre deixar Adams em liberdade condicional, deixá-lo em liberdade sem acusações, denunciá-lo pelo assassinato de Jean McConville ou, como acabaram fazendo, pedir ao juiz que prolongasse a detenção preventiva que, em qualquer caso, não poderá ultrapassar os 28 dias.

McGuinness lançou um duríssimo ataque contra o PSNI, elevando sensivelmente a tensão política na Irlanda do Norte. Disse compartilhar da opinião do líder do principal partido unionista, o DUP (Partido Democrático Unionista, em inglês), e do ministro principal, Peter Robinson, de que se a polícia tem provas de um delito e não atua é que está fazendo política; e também das declarações da ministra britânica para a Irlanda do Norte, Theresa Villiers, de que ninguém está acima da lei.

"Estou de acordo com as duas declarações, mas a realidade é muito diferente", disse. E citou vários casos nos quais assegura que a polícia tem provas suficientes para investigar, mas não o está fazendo, como na morte de 14 pessoas em Derry em 1972 pelas mãos de paraquedistas britânicos ou na morte de outras 11 em Ballymurphy em 1971. Ou em outros casos nos quais é o Governo britânico o que comete a "interferência política" que paralisa as investigações.

McGuinness repetiu assim as acusações feitas na véspera, dando conta de que há "forças obscuras", de que há "uma panelinha no PSNI que tem uma agenda, uma agenda negativa e destrutiva tanto contra o processo de paz como contra o Sinn Féin".

David Ford, ministro da Justiça da Irlanda do Norte e líder do neutro Partido da Aliança, que não se identifica nem com unionistas nem com nacionalistas, saiu em defesa da polícia. "Em quatro anos que estou como ministro responsável pela polícia não vi nenhuma prova de que esta atue sob critérios políticos. O que sim eu vi, desde então, é um montão de evidências de políticos de todos os lados tentando interferir na atuação policial", declarou.

Gerry Adams está preso desde a noite da quarta-feira e já passou duas noites na delegacia de Antrim (30 quilômetros a noroeste de Belfast). O líder dos republicanos norte-irlandeses apresentou-se de forma voluntária para ser interrogado por sua suposta participação no sequestro e no assassinato em dezembro de 1972 de Jean McConville, uma viúva de 37 anos e com 10 filhos. Ela foi acusada pelo IRA (Exército Republicano Irlandês) de colaboração com o Exército britânico, em um dos momentos mais turbulentos dos distúrbios na Irlanda do Norte.

Adams chegou a ser relacionado ao crime anos atrás por um de seus grandes amigos e um dos comandantes do IRA em Belfast, Brendan Hughes. Os dois se distanciaram por suas visões diferentes em relação ao Processo de Paz. Hughes disse a acadêmicos do Boston College que Adams ordenou o desaparecimento de Jean McConville. As suas palavras, que teriam de ser mantidas em segredo até a sua morte, se tornaram públicas em um livro publicado após o falecimento de Hughes em 2008. Outra terrorista do IRA e grande amiga de Hughes, Dolours Price, confirmou pouco antes de sua morte em 2013 que ela mesma colaborou na passagem de McConville pela fronteira com a Irlanda, embora existam versões contraditórias sobre se também teria apontado Adams como responsável por aquela operação.

A detenção de Adams tem encorajado a família de Jean McConville, que durante mais de 40 anos preferiu manter em segredo o que havia visto na tarde de dezembro de 1972. Embora um dos filhos, Michael, tenha declarado na quinta-feira que conhece os que sequestraram e mataram sua mãe, mas que não os revelará por medo de represálias, a irmã mais velha, Helen, disse depois que está disposta a falar.

“Se cooperar plenamente a respeito do assassinato de minha mãe inclui dar nomes àqueles que vi invadindo nosso apartamento, que arrastaram minha mãe e a levaram sob a mira de uma pistola e que estiveram diretamente envolvidos em seu desaparecimento e assassinato, então sim, estou disposta a dar nomes. Para mim não é atuar como informante, senão cumprir com minhas obrigações em relação à minha mãe”, declarou ao diário The Guardian e à BBC.

Helen McKendry (seu sobrenome de casada) assegurou que a família sabe que o PSNI tem ao menos 11 fitas com depoimentos de ex-membros do IRA, parte do material dos acadêmicos norte-americanos que durante anos gravaram conversas com combatentes nos distúrbios da Irlanda do Norte. As entrevistas foram realizadas sob a condição de que suas conversas não se tornariam públicas até as suas mortes.

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