Líder republicano é preso por um assassinato do IRA em 1972
A detenção de Gerry Adams na Irlanda do Norte está ligada ao sequestro e à morte de Jean McConville, uma viúva e mãe de 10 filhos
O presidente do partido Sinn Féin, Gerry Adams, foi detido pela polícia da Irlanda do Norte para ser interrogado pelo assassinato em 1972 de uma mulher católica acusada pelos republicanos de ser uma informante policial. Jean McConville, que tinha 37 anos e era viúva e mãe de 10 filhos, foi sequestrada em sua casa na região de Divis, um bairro no oeste de Belfast, por um grupo de 12 terroristas do IRA (Exército Republicano Irlandês) e levada a um ou vários cativeiros antes de ser executada. Seu corpo foi enterrado em uma praia da República da Irlanda, a 80 quilômetros de Belfast.
Adams recusou o que qualifica de “acusações maliciosas que se fizeram” contra ele em uma nota divulgada pelo Sinn Féin. “Embora nunca tenha me desvinculado do IRA e nunca o farei, sou inocente de tudo o que estiver relacionado ao sequestro, assassinato e enterro da senhora McConville”, enfatiza na nota o líder do braço político republicano, do qual sempre se pensou que chegou a comandar também o IRA, grupo terrorista já desmobilizado.
“Acho que o assassinato de Jean McConville e seu enterro secreto foi um erro e uma lamentável injustiça para ela e para sua família”, afirma o líder republicano. O IRA não admitiu sua participação no crime até 1999, após a assinatura dos acordos de paz da Sexta-Feira Santa de 1998, e o corpo de Jean McConville não foi encontrado até 2003. As investigações realizadas pela polícia da Irlanda do Norte depois do assassinato chegaram à conclusão de que ela não era uma colaboradora da polícia britânica.
“No mês passado já disse que me ofereci de forma voluntária a depor pelo caso de Jean McConville”, acrescenta Adams na nota divulgada por seu partido. E explica que assim o fez esta tarde ao se apresentar em uma delegacia do Serviço de Polícia da Irlanda do Norte (PSNI, na sigla em inglês) apesar de lhe “preocupar o momento escolhido”, enfatizou, em referência à proximidade das eleições europeias e regionais dentro de três semanas.
“Como líder republicano, nunca fugi de minha responsabilidade para construir a paz. Isso inclui enfrentar a difícil questão das vítimas e suas famílias. Até agora sempre que foi possível trabalhei para chegar a uma conclusão dos casos quando as vítimas e suas famílias entraram em contato comigo. Embora eles possam não estar de acordo, isso inclui a família de Jean McConville”, acrescentou.
No mês passado, Ivor Bell, de 77 anos e um dos líderes do IRA nos anos 70, também foi acusado pela polícia em relação a esse assassinato. Outras pessoas, como Adams agora, foram presas para ser interrogadas, embora ainda não tenham sido denunciadas formalmente.
As acusações contra Bell se baseiam no trabalho desenvolvido por investigadores do Boston College, nos Estados Unidos. Trata-se de uma série de entrevistas particularmente francas de antigos paramilitares, tanto republicanos católicos como lealistas protestantes. O objetivo dessa instituição educacional era criar uma história oral dos distúrbios da Irlanda do Norte a partir do depoimento de seus protagonistas.
Os paramilitares que participaram dessas entrevistas receberam garantias de que suas revelações não se tornariam públicas antes de suas mortes. No entanto, após uma série de denúncias nos tribunais dos Estados Unidos, o conteúdo de algumas das entrevistas foi entregue às autoridades.
O de Jean McConville é um dos 16 casos de desaparecidos durante os distúrbios da Irlanda do Norte investigados pela chamada Comissão Independente para a Localização dos Restos das Vítima, iniciada em 1999 por um acordo entre os governos de Dublin e de Londres no âmbito do processo de paz no Ulster.
Ainda hoje continuam sem ter sido encontrados os corpos de sete das 16 vítimas consideradas desaparecidas.
A líder adjunta do Sinn Féin, Mary Lou McDonald, declarou nesta quarta-feira que o momento escolhido para a detenção do líder republicano, a três semanas das eleições europeias e autárquicas, o leva a pensar que “essa última decisão obedece a razões políticas e tem o objetivo de prejudicar Gerry Adams e o Sinn Féin”. Na nota do partido republicano, seu presidente explica que “o Sinn Féin assinou as propostas do (mediador norte-americano) Haas para enfrentar o passado”.
“Embora respeite o direito das famílias se desejarem buscar reparos pela via judicial, é responsabilidade dos dois governos e dos partidos políticos enfrentar todas essas questões e entrar em acordo sobre um processo que situe as vítimas no centro de tudo isso”, acrescenta Gerry Adams.
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