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Brasil e Bolívia disputam a culpa pelas inundações na região Norte

Mais de 87.000 pessoas estão desabrigadas. A Bolívia culpa as usinas de Santo Antônio e Jirau pelo aumento do nível da água

Moradores e a Defesa Civil do Acre tentar salvar seus pertences.
Moradores e a Defesa Civil do Acre tentar salvar seus pertences. Reuters (STRINGER/BRAZIL)

As inundações na região Norte do Brasil já afetam mais de 85 mil pessoas, que foram removidas de suas casas em decorrência do aumento do nível dos rios da bacia amazônica. Em Porto Velho, capital de Rondônia, as águas do Rio Madeira estão a mais de 19 metros acima do seu patamar histórico. Em Rio Branco, que é cortada pelo Rio Acre, o rio está 16 metros acima do normal. Como se trata de uma região sem grandes diferenças de relevo, a água acerta em cheio as populações das capitais, mas também causa seu impacto no interior e nas plantações, que são em grande parte de gêneros da agricultura familiar, como feijão, mandioca e frutas.

O diretor de Hidrologia e Gestão Territorial do Serviço Geológico do Brasil, Thales Sampaio, atribui o aumento dos níveis do Rio Madeira e seus afluentes às chuvas no Peru e na Bolívia. “Nunca foi registrado em 110 anos de história de medição em Amazonas um volume tão alto de água. Para se ter uma ideia, a vazão do Madeira é 31 vezes maior hoje que a do Rio São Francisco. Vai demorar pelo menos 35 dias para que as águas voltem para o seu nível normal”, diz Sampaio.

No dia 7 de abril está marcada uma reunião entre o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo, e o seu par boliviano, David Choquehuanca. Segundo a assessoria de imprensa do Itamaraty, o encontro, porém, terá uma pauta ampla, não sendo centrado no caso das inundações. A Bolívia alega que o refluxo das usinas do Rio Madeira, Jirau e Santo Antônio, causaram a cheia e nesta terça-feira a Justiça de Rondônia apoiou essa versão ao determinar que os consórcios construtores paguem uma assistência para moradia, alimentação e saúde da população afetada.

Para Sampaio, a operação dessas usinas não interfere no volume de águas do Rio Madeira. “Essas usinas foram construídas com a tecnologia de estado da arte do modelo fio d’água, que não acumula água e aproveita a vazão do rio para gerar energia. Essa associação é absurda”, diz. De acordo com Gustavo Ribeiro, do núcleo de Manaus do Instituto Nacional de Meteorologia, as chuvas dos últimos três meses estão dentro da média histórica. “O que aconteceu foi um aumento substancial do degelo das montanhas bolivianas e peruanas, que estão a mais de 4.000 metros de altitude e abastecem a bacia amazônica”, afirma.

Em Rondônia, a Defesa Civil já está há 33 dias auxiliando famílias da região, com uma equipe de 1380 pessoas, incluindo bombeiros, médicos, psicólogos, entre outros. Já foram registrados 15 casos de leptospirose em Porto Velho. Diferentemente dos bolivianos, os pecuaristas rondonienses conseguiram remover o gado das áreas inundadas – e o prejuízo até o momento é de pouco mais de 40 cabeças de gado.

De acordo com o coordenador da Defesa Civil de Rondônia, Coronel Lioberto Caetano, as famílias removidas em Porto Velho estão ficando alojadas provisoriamente em escolas, que tiveram de paralisar as aulas.

Há três semanas, aviões da Força Aérea Brasileira ajudam no transporte de alimentos e remédios para o Acre, cuja única ligação com o restante do Brasil, a BR-364, está com quatro pontos de alagamento, com um nível de um metro de água. Apenas caminhões autorizados pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte podem passar por esses trechos, preferencialmente carregados com alimentos e combustível.

A secretária-adjunta de Comunicação do Acre, Andrea Vilio, afirmou em entrevista por telefone ao EL PAÍS que a situação do combustível está normalizada neste momento no Estado. “Há três semanas, quando as inundações começaram por aqui, parecia o apocalipse: todo mundo correu aos postos para abastecer e os combustíveis acabaram. Agora, as duas empresas que cuidam do abastecimento de gás de cozinha estão com uma cota diária do produto para seus distribuidores”, afirma ela. As famílias desalojadas do Acre estão ficando em um Parque de Exposições e num Ginásio. A cidade de Manicoré, no Amazonas, está com as aulas paralisadas há 60 dias e este é o Estado que conta até agora com o maior número de desabrigados, com cerca 67.000 pessoas afetadas.

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