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Na Bolívia, cheia afetou 75.000 famílias e pode ter matado 900.000 gados

Organizações do país pedem que o presidente Evo Morales exija do Brasil uma compensação pelos danos, que podem chegar a 180 milhões de dólares em sete províncias

As vozes que pedem ao Governo boliviano que exija uma compensação do Brasil aumentam devido à situação de desastre no departamento de Beni, praticamente alagado por causa do refluxo de águas das represas hidrelétricas no rio Madeira e também pelas torrenciais chuvas e o transbordamento dos caudalosos rios da região amazônica, entre janeiro e março.

Organizações ambientalistas como o Foro Boliviano de Meio Ambiente (Fobomade), a Liga de Defesa do Meio Ambiente (Lidema), a Câmara Agropecuária do Oriente, a pesquisadora Sarela Paz, autoridades do Governo de Beni e parlamentares reiteraram nas últimas horas sua encomenda para que o governo reclame a seu homólogo brasileiro pela inundação que afeta sete das oito províncias de Beni, o segundo departamento de maior extensão territorial após Santa Cruz.

Uma falha do Tribunal Ambiental e Agrário da Corte de Justiça de Rondônia, que atribui responsabilidade pelas inundações nesse país às represas hidrelétricas do rio Madeira, que delimita a fronteira no nordeste boliviano, confirmou o critério de um grande número de entidades e cidadãos de que as atuais inundações, as piores na história de Beni, estão muito relacionadas com as represas brasileiras.

“Parece-nos extraordinário que as autoridades bolivianas sigam o jogo dos consórcios hidrelétricos do Brasil”, afirmou o coordenador de Monitoramento Ambiental da Lidema, Marco Ribera, em declarações ao jornal Página Sete. “Achamos que é uma falta de responsabilidade, quando nesse país já se tomaram medidas judiciais que responsabilizam a Jirau e Santo Antônio e, aqui na Bolívia, as autoridades não atuaram”.

“Com esta falha (do tribunal brasileiro) fica plenamente comprovada a responsabilidade das hidroelétricas no desastre ambiental que está afetando também Beni”, expressou o deputado de Convergência Nacional Rubén Darío Rojo, que propõe que o Estado deva exigir um ressarcimento às empresas que administram as duas represas.

“A consequência foi muito grande para o setor produtivo e para as populações de Beni”, declarou à imprensa local o presidente da Câmara Agropecuária do Oriente, Julio Rodas, ao advertir que se isso não for mudado, a situação “pode ser repetida nos próximos anos”.

O Governo de Beni ressaltou que as perdas preliminares por causa das inundações se aproximam aos 180 milhões de dólares, cálculo que abarca a morte de 250 mil gados e toda a produção agrícola de sete de suas províncias. Quando as águas baixarem será preciso contabilizar o número de casas destruídas pelas águas, as estruturas prejudicadas, a perda de outros animais, além de dar atenção à saúde das 75.000 famílias atingidas.

“As cifras que temos agora são preliminares. Com a chegada das águas às partes baixas de Beni calculamos maiores perdas: calculo que o gado morto chegará às 900.000 cabeças”, explicou à rádio Erbol de La Paz o secretário geral do Governo, Raúl Roca.

As autoridades do Governo boliviano informaram que se espera um relatório técnico científico do Brasil e, em um período de três semanas, poderá contar também com um estudo elaborado pelo serviço da Hidrografia Naval em torno dos transbordamentos dos rios afluentes ao Madeira.

O ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, explicou durante uma entrevista, nos meios governamentais de comunicação, que as águas “atingem as represas e retornam ao território boliviano”, especificamente no departamento de Pando.

O governo informou que na reunião que fará em 7 de abril com o chanceler brasileiro vai considerar, além do assunto das represas, as negociações em curso sobre uma renovação do contrato de venda de gás boliviano ao Brasil, o maior mercado para seu principal produto de exportação.

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