_
_
_
_

O Vaticano reforça o controle de suas finanças

O papa cria dois órgãos para administrar de forma “fiel e prudente” e ganhar credibilidade depois dos escândalos O arcebispo de Sydney, George Pell, será o secretário de Economia do Vaticano

Os dados alinhados a seguir dizem muito sobre a opinião que o papa Francisco tem da hierarquia católica. No domingo, durante a missa que celebrou em conjunto com os 19 cardeais que havia nomeado no dia anterior, Jorge Mario Bergoglio lhes preveniu: “Os cardeais –e isso eu digo a vocês– entram na Igreja de Roma, não em uma corte. Evitemos hábitos e comportamentos cortesãos, intrigas, fofocas, grupinhos, favoritismos preferências…”. Neta segunda-feira o papa criou dois novos órgãos –uma Secretaria de Economia e um Conselho para a Economia– com a missão de administrar, de modo “file e prudente”, as finanças da Santa Sé depois dos graves escândalos que marcaram a renúncia de Bento XVI. À frente da secretaria –uma espécie de ministério– estará o cardeal australiano George Pell, atual arcebispo de Sydney, mas o Conselho será formado em partes praticamente iguais por prelados e laicos. Junto com oito cardeais e bispos, Bergoglio escolherá pessoalmente sete laicos de vários países com experiência em administração e finanças. O objetivo parece claro. Ir lançando luz, embora pouco a pouco, ao que durante séculos o Vaticano foi ocultando: as lutas de poder e os seus enormes rendimentos.

A ladainha de tudo aquilo que os cardeais não devem fazer é justamente o que os documentos roubados de Joseph Ratzinger demonstraram que era prática habitual. Os altos membros da cúria pareciam estar mais preocupados em disputar o poder mediante guerras internas do que com sua verdadeira missão. Daí que, mediante um Motu proprio – ou decreto pontifício –, Jorge Mario Bergoglio tenha achado por bem refrescar-lhes a memória: “Os administradores têm o dever de cuidar meticulosamente do que lhes foi confiado, assim como a Igreja tem consciência da responsabilidade de tutelar e gerir com atenção seus bens, à luz de sua missão de evangelização e com especial atenção aos necessitados”.

No fundo, como sempre desde que Francisco se sentou na cadeira de Pedro, surge o debate sobre se o IOR –o Instituto para as Obras da Religião, mais conhecido como o banco do Vaticano– tem motivo para existir ou está condenado ao desaparecimento.

A reestruturação da área econômica do Vaticano, segundo explicou seu porta-voz, o padre Federico Lombardi, tem duas funções principais. Uma é lançar credibilidade e transparência às contas e aos bens do Vaticano – que não são exatamente poucos– e a segunda, e talvez mais importante ainda, é a de “investir melhor os recursos do Vaticano entre os pobres e marginalizados”. Daí o nome do Motu proprio —Fidelis dispensator et prudens (administrador fiel e prudente)— e também sobretudo o detalhe nada pequeno de criar dois órgãos que se complementam e se vigiam, incluindo, além do mais, olhares diferentes dos da cúria. O documento explica que a Secretaria de Economia —cujo número 2 será o sacerdote espanhol Lucio Ángel Vallejo– vai pôr em andamento as indicações do Conselho, que se reunirá “periodicamente para preparar e analisar informes sobre as atividades econômicas da Santa Sé”. De fato, o Conselho vem a substituir aquela comissão chamada de G-15 por Francisco no início de seu pontificado para que o informasse dos problemas organizacionais e econômicos da Santa Sé. A secretária, ou ministério, agora criada terá “autoridade sobre todas as atividades econômicas e administrativas da Santa Sé e do Estado do Vaticano”. Vai também elaborar um orçamento anual e terá atribuições sobre os recursos humanos. Quanto a esse aspecto, e segundo se depreende de uma carta assinada pelo secretário de Estado, Pietro Parolin, divulgada pelo diário Il Messaggero, o Vaticano pôs em andamento uma série de medidas para conter e reduzir os gastos, que incluiriam o congelamento das promoções e salários dos funcionários, bem como a suspensão da renovação de contratos.

 

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_