“Os gays não são semideuses. A maioria é fruto do consumo de drogas”
O deputado federal Jair Bolsonaro, favorável à pena de morte, a limitar a procriação dos mais pobres e abertamente homofóbico, ambiciona a presidência da Comissão de Direitos Humanos
O deputado federal e militar da reserva Jair Bolsonaro (PP) concede uma entrevista atrás da outra. Desde que se autoproclamou candidato à presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, ele entrou no olho do furacão. Os partidos de esquerda veem com receio a possibilidade de repetir um mandato ainda mais polêmico que o do pastor evangélico Marco Feliciano (PSC), mas Bolsonaro cresce diante da adversidade. A cada entrevista, eleva o tom das suas afirmações homofóbicas, elitistas, racistas e incitadoras da violência. Nesta entrevista ao EL PAÍS, ele conta que pretende ser o representante dos direitos humanos no Brasil. Chama a presidenta Dilma Rousseff de terrorista, considera os gays produto do consumo de drogas e defende a cadeira elétrica para os criminosos. As únicas minorias que ele pretende defender são as que ele considera "decentes": os cadeirantes, autistas e deficientes.
Pergunta: A sua candidatura é só uma medida de pressão para conseguir a Comissão de Minas e Energia?
Resposta: Sim, eu não faço parte desse jogo, mas eu agora estou no jogo. Quando me lancei candidato foi porque havia possibilidade dessa comissão ir para o nosso partido. Eu conversei com vários parlamentares do meu partido e todos concordaram, ninguém quer ir para lá. No meio do caminho, quando a imprensa divulgou que eu seria candidato, o PT resolveu entrar no jogo. Aí meu partido propôs a troca. Mas o PT não quer abrir mão de Minas e Energia e tampouco que eu seja presidente.
P. Para o seu partido a Comissão não importa nada, é só um jogo político?
R. Não é para o meu partido. A Comissão de Direitos Humanos sempre foi uma das últimas a serem escolhidas.
P. E por que foi sempre assim?
R. Porque os parlamentares preferem comissões que são mais importantes para eles como transporte, agricultura, minas e energia, justiça, tributação e finanças... São comissões que dão visibilidade.
P. Bom, nos últimos tempos, a Comissão de Direitos Humanos foi alvo de manchetes diárias...
R. Esteve nas manchetes pela maneira como o presidente [Marco] Feliciano a conduziu. Eu agora quero, caso consiga a comissão, dar uma nova dinâmica para ela.
P. Por que o PT não quer você como presidente?
R. Eles não querem porque, segundo eles, eu não represento os direitos humanos no Brasil.
P. E você concorda?
R. Concordo. A maneira como eles induzem a política de direitos humanos, eu sou completamente contra.
P. O que está errado na maneira de o Governo orientar a política de direitos humanos?
R. Qual é a idade penal na Espanha? Não sei como é a violência por aí por parte de moleques de menos de 18 anos, mas aqui no Brasil praticamente não existe pena. Há uma molecada de 17 anos que são criminosos por esporte. Então se reduzir a idade penal vai sobrar cadeia para eles.
P. Mas os dados da Fundação Casa de São Paulo, por exemplo, certificam que apenas 1,5% dos internos são realmente responsáveis de algum crime maior, como o homicídio. Não é um percentual pequeno?
R. Não concordo contigo. Porque o roubo é uma violência, o estupro é uma violência que eu equiparo quase com o homicídio. Não existe isso de reduzir a idade penal apenas para o homicídio. Eu prefiro a cadeia cheia de vagabundo ao cemitério cheio de inocentes.
P. Mas nas cadeias do Brasil, em Pedrinhas por exemplo, há muitos internos que ainda não foram julgados...
R. Pedrinhas é o melhor presídio do Brasil. Se quiser desligar o telefone, pode desligar. Você quando comete um crime tem que pagar por ele. Não é para ir a um spa, para ter um retiro com cinco refeições por dia, médico, dentista, com biblioteca... Não. Ele tem que ir para o presídio para pagar pelo seu crime.
P. Se o senhor presidir a Comissão quais seriam suas prioridades?
R. Eu pretendo ecoar, falar para o povo brasileiro do mais importante: a redução da idade penal e de uma política de planejamento familiar, de reduzir o número de filhos dos mais pobres. Porque os mais pobres têm bolsas [benefícios] que os estimulam a terem mais filhos. Então, gente sem cultura acaba tendo mais filhos para ganhar 70 reais por mês. Todos esses aí vão ser eleitores do futuro para o PT. Uma terceira proposta seria uma luta para revogarmos o estatuto do desarmamento. Porque o governo desarmou as pessoas de bem, mas a bandidagem está cada vez mais armada. E o cidadão não tem como se defender.
P. Você vê realmente uma ligação das suas propostas com questões de direitos humanos?
R. As três têm a ver. Quando você bota um menor na cadeia, você consegue que as pessoas de bem não sofram violência. Quando você fala de planejamento familiar, vai ter muita criança que deixará de nascer que não teria a mínima dignidade nem condições no caso de nascer. Com o rearmamento, muita gente vai dormir tranquila em casa porque vai ter uma arma para se defender.
E eu também defendo a pena de morte. Se levar o cara para a cadeira elétrica ele nunca mais vai matar, nem vai assaltar.
P. Mas você também sabe que a pena de morte não é garantia de uma diminuição do índice de criminalidade.
R. Nunca vi um morto voltar a cometer um crime. Se com pena de morte a criminalidade aumenta 10%, sem pena de morte aumenta para 50%.
P. Seu partido tem as siglas de Partido Progressista, mas a sociedades em geral estão evoluindo para o lado oposto aos valores que você defende.
R. Eu não vou mudar minha opinião para ganhar simpatias. A sigla é para chamar a atenção. O nome não tem nada ver... meu partido e só um nome.
P. O senhor não concorda que o homossexual tenha mais direitos que o heterossexual. Mas concorda que os homossexuais sofrem, além da violência endêmica do país, preconceitos e agressões pela sua condição?
R. Os homossexuais querem se passar por vítimas, querem superpoderes. Qualquer homossexual que morre no Brasil, logo a mídia está dizendo que é homofobia. Há muitos que são mortos pelos próprios colegas ou em locais de prostituição, ou por overdose. Ao morrer, os ativistas dizem que é homofobia. No Brasil dez mulheres por dia são assassinadas por seus parceiros, isso é muito mais grave.
Os crimes de homofobia tem que ser tratados da mesma forma que qualquer outra morte. Quantos heterossexuais morrem por dia? Morrem muitos mais que homossexuais.
P. Mas se o povo fosse educado para respeitar a diversidade não teríamos menos mortes?
R. Não concordo. Quem pensa dessa maneira de respeitar é quem quer levar essa matéria para as escolas para transformar crianças de seis anos em homossexuais. Ao ponto que daí facilita a pedofilia no Brasil.
P. Mas você acha que uma pessoa se transforma em homossexual?
R. A imensa maioria vem por comportamento. É amizade, é consumo de drogas. Apenas uma minoria nasce com defeito de fábrica. Aqui no Brasil se tem a ideia de que quem for homossexual vai ter sucesso na vida. As novelas sempre mostram os gays bem sucedidos, que trabalham pouco e ganham muito, têm carrões...
P. Em troca, o noticiário mostra como os gays podem ser vítimas da sua condição...
R. Mas você... Você é gay por acaso?
- Não.
Ah, tudo bem. Já tem pena para isso. Se houver motivo fútil a pena é elevada, tem agravante. Mas vocês querem o quê? Levar a PLC122 (projeto que criminaliza a homofobia) ao Código Penal? Só porque alguém gosta de dar o rabo dele passa a ser um semideus e não pode levar porrada...?
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