Brasil tem o desafio de vender otimismo a investidores céticos em Davos
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que a chave do crescimento neste ano é o crédito. Nesta sexta, Dilma Rousseff tenta reforçar a confiança do mercado
Vender otimismo num momento em que o Brasil ganhou a desconfiança geral do mercado não é uma tarefa fácil, mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, cumpriu a tarefa que vem desempenhando desde os tempos do governo Lula. Durante o painel sobre a crise de meia idade dos BRICs, que aconteceu nesta quinta-feira, Mantega disse que a recuperação mundial vai ajudar o Brasil a crescer. “O investimento vai puxar a economia”, prevê o ministro, que lembrou a expansão de 6,5% dos investimentos em 2013, puxados, principalmente, pelas concessões em infraestrutura. “O Brasil já tem mercado consumidor avançado e expansão da classe média. Para ativar mercado no Brasil, falta crédito”, avaliou o homem forte da economia da presidenta Dilma Rousseff.
Oficial demais a mensagem para alguns, mas o presidente do Bradesco, o segundo maior banco privado do país, Luiz Carlos Trabuco, pareceu estar em sintonia com Mantega, durante a sua passagem pelo encontro de Davos, onde conversou com jornalistas brasileiros. “É hora de criar condições para que outros ocupem o lugar do BNDES”, disse ele em entrevista ao portal da revista Veja, na cidade dos alpes suíços, referindo-se ao banco oficial brasileiro que é o principal responsável pelo financiamento de obras de infraestrura. Um dia antes, disse ao jornal Valor que os bancos privados iriam ganhar fatias de mercado em 2014 e 2015. Se o lema para entender os fatos é sempre o surrado “follow de money”, os bancos brasileiros podem cobrir parte da lacuna apontada por Mantega.
A equação, em todo caso, não é tão simples como parece. Nesta quinta-feira, o jornal Financial Times destacou que ativos de estrangeiros no Brasil (capital direto e de curto prazo) perderam valor equivalente a 285 bilhões de dólares nos últimos três anos em função da variação cambial, principalmente. Fatores como esse vêm aumentando o time de investidores internacionais céticos.
Não por acaso, a presidenta Dilma Rousseff decidiu ir por primeira vez ao Fórum de Davos, no seu último ano de mandato, para defender sua política econômica e trabalhar para restaurar a confiança. Rousseff deve comparercer ao encontro nesta sexta-feira, para retomar a fé dos cardeais do mercado.
Nesta quinta, o Banco Central já começou o trabalho de tranquilizar “os nervosinhos”, (como Mantega se referiu ao mercado há algumas semanas), com a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que trouxe explicações sobre a alta de juros na semana passada, que passou de 10% para 10,5%. A ata deixou claro que o BC manterá o remédio amargo dos juros ascendentes para debelar a inflação, que resiste, ainda mais em um ano que concentra eleições, quando o gasto público sobe, e com eventos como a Copa do Mundo. O documento revela, por exemplo, que a decisão de subir em 0,50 ponto porcentual a taxa foi unânime do colegiados, e reconhece que a inflação continua alta, acima da meta da inflação, um tom diferente de outras atas, que demonstravam maior tranquilidade com os rumos do dragão inflacionário. “É, de longe, a melhor ata apresentada pelo BC neste Governo”, diz Fábio Pina, economista-chefe da Federação do Comércio do Estado de São Paulo. O governo, assim, estaria deixando de jogar para a torcida, e rendendo-se ao mercado que vinha cobrando medidas mais enérgicas para que a equipe econômica provasse que de fato estava levando em conta o aumento de preços generalizado. Em Davos, Mantega reforçou a mensagem: “a prioridade do Governo é o controle da inflação”.
O Governo já havia dado demonstrações de que estava saindo da defensiva para deixar de drenar a confiança na economia, ao admitir que abriria mão de expedientes “criativos” para fechar as contas públicas, como o superávit primário, no final do ano passado. Agora, trabalha para não perder o capital que ainda lhe resta de “país do futuro”.
A bolha imobiliária
O Brasil também foi assunto, uma vez mais, para o economista Robert Schiller, que esteve em Davos, e foi entrevistado pelo Wall Street Journal. Questionado sobre os países que estavam claramente vivendo bolhas imobiliárias, ele novamente se referiu ao Brasil. “E eles não reconhecem que existe bolha, eles negam, o que deixa mais claro que a bolha existe”, disse Schiller. Ironicamente, é o excesso de otimismo dos brasileiros na economia que alimenta fenômenos como esse. Num país que gerou mais de 1 milhão de empregos no ano passado, a máxima da “bipolaridade”, dita por Marcelo Neri, ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, durante o Fórum de Davos, na quarta-feira, é válida. Segundo ele, o país vive uma situação bipolar: excesso de otimismo da populacao, e excesso pessimismo dos empresários. Some-se a esse último grupo, os investidores internacionais…
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