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No Brasil, ajustes precisam ser feitos “agora ou nunca”

Sem correção de desequilíbrios, apontam especialistas, crescimento de 3,7% em 2016, previsto pela instituição, é impossível

Carla Jiménez

O ritmo de “devagar e sempre” da economia brasileira vai se manter neste ano, segundo o relatório do Banco Mundial, que prevê um crescimento “modesto, mas consistente”, de 2,4% do PIB em 2014, e de 2,7% em 2015. Surpreende, entretanto, o otimismo da instituição  com o futuro do país, ao descrever que o Brasil sairá desse resultado neste ano, “acelerando para 3,7% em 2016”. A melhora das exportações, assim como do consumo interno, viriam a colaborar para esse resultado.

 A projeção é vista com cautela por economistas, num momento em que o país debate a falta de ajustes na política econômica do Governo Dilma. “Só vejo esse crescimento (de 3,7%) num governo de Eduardo Campos ou de Aécio Neves”, diz Sérgio Vale, economista da MB Associados, em referência aos adversários políticos da presidenta Rousseff na corrida eleitoral deste ano. Campos é o potencial candidato do PSB, e Neves, do PSDB. “Rousseff sinalizou que não há preocupação concreta com a inflação e faltou firmeza nas concessões, criando um processo de desconfiança do investidor”, diz Vale.

 Luís Suzigan, economista da LCA, acredita que o Brasil tem sim potencial para crescer entre 3,5% e 4% na segunda metade desta década, mas para alcançar esse resultado é preciso ajustar desequilíbrios decorrentes de mudanças no ambientel global, “mas também associados a algumas barbeiragens no âmbito interno”, que demandam ações do governo para evitar retrocessos. “A situação fiscal é o que mais preocupa. Os ajustes não precisam ser draconianos, como os que foram implementados recentemente na Europa, por exemplo, mas precisam dar maior consistência ao manejo das políticas publicas a longo prazo, revigorando a confiança corporativo”, explica Suzigan. O investimento privado, fundamental para garantir o crescimento, tem se mantido pouco abaixo dos 20% do PIB nos últimos anos, o que faz o país depender de investimentos estrangeiros, e públicos. Ele lembra que os países latinos que centraram esforços em reformas do gênero, como o Peru, o Chile e a Colômbia, vão preservar taxas de crescimento mais vistosas.

Para Suzigan, o ajuste monetário no Brasil – marcado pela alta de juro - com vistas a manter a inflação em xeque, já parece próximo de se completar. Nesta quarta-feira, o Banco Central brasileiro deve aumentar, uma vez mais, a taxa Selic, hoje em 10%, exatamente para domar o dragão inflacionário, e criar um “escudo” para a volatilidade que se instala com o fim dos incentivos monetários nos Estados Unidos. Já o ajuste fiscal, que prevê gastos públicos austeros, deve ser mais cauteloso do que o necessário neste ano, em função do calendário eleitoral. “Este é um elemento de risco para os próximos anos”, observa.

Vale, da MB Associados, lembra que em anos eleitorais como o de 2014 no Brasil, os gastos públicos sobem e pressionam o índice inflacionário, que em 2013 fechou em 5,91%, perto do teto da meta estabelecida pelo BC, de 6,5%. “Para chegar ao centro da meta, de 4,5%, os juros precisariam estar em 14%”, afirma. Uma taxa nesse patamar, em todo caso, viria a arrefecer a inflação, mas também o consumo e o investimento, e retardaria a expansão da economia.

 Agricultura

 O Banco Mundial prevê, ainda, que países emergentes, como o Brasil, devem sentir o impacto da redução dos preços das commodities, que estiveram em alta até 2011. Para Anderson Galvão, sócio da Célere Consultoria, especializada em commodities, esta é uma realidade que vale para matérias-primas não alimentícias, como algodão, celulose, ou borracha, mas não para as alimentícias, como soja ou trigo, que ainda têm um ciclo de alta favorável no médio prazo. “Ainda há demanda firme em economias emergentes, que estão comendo cada vez melhor, e aumentam, inclusive, o custo de produção, o que aumenta o preço”, diz Galvão.

O crescimento de 3,7%, acredita, é factível porque a melhora do ambiente em economias mais ricas beneficia o Brasil, e ainda há mudanças em curso no país, como as concessões no setor de logística, capazes de sustentar um crescimento da produção. Ele cita, por exemplo, a concessão feita no ano passado de trechos da rodovia BR-163, que corta o cinturão agrícola do sul ao norte do país. “Somente no Pará, o desenvolvimento dessa rodovia é capaz de ampliar em até 700 mil hectares áreas que são subaproveitadas, do ponto de vista agrícola”, explica. “Todas as cidades que vivem de agricultura no Brasil estão fervilhando e sofrendo com problemas como a falta de mão de obra.”

A indústria, porém, que em tese deveria ocupar um lugar mais destacado no PIB, continua patinando. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o setor industrial cresceu 1,1% em 12 meses, no acumulado até novembro de 2013. Para a economista Lídia Goldenstein, a indústria brasileiras perderam espaço em função da recessão no exterior, mas também pela sua própria falta de competitividade. “Não fizemos nossa lição de casa, não investimos em inovação para ganhar um diferencial competitivo. Isso me deixa pessimista, pois mostra mostra que nossa indústria não está pronta para uma eventual retomada da economia global”, afirma. Mesmo a perspectiva de abertura por meio de acordos comerciais, como o que está sendo discutido com a União Europeia, não se sustentam sem investir onde interessa, avalia. “Pode fazer quantos acordos quiser. Se não houver uma indústria moderna, não tenho mercado no mundo atual.”

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