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O Panamá oferece um adiantamento para não parar a obra

A Autoridade panamenha vincula aporte de 433 milhões de reais a que o GUPC abandone a ameaça e conclua as obras do Canal Ela exige que o consórcio coloque outros 239 milhões para pagar a fornecedores e empreiteiras subcontratadas

O administrador do Canal do Panamá, Jorge Quijano.
O administrador do Canal do Panamá, Jorge Quijano.Alejandro Bolivar (EFE)

No início de uma “dura” negociação bilateral, a Autoridade do Canal do Panamá (ACP) condicionou nesta terça-feira a entrega de 183 milhões de dólares (434,5 milhões de reais) para reforçar a tesouraria do Grupo Unidos pelo Canal (GUPC), em troca de que o consórcio liderado pela espanhola Sacyr cancele a ameaça de paralisar as obras de ampliação da via interoceânica a partir de 20 de janeiro. A Autoridade exigiu também que o GUPC contribua com outros 100 milhões de dólares (237,4 milhões de reais), e que essas contribuições extraordinárias se destinem a pagar fornecedores e empreiteiras subcontratadas. Mas o consórcio nem aceitou nem rejeitou a proposta, adiando uma resposta definitiva.

Depois de uma primeira rodada de conversas a portas fechadas, que se prolongou por duas horas e meia, na sede da ACP, o panamenho Jorge Quijano, administrador do Canal, informou que os representantes do consórcio “não aceitaram nem rejeitaram” a proposta. “Pelo menos estamos nos falando”, disse, depois de avaliar a reunião como “algo positiva”.

Do total do aporte, 100 milhões de dólares seriam entregues pela agência estatal como adiantamento ao GUPC, mas deverão ficar sob garantia com uma carta de crédito, e em troca de que os restantes 100 milhões de dólares sejam depositados em um fideicomisso pelo consórcio liderado pela Sacyr, o que permitiria manter um acompanhamento dos gastos. Além disso, a ACP estenderia uma moratória ao Grupo e suspenderia, de dezembro de 2013 a fevereiro de 2014, a cobrança de 83 milhões de dólares que a construtora deve à Autoridade.

Quijano disse em entrevista coletiva que “são fundos suficientes” para que o consórcio prossiga a expansão do canal sem interrupções. O consórcio, explicou, tem “problemas de fluxo de caixa”, por isso os novos recursos – que somariam 283 milhões de dólares (672 milhões de reais) e seriam acrescidos de outras moratórias concedidas pela ACP, num valor de 784 milhões de dólares – “permitiriam a continuação regular dos trabalhos”.

A comitiva do GUPC foi encabeçada pelo espanhol Manuel Manrique, presidente da Sacyr Vallehermoso, que compõe o consórcio com a italiana Impregilo, a belga Jan de Nul e a panamenha Constructora Urbana.

Sem data para um próximo encontro, as negociações ficaram abertas para que a empreiteira convoque uma nova reunião em que apresente sua resposta à oferta da ACP. A empreiteira advertiu na semana passada que paralisará as obras se não lhe pagarem 1,6 bilhão de dólares (3,8 bilhões de reais) em gastos adicionais por sobrecustos que o consórcio atribuiu a informações imprecisas fornecidas pela Autoridade na fase de desenvolvimento do projeto.

Quijano exigiu que seja retirada a ameaça de suspensão dos trabalhos, e afirmou que a solicitação de 1,6 bilhão de dólares “nem sequer” foi considerada pela Autoridade. Advertiu ainda de que o Canal “não pode ver que as obras” parem e fiquem sem “mexer nada”.

Qualquer exigência, acrescentou, deve apegar-se ao contrato que ambas as partes assinaram em 2009, quando o Grupo fez uma oferta de 3,12 bilhões de dólares e venceu a licitação para a construção de um novo conjunto de eclusas, em um trabalho cuja conclusão estava prevista inicialmente para 2014, mas já foi adiada para 2015. As obras são a parte principal da expansão, avaliada em 5,25 bilhões de dólares e iniciada em 2007.

A ACP também solicitou nas negociações que quatro comportas que estão na Itália prontas para serem embarcadas sejam trazidas o quanto antes para o Panamá. Em uma recente entrevista, Quijano contou que há na Itália quatro comportas prontas e outras quatro “prestes a serem terminadas, mais duas em construção, e faltam construir duas”, além de quatro que já estão em solo panamenho.

Sem eliminar a ameaça, o GUPC e a ACP concordaram na segunda-feira passada em retornar ontem à mesa de negociações para encontrar uma solução conforme as regras do contrato. O caso foi desbloqueado após uma série de gestões realizadas na segunda-feira nesta cidade pela ministra espanhola de Fomento, Ana Pastor, em reuniões – separadas – com o GUPC, a ACP e o presidente do Panamá, Ricardo Martinelli. Pastor, que nesta terça-feira viajou de volta a Madri, anunciou que a empreiteira se comprometeu a que “todas as reivindicações sigam pela via do contrato” de 2009, que rege a ampliação da hidrovia inaugurada em 1914.

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