Trump diz agora que está perto de um acordo com os democratas para proteger os ‘dreamers’
Presidente negociou proteção a 800 mil jovens imigrantes em troca de apoio à segurança fronteiriça
Os 'dreamers' perderam o controle de seu destino. Donald Trump decidiu usá-los como barganha para que os democratas apoiem um endurecimento da segurança nas fronteiras. A negociação, que se tornou nas últimas horas um vai e vem vertiginoso, está em andamento. A oposição diz que fechou um princípio de acordo e o presidente agora afirma que o pacto está próximo. Assim, os 800 mil imigrantes que chegaram crianças aos Estados Unidos e que estão cercados pela sombra da deportação são agora reféns do jogo político de Washington.
A confusão é uma arma nas mãos de Trump. Em menos de 12 horas, o presidente lidou com o destino de 800 mil imigrantes como se fosse uma bola de ping-pong. Primeiro, recebeu os líderes democratas na Casa Branca; em seguida, deixou a oposição publicar uma declaração anunciando um princípio de acordo para regularizar o grupo. No início da manhã, no entanto, desmentiu a informação via Twitter e, depois de duas horas, antes de embarcar em um avião para a Flórida, disse que o "acordo estava próximo" e desligou-o da construção do muro com o México, um anátema para os democratas. "Isso virá depois", afirmou.
O jantar da confusão aconteceu ontem com o líder dos democratas no Senado, Chuck Schumer, e sua homóloga na Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi. Não era nenhum segredo que buscavam um acordo.
“Tivemos uma reunião muito produtiva na Casa Branca com o presidente. A discussão teve como foco o DACA [o programa que dá cobertura legal aos dreamers] e as maneiras de consolidar rapidamente suas proteções na forma de uma lei e elaborar um pacote sobre segurança fronteiriça que exclua o muro e seja aceitável para ambas as partes”, declararam os líderes democratas em um comunicado ao sair do jantar.
The WALL, which is already under construction in the form of new renovation of old and existing fences and walls, will continue to be built.
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) September 14, 2017
Does anybody really want to throw out good, educated and accomplished young people who have jobs, some serving in the military? Really!.....
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) September 14, 2017
...They have been in our country for many years through no fault of their own - brought in by parents at young age. Plus BIG border security
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) September 14, 2017
No deal was made last night on DACA. Massive border security would have to be agreed to in exchange for consent. Would be subject to vote.
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) September 14, 2017
Trump não fez declarações, apesar de todos os veículos de imprensa divulgarem o princípio de acordo. Às seis da manhã dissipou as esperanças com uma série de tuítes. Negava ter selado qualquer pacto. E, mais uma vez, como tem feito frequentemente, voltava a declarar seu apoio aos dreamers. “Estão em nosso país há muitos anos, não fizeram nada errado, mas foram trazidos por seus pais na infância”, disse em um tuíte, que alimenta a tese de que os dreamers são reféns da negociação do muro. “Alguém quer realmente expulsar esses bons e educados jovens que têm trabalho e estão servindo no exército?”, perguntou retoricamente Trump, que dias atrás os colocou na berlinda.
Agora ele diz que o acordo deve sair. A aproximação tática da oposição tem rendido frutos a Trump. Os republicanos têm maioria nas duas casas, mas sua incapacidade de consenso, e especialmente sua dispersão ideológica, dificultam um voto coeso. Humilhado por seus contínuos fracassos no Congresso, Trump decidiu dar uma guinada e, na semana passada, surpreendeu o país e firmou um pacto com os democratas que permitiu superar o bloqueio ao limite de dívida federal. Este primeiro acordo, que ridicularizou os líderes conservadores no Congresso, mostrou-lhe uma maneira de manobrar nas águas parlamentares e evitar o embaraço que sofreu em julho passado quando tentou, sem sucesso, desmantelar o sistema de saúde implantado por Barack Obama.
Na terça-feira passada, Trump chegou a um dos momentos mais baixos de seu mandato quando decidiu acabar com o programa que dava amparo legal a 800.000 dreamers. Apesar do prazo de seis meses dado ao Congresso para encontrar uma solução, a decisão mostrou o lado mais desumano do presidente. O mesmo que exibiu quando concedeu indulto ao ex-xerife Joe Arpaio ou se manteve equidistante dos neonazistas de Charlottesville e de suas vítimas.
Essa concessão a seu eleitorado ultraconservador colocou-o em uma zona perigosa. As grandes empresas e as principais figuras de seu partido, como o presidente da Câmara de Representantes, Paul Ryan, e o senador John McCain, são contra a expulsão. E a maioria dos eleitores republicanos, como indicam as pesquisas, é a favor de regularizar esses imigrantes.
Em face da crise que se avizinhava, Trump tirou sua alma da miséria imobiliária e, com a cabeça dos jovens na mesa de negociação, buscou um acordo que garanta um aumento de recursos na perseguição de indocumentados.
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