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Ministra das Relações Exteriores venezuelana tenta entrar à força em reunião do Mercosul

Rodríguez irrompeu no Palácio San Martín, em Buenos Aires, mas não conseguiu entrar na reunião em meio a uma enorme tensão

Carlos E. Cué
A chanceler da Venezuela, Delcy Rodríguez, fala em Buenos Aires na frente do Ministério das Relações Exteriores rodeada por manifestantes.
A chanceler da Venezuela, Delcy Rodríguez, fala em Buenos Aires na frente do Ministério das Relações Exteriores rodeada por manifestantes.AFP

O Mercosul viveu um episódio inédito na diplomacia como consequência da crise que se seguiu à suspensão da Venezuela. A chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, tentou entrar à força numa reunião do Mercosul, em Buenos Aires, à qual não tinha sido convidada. Acompanhada pelo ministro das Relações Exteriores da Bolívia, David Choquehuanca, e aplaudida por militantes kirchneristas na rua, Rodríguez abriu caminho entre a polícia para entrar no Palácio San Martín, sede do Ministério das Relações Exteriores, que estava cercado por barreiras, com a intenção de invadir a reunião que mantinham seus colegas da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Diante da imprensa, às portas do palácio, disse que se não a deixassem entrar pela porta, o faria “pela janela”.

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A chanceler argentina, Susana Malcorra, explicou mais tarde com tom estupefato que havia comunicado por escrito a Rodríguez que esta não fora convidada para a reunião. Malcorra tentou acalmar a situação convidando Rodríguez para uma reunião bilateral em seu escritório, em outro edifício em frente ao palácio. Rodríguez compareceu com Choquehuanca e Ricardo Nin Novoa, chanceler uruguaio. Ficaram mais de uma hora tentando convencê-la de que não poderia participar da reunião, mas não conseguiram chegar a nenhum acordo e Malcorra e Nin Novoa foram para a reunião no palácio enquanto ela ficou na rua. Mas insistiu em entrar. “Foi uma situação complexa. Ele fez o que pôde para entrar no palácio. Entraria pela porta ou pela janela, como disse, o que criou muita tensão, por isso a deixamos entrar para não haver um problema maior”, disse Malcorra. “Não conheço nenhum precedente de que se possa entrar numa reunião de cúpula sem autorização”.

Em meio a uma enorme tensão, Rodríguez entrou no palácio. Mas já era tarde. Quando apareceu no local, encontrou uma sala vazia: os chanceleres já havia terminado a reunião e naquele momento almoçavam fora do edifício. “Os ministros das Relações Exteriores da Tríplice Aliança em conluio contra a Venezuela e o Mercosul se recusam a dialogar com a Bolívia e a Venezuela”, escreveu a chanceler em sua conta no Twitter, com uma foto da sala vazia. “Já estamos na reunião do Mercosul esperando os chanceleres da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai”, havia escrito alguns minutos antes, confiante de que entraria. Mas nunca cruzou com eles. Só havia uma mesa rodeada por cadeiras vazias, emolduradas pelas bandeiras dos países do Mercosul, mas sem a da Venezuela. Havia a bandeira da Bolívia, que está em processo de adesão. No entanto, Choquehuanca não chegou a participar da reunião e se manteve o tempo todo solidário com a Venezuela.

O brasileiro José Serra, o mais duro contra a Venezuela, também tinha colocado seu grão de areia na guerra do Twitter e havia deixado claro que não receberiam Rodríguez. “Estou reunido com os chanceleres da Argentina, Paraguai e Uruguai em Buenos Aires para a XI Reunião Extraordinária do Conselho do Mercosul”, tuitou abaixo de uma foto que o mostrava em uma sala da chancelaria sentado com Malcorra, o paraguaio Eladio Loizaga e o uruguaio Rodolfo Nin Novoa.

A Venezuela está suspensa do Mercosul desde 2 de dezembro, quando venceu o prazo para adequar suas normas comerciais ao protocolo de adesão que assinou em 2012. O país caribenho não aceitou essa suspensão e trouxe para o bloco uma situação de crise sem precedentes. Em sua defesa, o Governo de Nicolás Maduro argumentou que o país cumpriu 95% das normativas comerciais do bloco. E acusou a Argentina, Brasil e Paraguai de formarem um grupo “ditatorial” disposto a afastá-lo da diplomacia regional, que desde a chegada de Mauricio Macri à presidência da Argentina e de Michel Temer à do Brasil é cada vez mais crítico da linha ideológica de Caracas. A Argentina assumiu agora a presidência pro tempore do bloco, que estava nas mãos de Caracas sem o consentimento de seus pares. Malcorra espera que a Venezuela cumpra seus compromissos e que se possa resolver essa situação o mais rapidamente possível, mas a verdade é que a crise se agrava e torna quase impossível a convocação de uma cúpula de presidentes, porque o mais provável é que Nicolás Maduro comparecesse para tentar algo semelhante ao que Rodriguez não conseguiu na quarta-feira: entrar à força na reunião. 

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