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Turquia bombardeia PKK no Iraque e volta a atacar o Estado Islâmico

Aviões turcos investem contra posições da milícia curda

Andrés Mourenza
Protesto em Istambul contra ataques aos curdos.
Protesto em Istambul contra ataques aos curdos.AFP

Caças do Exército turco bombardearam durante a noite posições do grupo armado curdo Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) nas montanhas do norte do Iraque. De forma simultânea, atacaram posições do Estado Islâmico (EI) na Síria pelo segundo dia consecutivo, depois de a Turquia se unir na sexta-feira à guerra contra o grupo jihadista. “Não permaneceremos calados diante a atividade das organizações terroristas”, declarou o primeiro-ministro turco, o islamista moderado Ahmet Davutoglu.

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O grosso dos ataques se centrou nas bases da organização curda, uma operação da qual participaram nove F-16, que partiram da base aérea de Diyarbakir (sudeste da Turquia). Segundo um comunicado do centro de gestão de crise estabelecido pelo Governo turco, os objetivos –campos de treinamento, bases e baterias antiaéreas– foram “golpeados de forma eficaz” pelas bombas turcas nas áreas de Zap, Metina, Gara, Avasin-Basyan, Sinath Haftanin e Hakurk, imediatamente do outro lado da fronteira turco-iraquiana, e também no maciço montanhoso de Kandil, situado a uma centena de quilômetros no interior do Iraque, perto da fronteira iraniana, onde se encontra o quartel-geral do PKK.

De acordo com fontes militares citadas pela rede CNN-Türk, a operação aérea contou com apoio de fogo de artilharia pesada do lado turco da fronteira, onde as Forças Armadas mantêm estacionados numerosos tanques e baterias.

A mídia curda próxima do PKK confirmou os bombardeios, que se prolongaram até o amanhecer, embora tenha assegurado que, na maior parte, os alvos atingidos são aldeias e estruturas civis. Nenhum dos dois lados apresentou, até o momento, uma estimativa de baixas.

Já os ataques contra o Estado Islâmico se concentraram na região em torno da localidade síria de Ar Rai, na fronteira com a Turquia, a mesma que foi bombardeada na sexta-feira. Até agora o Governo turco vinha mantendo uma posição ambígua em relação ao grupo extremista, mas as pressões de Washington o obrigou a tomar partido e a concordar em permitir o uso de sua base de Incirlik por aviões da coalizão na guerra contra o Estado Islâmico.

De acordo com o jornal turco Sabah, as duas noites consecutivas de bombardeios na Guerra da Síria fizeram com que as posições jihadistas se distanciassem alguns quilômetros da fronteira. Moradores da parte turca das regiões citadas por essa publicação garantem ter visto os militantes do EI explodirem vários edifícios durante a retirada.

O Governo turco justificou essas operações “transfronteiriças” dizendo que estão amparadas pelo “direito internacional” e seu “direito de proteger a soberania nacional”. Além disso, afirmou que a ONU, a OTAN e países parceiros e amigos foram informados dos ataques por intermédio do Ministério de Relações Exteriores. O Executivo dirigido por Davutoglu mantém uma política que equipara o PKK ao EI como organizações terroristas que ameaçam a Turquia, embora ambas também estejam em confronto, como mostra o recente atentado jihadista contra um centro curdo em Suruç, que causou a morte de pelo menos 30 pessoas.

Durante o último ano o Governo turco ficou contrariado ao ver as milícias curdo-sírias YPG e o próprio PKK conquistarem reputação internacional por sua luta contra o Estado Islâmico na Síria e Iraque, recebendo até mesmo ajuda dos EUA. O Executivo turco, islamista moderado, recordou em numerosas ocasiões que o PKK se encontra na listra de organizações terroristas de Washington e Bruxelas, e instou seus parceiros ocidentais a se distanciarem das milícias curdas, algo que não conseguiu, para sua grande frustração. O duplo ataque da noite de sexta-feira demonstra que, embora Ancara tenha concordado em lutar contra a organização jihadista, não vai desistir da pressão contra o grupo armado curdo, o que contribuirá para incendiar uma região que já está tensa.

O ataque no Iraque representa um duro golpe ao frágil processo de paz iniciado em segredo em 2012 entre o Estado turco e o PKK, já muito abalado havia meses pela falta de avanço nas negociações e pela decisão do grupo curdo de pôr fim ao cessar-fogo decretado em março de 2013. Nos últimos dias, o PKK, que reivindica uma maior autonomia para a região majoritariamente curda do sudeste da Turquia, assumiu a autoria do assassinato de dois policiais e um civil que seria simpatizante do EI. Além do mais, autoridades também atribuem ao grupo a morte de um agente de trânsito e de outro civil, bem como o sequestro, durante a noite de sexta-feira, de um policial que viajava com sua família entre as localidades de Diyarbakir e Bingöl.

A notícia dos bombardeios provocou manifestações de simpatizantes do PKK em vários pontos da Turquia, que foram reprimidas pelas forças de segurança e degeneraram em distúrbios. Várias delegacias da polícia foram atacadas com explosivos de fabricação caseira em diversas localidades do sudeste do país.

As macro-operações policiais contra células de diversos grupos armados jihadistas, curdos e esquerdistas, prosseguiram durante a noite, estendendo-se para 22 províncias. O saldo de detidos chega a 590, segundo o primeiro-ministro. Várias contas do Twitter e Facebook ligadas ao EI e ao PKK foram bloqueadas. Ao mesmo tempo, o Governo ordenou o bloqueio do acesso às páginas na Internet de diversos órgãos prestigiados da mídia esquerdista e pró-curda, como o Sendika.org e o Yuksekova Haber. "Não daremos permissão para que ninguém altere a ordem pública. Todos os que realizarem atividades ilegais serão punidos”, disse Davutoglu.

A grande manifestação de condenação ao atentado de Suruç, convocada por organizações pró-curdas para domingo, foi proibida pelo Governo. E os sindicatos denunciam que também estão sendo revistadas sedes de organizações que nada têm a ver com grupos terroristas, como a do sindicato de professores Egitim-Sen.

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