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30 países e 6 fabricantes se aliam para eliminar veículos a combustão a partir de 2035

Signatários se comprometem na COP26 a deixar de produzir na próxima década qualquer carro ou caminhonete que gere emissões de carbono. Alemanha, França e Espanha não aderiram por enquanto

COP26
Trânsito intenso numa autopista de Berlim, na semana passada.FILIP SINGER (EFE)
Manuel Planelles

Acabar com as vendas de carros a combustão a partir de 2035 nos mercados mais importantes do mundo é o objetivo estabelecido por uma aliança de países, fabricantes e outras organizações no marco da cúpula do clima de Glasgow. O setor do transporte é responsável por cerca de 20% das emissões mundiais de gases do efeito estufa. E praticamente 90% delas correspondem ao tráfego viário.

A aliança, com uma centena de signatários, está sendo apresentada oficialmente nesta quarta-feira na COP26, a reunião climática da ONU que acontece em Glasgow, na Escócia. E estabelece que os signatários trabalharão para que “todas as vendas de caminhonetes e automóveis novos sejam de zero emissão em nível mundial a partir de 2040, e no mais tardar em 2035 nos principais mercados”. Cerca de 30 países estão dentro deste acordo, encabeçado pelo Reino Unido, e que até a noite de terça tinha outras adesões importantes, como Canadá, Índia, Países Baixos, Áustria, Noruega, Chile e Dinamarca. Entretanto, não estavam presentes EUA, China, Alemanha e França. No lado dos fabricantes, seis grandes companhias globais se somaram —Ford, General Motors, Volvo, Mercedes-Benz, Jaguar Land Rover e a chinesa BYD.

Este compromisso é compatível com um apelo lançado há cerca de três semanas pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. Em um congresso sobre mobilidade sustentável, ele insistiu aos países desenvolvidos que deixassem de fabricar carros a combustão a partir de 2035, e aos demais a partir de 2040. Além disso, a Comissão Europeia propôs também o fim deste tipo de carros que emitam gases o efeito estufa (o que inclui veículos a gasolina, diesel, gás natural e híbridos) a partir de 2035. Entretanto, a proposta europeia ainda precisa ser oficializada nas instâncias comunitárias e pelos 27 países do bloco.

O fato de essa negociação estar em andamento foi a justificativa para que alguns membros importantes da UE, como a Espanha, Alemanha e França, não tenham aderido imediatamente à iniciativa internacional, segundo fontes da delegação espanhola na COP26. A Espanha, em sua recente Lei de Mudança Climática, estabelece 2040 como o limite para as vendas de carros que não sejam de emissões zero. E, conforme recordam estas fontes, a norma contempla que automaticamente se modifique essa data e se estabeleça o prazo 2035 se houver um acordo nesse sentido por parte das instituições europeias.

Ao acordo apresentado na terça-feira também se podem somar governos regionais e cidades, que se comprometem a trabalhar para que suas “frotas de automóveis e caminhonetes próprias ou alugadas sejam veículos de zero emissão no mais tardar a partir de 2035″. Do mesmo modo, os fabricantes que se unem a esta declaração prometem trabalhar para que no máximo dentro de 14 anos todas suas vendas de caminhonetes e veículos de passeio sejam sem emissões nos principais mercados.

Como as demais iniciativas apresentadas publicamente durante esta cúpula, a aliança contra os veículos a combustão, e que está sendo impulsionada pelo Governo do Reino Unido, que preside a COP26, não tem um caráter vinculante, por não ser parte das negociações oficiais da ONU. Como recordava nesta terça-feira na cúpula o especialista em políticas climáticas e renováveis Niklas Höhne, os anúncios sobre o “fim do carvão ou os combustíveis fósseis” precisam se refletir rapidamente em políticas nacionais, e em muitos casos isso não ocorre.

Entretanto, apesar de não acarretar obrigações diretas aos signatários, declarações e alianças desse tipo também têm um efeito sobre os investidores, que assim recebem uma mensagem sobre quais tecnologias terão mais dificuldades na transição para uma economia livre de emissões de carbono. Reforçam também a ideia de que a mobilidade elétrica é o futuro. Essa mensagem está cada vez mais assumida entre a maioria da sociedade, como refletia uma recente pesquisa da empresa 40dB. elaborada para o EL PAÍS por ocasião da COP26. Para 63% dos espanhóis entrevistados, o ano de 2035 deveria ser definido como limite para a venda de carros a combustão. Na mesma pesquisa, 60% afirmavam que optaria por um veículo elétrico —puro ou híbrido— se precisasse comprar um carro agora.

A jornada da cúpula do clima nesta quarta será dedicada ao transporte. Espera-se algum avanço também sobre o tráfego marítimo e terrestre, que em muitas ocasiões não são cobertos pelos planos nacionais de redução de emissões de gases do efeito estufa. Também está prevista a apresentação de uma iniciativa para vetar as novas explorações de gás natural e petróleo.

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