Surtos em residências geriátricas caem à metade 15 dias após a vacinação na Espanha

Extremadura, Navarra, Catalunha, Andaluzia e Baleares apostam em flexibilizar as restrições nas residências. Os especialistas pedem “prudência” e não baixar a guarda

Enfermeiras vacinam uma idosa na residência geriátrica Pare Vilaseca de Igualada (Barcelona), na sexta-feira.Albert Garcia

As residências geriátricas da Espanha voltam a respirar após quase um ano sitiados pela pandemia. A vacinação maciça nas residências, o primeiro grupo priorizado na imunização, começa a surtir efeito e os contágios caem. Segundo o Ministério da Saúde, nesta semana foram notificados 103 surtos de covid-19 nos equipamentos sociossanitários, a metade dos reportados duas semanas atrás. Com os dados recebidos pelo EL PAÍS, outras comunidades também ratificam a queda de contágios nas residências e apontam a imunização maciça como fundamental na redução. De fato, com os Governo regionais prestes a finalizarem a segunda dose da vacina nas residências geriátricas, já se discute a flexibilização das entradas e saídas dos centros. Os especialistas, entretanto, pedem “prudência” na desescalada.

Ainda que a curva epidemiológica esteja em queda em toda a Espanha e as restrições sociais também ajudem a minimizar a transmissão, nos últimos 15 dias a queda de contágios no entorno sociossanitário ―onde estão as residências geriátricas (nestes locais um caso já é considerado um surto)―, é maior do que no total. Desse modo, os surtos reportados nesta semana na Espanha em todos os âmbitos caíram 7,23% em relação aos notificados há duas semanas. Nos entornos sociossanitários, entretanto, a queda de infecções é de quase 50% no mesmo período. A queda é maior, também, do que a registrada nos equipamentos sociossanitários durante a diminuição da segunda onda: na semana de 1 de novembro, quando a incidência era semelhante à atual, os surtos nas residências caíram 26% em relação aos reportados duas semanas atrás.

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“Na sexta-feira terminamos de administrar a segunda dose nas residências geriátricas. Estamos em uma situação muito boa: de 91 a 60 [infecções ativas] em uma semana e somente há quatro hospitalizados”, diz um porta-voz do departamento de Direitos Sociais de Navarra. Na comunidade, somente um surto com oito casos foi reportado após a segunda dose.

Após 11 meses nos quais o vírus foi mortífero nas residências geriátricas ―aproximadamente 30.000 pessoas que moravam nesses locais morreram―, os centros de idosos começaram a sentir o alívio da proteção imposta pela vacina. “Ainda não se nota um impacto importante no número de mortos. É cedo. Mas, evidentemente, por ter menos contágios, ocorrerão menos mortes. Precisamos ir retomando à normalidade”, diz Jesús Cubero, da patronal de residências Aeste.

Ainda não se sabe se a vacina impede a infecção com o vírus, mas é eficiente contra as formas mais graves da covid-19 e evitará falecimentos. De acordo com o Departamento de Saúde das Baleares, os contágios ativos nas residências geriátricas caíram mais de 60% em um mês e, ainda que tenham detectado uma dúzia de positivos após receber as duas doses da vacina, todos foram assintomáticos e leves.

A Generalitat da Catalunha comemorou na quarta-feira que os efeitos da vacinação nas residências já eram “muito visíveis”: há 358 residentes com covid-19 (0,7% do total), 57,7% a menos do que 10 dias atrás. Foi a mesma linha adotada por Aragão, que mantém uma tendência de baixa em contágios em residências, e Castela e Leão: uma porta-voz do Departamento de Saúde afirmou que os surtos em residências em dezembro repersentavam 16,6% do total, enquanto atualmente são 5,8% de todos os episódios infecciosos registrados.

A Comunidade Valenciana estima que os contágios em residências geriátricas “caíram à metade”, afirma um porta-voz, ainda que não dê números. No País Basco, antes de inocular a primeira dose havia mais de 400 casos ativos nas residências das três províncias, enquanto agora há 119 infectados. A Andaluzia também notou uma queda de casos em idosos (existem 963, quase metade do que há 15 dias).

Relaxar restrições

A melhora da situação epidemiológica nas residências geriátricas fez com que algumas comunidades optassem por relaxar as restrições neles. Pelo menos Navarra, Baleares, Extremadura, Andaluzia e Catalunha apontam a esse cenário. “Estamos recomendando às comunidades que comecem a elaborar planos de desescalada para abrir o regime de visitas. Com prudência, é preciso tentar voltar à normalidade. Precisamos ser mais permeáveis”, afirma Cubero. María José Carcelén, da coordenação de residências 5+1, ressalta a importância de se abrir as portas: “Estou há um ano sem abraçar minha mãe. Não faz sentido não poder tocá-los. Eles precisam sentir nossa proximidade”.

A partir de sábado, as Baleares permitirão as saídas das residências quando o usuário estiver vacinado, mas com a exceção de que se estiverem mais de 72 horas fora quando retornarem precisarão obter um PCR negativo. Em Navarra, os residentes já podem sair para dar um passeio nos arredores do centro, mas se forem expostos a situações de risco ―“como ir a um bar e tirar a máscara”, exemplifica um porta-voz do Departamento de Saúde de Navarra―, ao voltar à residência o usuário deve se submeter a um PCR, ficar 10 dias em isolamento e repetir o teste. Agora, os que estão vacinados poderão sair sem a necessidade de fazer um teste no volta. Navarra também flexibilizará as visitas, que agora eram somente uma vez por semana, mas o protocolo de segurança será mantido.

A Catalunha também tem um plano de flexibilização e a Extremadura já disse que, assim que as residências geriátricas completarem a pauta de vacinação, poderá ampliar as visitas e deixar de fazer testes de antígenos periódicos aos funcionários. A Andaluzia também permitirá a partir de hoje as visitas e saídas de usuários que tenham as duas doses.

Nem todas as comunidades, entretanto, compartilham a reabertura. Castela e Leão prevê uma desescalada lenta e Aragão, Murcia e La Rioja não relaxarão as medidas por enquanto. Os especialistas também pedem cautela. “Não se pode fazer as coisas de qualquer jeito. Os vacinados podem se infectar e infectar outros e as saídas não podem ser liberalizadas”, avalia Daniel López-Acuña, ex-diretor de Emergências da Organização Mundial da Saúde.

Com informação de Lucía Bohórquez, Pedro Gorospe e Margot Molina.

“OS IDOSOS TÊM VONTADE DE SAIR, DE RESPIRAR”

A Residência Geriátrica Juvany de Barcelona se orgulha de ser “um centro limpo”. Ou seja, que nenhum dos 52 idosos que moram lá se infectaram com o coronavírus. “O único positivo fui eu, no começo de tudo e, por sorte, leve”, lembra o diretor, Vicente Botella. A vacina era seu salva-vidas. “Quando a vacina chegou, respiramos. Porque pensávamos que, se o vírus entrasse, levaria todos os idosos”, diz.

A residência agora se prepara para reabrir suas portas enquanto a Generalitat finaliza a norma que flexibilizará entradas e saídas. “Todos estamos mais tranquilos e as famílias, com expectativa. A maioria dos idosos tem muita vontade de sair, de respirar, dar um passeio e sair de final de semana”, afirma Botella.

Mas também há quem tenha se acostumado à solidão após um ano com fortes restrições sociais. “Eles se acostumaram a não sair e levam mais a vida no quarto”, diz o diretor da residência. Outros usuários, acrescenta o geriatra, simplesmente têm medo. “Medo de sair na rua. Uma idosa me disse hoje para dizer que havia um caso positivo na residência para que não a deixassem sair porque via que as pessoas morriam nas ruas. São pessoas muito frágeis física e psicologicamente”, diz Botella.

Apesar do entusiasmo do setor e das famílias para abrir as portas, os epidemiologistas pedem precaução. “Tudo depende de com quem vão sair e aonde vão. Apesar de estarem vacinados, podem ser infecciosos, podem contagiar outros idosos. É preciso continuar com as medidas para evitar que o vírus entre nas residências geriátricas porque pode existir gente não vacinada”, diz o epidemiologista Daniel López-Acuña.

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