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Chile vacina 1,3 milhão de pessoas em uma semana e garante os melhores índices de imunização da América do Sul

Graças às negociações antecipadas para aquisição das doses, índice de vacinação do país é comparável aos dos EUA e União Europeia. Exclusão de migrantes gera críticas ao processo

Vacunación contra Coronavirus en Chile
Enfermeira vacina idoso contra covid-19 em La Reina, Santiago, em 8 de fevereiro.Alberto Valdes (EFE)

“Esta é uma vitória do Estado, não do Governo”, diz ao EL PAÍS o ministro chileno da Saúde, Enrique Paris, ao fazer um balanço do processo que permitiu imunizar, entre os dias 3 e 10 deste mês, 1.250.314 pessoas contra a covid-19. O resultado é “impressionante”, destacou em sua conta no Twitter o pesquisador da Universidade de Oxford Max Roser, fundador do site Our World In Data, que situa o Chile, que tem 19 milhões de habitantes, como o país da América do Sul com o melhor índice de imunização para cada 100 pessoas (5,58), superado só por Israel (67,8), Emirados Árabes (45,7), Reino Unido (20,00) e Estados Unidos (13,4), com números de terça-feira.

A vacinação começou no final de dezembro com 50.000 doses aplicadas em trabalhadores de unidades de pacientes críticos. Mas a fase de imunização em massa de profissionais de saúde, trabalhadores de serviços essenciais, maiores de 65 anos e pessoas com comorbidades começou no último dia 3 de fevereiro. Segundo o plano oficial, os cidadãos podem saber com antecedência onde e quando receberão a primeira dose. As autoridades sanitárias fornecem na hora aos vacinados um comprovante que inclui a data em que eles deverão receber a segunda dose.

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Segundo um balanço do Ministério da Saúde que reúne dados até a manhã de quinta-feira, 1.394.363 pessoas foram vacinadas no Chile desde dezembro, com um aumento acentuado na curva a partir de 3 de fevereiro.

A meta do plano é chegar a cinco milhões de pessoas imunizadas até março e alcançar 80% da população durante este primeiro semestre. Meta que foi destacada pelo banco de investimentos nova-iorquino JP Morgan, que previu que o Chile pode se tornar o primeiro mercado emergente a conseguir imunidade coletiva ou de rebanho.

Para o ministro da Saúde, uma das chaves para o rápido avanço do processo se deve ao fato de que o país tem um Plano Nacional de Imunização que data de 1978, que ele qualifica como “muito robusto”. “No Chile, ninguém se vacina sem que se registre seu nome, seu RUT [documento nacional de identificação] e a vacina a ser aplicada. Portanto, temos um acompanhamento de toda a população desde o nascimento, com seu histórico de vacinas. Isso permite manter uma estatística precisa, saber se falta alguma dose para um indivíduo ou grupo específico”, explica.

A isso, assinala o ministro, soma-se o trabalho em conjunto com a atenção primária à saúde, que depende dos municípios. O professor Cristóbal Cuadrado, da Escola de Saúde Pública da Universidade do Chile, destaca que “o sistema de saúde chileno tem uma longa tradição de saúde pública, com experiência em grandes campanhas de vacinação e uma atenção primária estabelecida em todo o país, o que permitiu avançar em velocidade muito rápida na vacinação”.

Outro fator-chave, segundo o Governo, foram as negociações antecipadas para conseguir uma vacina o quanto antes. O primeiro passo foi encontrar ensaios clínicos que pudessem ser feitos no Chile. No caso da Sinovac, foi fundamental um acordo de colaboração assinado pela Universidade Católica com o laboratório chinês, que além de estudos prevê um acesso preferencial às vacinas, com um horizonte de 60 milhões de doses para um período de três anos. “A vacina da Sinovac pode ter papel preponderante para imunizar nossa população e contribuir para a tão desejada imunidade de rebanho”, enfatiza o especialista em imunologia da Universidade Católica Alexis Kalergis, que liderou o estudo da Sinovac no Chile. Optou-se também pelas vacinas da Pfizer e de Oxford-AstraZeneca. Esta última deve ser a próxima a chegar ao país, com cinco milhões de doses.

Mas também houve incerteza no processo. Em meados de janeiro, a Pfizer anunciou uma redução temporária no envio de doses, que afetou vários países, entre eles o Chile. Nesse contexto, não era uma opção que as vacinas chinesas não chegassem a tempo, o que exigiu negociações de alto nível entre o presidente Sebastián Piñera e seu colega chinês, Xi Jinping.

A exclusão dos imigrantes irregulares

Até o início desta semana, existia um consenso em torno do sucesso do processo, que tinha sido destacado inclusive pelo Colégio Médico, um dos organismos mais críticos em relação à gestão da pandemia por parte do Governo.

Tudo mudou depois que uma reportagem da televisão peruana promoveu a realização de viagens ao Chile afirmando que “sobravam” vacinas contra a covid-19. Em resposta a isso, o Ministério da Saúde do Chile atualizou o regulamento do processo de imunização e deixou de fora “aqueles que estão transitoriamente no país” com visto de turista.

Na quarta-feira, o chanceler Andrés Allamand foi muito mais longe e disse que “também não poderão ser vacinados os estrangeiros que estiverem no país em situação irregular e não tiverem iniciado os trâmites de solicitação de visto temporário ou definitivo”. O anúncio provocou críticas do Colégio Médico, cuja presidenta, Izkia Siches, afirmou que existem formas “mais humanitárias” de limitar o denominado “turismo da vacina” e que a exclusão de migrantes de maior vulnerabilidade “atenta contra a saúde de toda a população”.

“É uma má política de saúde, não é ética e, do ponto de vista epidemiológico, coloca todos nós em risco”, afirmou, por sua vez, a Sociedade Chilena de Epidemiologia. A medida, além disso, contradiz a posição de relatores das Nações Unidas, que assinalaram que “as pessoas migrantes devem ter acesso às vacinas em igualdade de condições com os cidadãos nacionais”.

Em meio às críticas, o Governo especificou que os migrantes em situação irregular terão acesso à vacinação quando iniciarem um processo para normalizar sua situação. “As pessoas que estão em situação irregular e fizeram sua autodenúncia estão e sempre estiveram incluídas”, disse a subsecretária de Saúde Pública, Paula Daza. O ministro Enrique Paris, por sua vez, disse na quinta-feira que ninguém ficará de fora: “Vacinaremos os migrantes quando for o momento de fazer isso conforme o calendário de vacinação, assim como os compatriotas”.

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