Cuba envia brigadas médicas contra o coronavírus a Itália e América Latina
Uma equipe de 53 profissionais chega ao epicentro da Covid-19 na Europa para prestar socorro de emergência diante da sobrecarga do sistema de saúde
Centenas de médicos e enfermeiros cubanos já participam in loco do combate ao coronavírus em vários países da América Latina e também na Itália. Neste domingo, 53 deles chegaram à Lombardia, epicentro da Covid-19 na Europa, para prestar ajuda emergencial devido à sobrecarga do sistema de saúde nessa região do norte da Itália. Cuba informou que o seu pessoal está treinado no enfrentamento de outras epidemias —como a do ebola, na África— e já colaborou em diversos países, inclusive no Brasil. Segundo Giulio Gallera, assessor de Saúde e Bem-Estar da região da Lombardia, em um primeiro momento eles trabalharão no hospital de Crema (sul da Lombardia) e serão enviados ao novo hospital de campanha a ser construído em Bergamo, a zona mais afetada pelo novo coronavírus na região, onde os mortos são contados às centenas e há milhares de contagiados.
É a primeira vez que Cuba presta ajuda desse tipo a um país desenvolvido como a Itália, embora a presença de médicos cubanos na América Latina e países do terceiro mundo seja habitual. As autoridades cubanas indicaram que atualmente suas brigadas médicas estão atuando também em Suriname, Venezuela e Nicarágua, e que ao todo 31 países recebem atualmente diferentes tipos de colaboração sanitária cubana para enfrentar o coronavírus.
“Até este minuto, nenhum colaborador da saúde se reporta como doente de coronavírus em nossas brigadas médicas no exterior”, afirmou o diretor da Unidade Central de Colaboração Médica do Ministério da Saúde Pública de Cuba, o médico Jorge Juan Delgado Bustillo. Segundo ele, há na ilha “um sentimento nacional de querer cooperar”. “Recebemos mensagens de pessoas voluntárias dispostas a partir para qualquer lugar para ajudar diante desta situação global de saúde”, acrescentou.
Cuba mantém presença médica em mais de 60 países. Em 2019, o pessoal sanitário cubano no exterior superava 28.000, sendo quase metade na Venezuela. Esta política internacionalista foi, desde o triunfo da Revolução Cubana, em 1959, uma das bandeiras do Governo de Fidel Castro, além de se tornar nas últimas duas décadas uma importante fonte de rendimentos, pois muitos convênios de cooperação, implementados através de organismos internacionais como a OMS e a OPAS, trazem uma notável arrecadação para os cofres públicos, sem falar do prestígio.
O envio de brigadas médicas para colaborar no enfrentamento ao coronavírus ocorre num momentos em que a ilha se prepara para fechar suas fronteiras ao turismo, a partir desta terça-feira, e quando Cuba já notificou 35 casos confirmados da doença —10 a mais que no sábado passado. Mais de 900 pessoas estão isoladas em centros sanitários por sintomas suspeitos, enquanto 30.000 estão sujeitas a vigilância médica em seus domicílios. Até o momento, um turista italiano morreu em Cuba por causa da Covid-19, duas pessoas se encontram em estado crítico e outra está em estado grave.
As autoridades decretaram na sexta-feira o fechamento do país ao turismo, anunciando que a partir da terça-feira só residentes poderão entrar na ilha, desde que se submetam a um confinamento preventivo de 15 dias em um centro assistencial, mesmo na ausência de sintomas. Atualmente, cerca de 60.000 turistas —sendo quase 15.000 europeus— se encontram em visita a Cuba e devem deixar o país nos próximos dias. As autoridades disseram que o espaço aéreo não será fechado, por isso as companhias aéreas que ainda mantêm seus voos —como as espanholas Iberia e Air Europa— poderão retirar os viajantes.
O Consulado da Espanha em Havana abriu no fim de semana para atender e informar os viajantes e está recomendando aos que ainda se encontram na ilha que retornem o quanto antes, embora Havana não tenha determinado um prazo para que deixem o país. Um critério semelhante foi adotado por outros consulados europeus, enquanto com os passageiros da América Latina a situação é muito mais complexa, pois muitas companhias aéreas da região suspenderam voos, e os turistas estão com dificuldades para retornar. É o caso de 900 argentinos que no sábado estavam retidos em Havana à espera de uma solução.
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