Estudante brasileiro sofre ‘bullying’, é mais solitário e admite problemas de indisciplina nas escolas
Percepção dos alunos sobre vida e clima escolar revela que é necessário mudar a forma como debatemos a educação, segundo pesquisa PISA 2018
Escola brasileira incentiva a competição. Já estudantes relatam bullying e têm menos facilidade em solucionar problemas, mas concordam que seus professores têm entusiasmo ao ensinar. É o que revela pesquisa do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes 2018 (PISA, em inglês), realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A pesquisa, divulgada a cada três anos, avalia o conhecimento de leitura, ciências e matemática de alunos de 15 anos de vários países. Nesta edição, mensurou também aspectos do bem-estar dos estudantes, que influenciam diretamente em seu aprendizado.
O PISA entende o bem-estar como um estado dinâmico, relacionado ao funcionamento psicológico, cognitivo, material, social e físico dos estudantes, mas também às capacidades que os jovens têm de ter uma vida feliz e fratificante. Para o programa, “sem investimentos suficientes no desenvolvimento de capacidades no presente, é menos provável que os alunos desfrutem de bem-estar quando adultos”.
Temas como bem-estar vem ganhando cada vez mais peso nos debates sobre educação. E estão relacionadas com o projeto Competências Globais da OCDE, que prevê lançar uma nova prova para mensurar a qualidade da educação. Previsto para o final de 2020, o exame vai medir as habilidades sociais dos estudantes e sua capacidade para encontrar soluções para problemas, o que é uma das habilidades essenciais para uma boa redação do Enem, por exemplo.
O resultado mais recente do PISA mediu diversas variáveis relacionadas ao clima nas escolas que afetam o bem-estar dos estudantes. Veja as principais informações reportadas pelos estudantes brasileiros:
1 em quase 3 estudantes sofrem bullying. 29% dos estudantes brasileiros entrevistados afirmaram sofrerem bullying pelo menos algumas vezes por mês, um resultado superior à média dos países da OCDE (23%).
Alunos brasileiros são menos satisfeitos com a vida. 65% dos estudantes brasileiros relataram estar satisfeitos com a vida, contra 67% da média de países que participaram da pesquisa. Cerca de 90% dos alunos brasileiro, no entanto, relataram, às vezes ou sempre, sentirem-se felizes; enquanto cerca de 13% dos estudantes disseram estar sempre tristes. “Na maioria dos países e economias, os estudantes apresentaram maior probabilidade de relatar sentimentos positivos quando relataram um forte senso de pertencimento à escola e uma maior cooperação entre seus colegas. Os que sofrem bullying com mais frequência expressaram mais tristeza”, informou a o relatório do PISA 2018.
Estudante é solidário, mas nem tanto. 85% dos brasileiros que participaram da pesquisa concordaram fortemente que é bom ajudar os alunos que não podem se defender. Na OCDE a média é de 88%.
Competição é mais comum que cooperação nas escolas. No Brasil, 48% dos estudantes relataram que seus colegas de escola cooperam entre si e 57% relataram que o ambiente de competição prevalece. Nos países demais acontece o inverso: a cooperação (62%) é maior que a competição (50%)
Solidão é maior entre adolescentes brasileiros. Cerca de 23% dos alunos do Brasil concordam ou concordam fortemente que eles se sentem sozinhos na escola. A média da OCDE é de 16% de estudantes solitários.
Indisciplina é um grande problema na sala de aula. Cerca de 41% dos estudantes afirmaram que quase todos os professores de linguagens precisam esperar muito tempo para que os alunos se acalmem antes de começar as aulas. O incômodo com a indisciplina no Brasil é muito mais alto que na média da OCDE (26%). E isto parece influenciar na performance dos adolescentes. Estudantes que reportaram este problema marcaram 19 pontos a menos em leitura do que alunos que não identificaram ou minimizaram o problema.
Adolescentes brasileiros faltam mais. No Brasil, 50% dos alunos faltaram um dia de aula e 44% dos alunos chegaram atrasados à escola nas duas semanas anteriores ao teste do PISA. Na média dos países que participaram da pesquisa, 21% dos estudantes pularam um dia de aula e 48% chegaram atrasados no mesmo período.
Entusiasmo dos professores é destaque. Cerca de 83% dos alunos do Brasil concordaram ou concordaram fortemente que o professor mostra prazer no ensino. Na média da OCDE esse número ficou em 74%. Os dados mostram que professores entusiasmados influenciam diretamente na pontuação de leitura de seus estudantes.
Brasileiros solucionam problemas pior que a média. 77% dos estudantes concordam ou concordam fortemente que geralmente conseguem encontrar uma saída para situações difíceis e 55% concordam ou concordam fortemente que, quando falham, se preocupam com o que os outros pensam. Na média da OCDE, 84% dos alunos afirmam serem capazes de solucionar problemas difíceis. Em contrapartida, 56% se preocupam com o que outros pensam quando eles falham. Os dados mostram que em todos os sistemas de ensino, incluindo o Brasil, as meninas têm mais medo do fracasso que os meninos.
Estudantes acreditam na meritocracia. A maioria dos estudantes do Brasil e dos países da OCDE entendem que seus talentos e habilidades pode ser desenvolvido através do esforço, a chamada “mentalidade de crescimento”.
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