Quem foi a enigmática Macarena que inspirou o hit dos anos 1990?
Uma jovem dançarina de Caracas foi a musa da canção que levou a dupla espanhola Los del Río ao mapa internacional da fama
Parece mentira, mas estima-se que haja mais de 4.700 versões da canção que levou a dupla Los del Río à fama inclusive em países de língua não espanhola. Macarena, mais precisamente um remix dançante dos Bayside Boys, passou nada menos do que 14 semanas no número um da lista Billboard em 1996, gerando todo um fenômeno que foi muito além da mera e superficial canção do verão.
Sem ir mais longe, naquele mesmo ano a música tocou na final do evento esportivo mais assistido do planeta, o Super Bowl, e pudemos ver o próprio Bill Clinton dançando-a como se não houvesse amanhã em sua campanha da reeleição. Visto agora em perspectiva, não cabe dúvida de que a pegajosa canção e sua coreografia exemplificavam aqueles tempos felizes em que podíamos dançar e socializar sem necessidade de manter a distância social. Inclusive isso se pode extrapolar ao então presidente dos Estados Unidos, já que logo depois, em 1998, explodiria na sua cara o escândalo de sua ex-estagiária Monica Lewinsky.
Macarena não foi fruto da imaginação do dueto formado por Antonio Romero e Rafael Ruiz. Aquela musa existe, é venezuelana e atende na realidade pelo nome de Diana Patricia Cubillán Herrera. Reconhecida atualmente como Diana Patricia “La Macarena”, trata-se de uma bailarina de grande prestígio, nascida em 1971 e aclamada nos palcos do seu país. Há mais de duas décadas, ela dirige em Caracas a sua própria escola de dança, chamada El Rocío Estudio de Flamenco.
Conforme informou o jornal El Mundo em 2017, conta a lenda que a bailaora conheceu os artistas andaluzes em outubro de 1991, quando tinha acabado de completar 20 anos. Ela se encontrou com os Los del Río após receber um telefonema para atuar numa festa privada no condomínio Country Club, na capital venezuelana. “Quando saio no terraço da casa me deparo com uma mesa redonda pequena onde estavam Carlos Andrés Pérez e Gustavo Cisneros. Reconheci-os rapidamente: o primeiro era o presidente do país, e o outro, o famoso empresário. Os Los del Río estavam parados. Não havia nem música nem outros convidados. Rafael tocava o violão, Antonio cantava e eu dançava: sevillanas, rumbas, fandangos de Huelva, umas piadas… Assim transcorreu uma hora e meia”, rememorou nossa protagonista.
Antonio, por sua vez, contou em 2017, no programa Mi Casa es Tu Casa, da TV espanhola, como foi a gênese da canção: “Estávamos na Venezuela e veio uma menina lindíssima, dançarina, e quando a vi começar a rumba lhe disse: ‘Dê alegria ao seu corpo, Magdalena, que seu corpo é para lhe dar alegria e coisa boa’. Magdalena é um nome lindo, mas eu tenho uma filha que se chama Esperanza Macarena e, além disso, a Virgem da Macarena uma noite me disse: ‘Magdalena nada disso, Macarena, porque com as vozes de vocês eu vou ser o nome mais popular da história’.”
Apesar de a dupla garantir que a música foi gestada na própria casa de Cisneros, Diana Patricia afirma que o verdadeiro nascimento de Macarena ocorreu um ano mais tarde, em 1992, quando seus caminhos voltaram a se cruzar na casa de flamenco Los Jarales, em Caracas. “Um amigo jornalista me convidou, e quando chego lá era um show dos Los del Río. Mandei um bilhete pelo garçom: ‘Oi, sou a Diana Patricia, a gente se conheceu na casa do Gustavo Cisneros’. Eles receberam o papel: ‘Tem aqui uma grande bailaora amiga nossa que queremos convidar a subir para dançar’. Subo. Dançamos as sevillanas Antonio e eu. Depois soa uma rumba, que eu começo a dançar para Antonio, e este solta a frase: ‘Dale a tu cuerpo alegría, Magdalena, que tu cuerpo es pa’ darle alegría y cosa buena'. Terminou o show, passo para cumprimentá-los e Antonio me diz: ‘Você viu o jaleo [gritos de entusiasmo entre os participantes do flamenco] que eu te fiz?’. Sim, claro. ‘Pois disso vou fazer uma canção’”, contou ela, ao El Mundo.
Seja como for, a versão original de Macarena foi ouvida pela primeira vez em 1993 no álbum A Mí Me Gusta. Na época, ninguém, exceto seus autores, sabia quem era aquela misteriosa mulher. Só em 1995, no programa El Show de Cristina, do canal Univision, a dupla confessou diante das câmeras que “para essa canção nos inspiramos numa garota venezuelana, bailaora, chamada Diana Patricia”. O mistério se resolveu e, depois disso, ela virou um ícone global e uma figura disputadíssima pela imprensa da época. Assim foi que pouco tempo depois, numa Venezuela que naquele momento pouco tinha a ver com a atual, pôde fundar sua própria escola de dança.
Embora os anos tenham se passado, o fato é que os Los del Río continuam astutamente tirando proveito do seu hino. Em 2016 se uniram à banda Gente de Zona para colaborar em Más Macarena e, de surpresa, em 2019 receberam uma chamada do rapper norte-americano Tyga para participar do viral Ayy Macarena, cujo clipe já soma mais de 107 milhões de visualizações no Youtube. De todo modo, o tema poderia ter estourado ainda mais se tivesse se realizado algo que os andaluzes revelaram no ano passado no jornal ABC: “Chegamos a nos reunir em Miami com o advogado de Michael Jackson porque ele estava louco por fazer uma versão da Macarena conosco”. Sem dúvida, se tivesse rolado, agora continuaríamos falando disso.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.