Guedes fala sobre ‘offshore’ após revelação do ‘Pandora Papers’: “Não fiz nada de errado”
Ministro diz que perdeu dinheiro após assumir Economia em 2018, quando teria deixado seu cargo de diretoria à frente da empresa em paraíso fiscal. Advogados ainda não comprovaram as declarações
Acabou o silêncio. O ministro da Economia, Paulo Guedes, se defendeu pela primeira vez nesta sexta-feira (8) desde a revelação feita pela investigação jornalística do Pandora Papers, que o apontou como sócio de uma offshore em um paraíso fiscal nas Ilhas Virgens Britânicas. As explicações vieram durante um evento virtual do banco Itaú, no qual ministro afirmou que seus empreendimentos são operados de forma legal. “Ela [a empresa] foi declarada, não houve movimento cruzando as fronteiras, trazendo dinheiro do exterior ou mandando dinheiro ao exterior”, afirmou. Segundo o ministro, desde que ele colocou dinheiro na referida empresa, os negócios foram declarados à Receita Federal brasileira.
“Perdi muito dinheiro estando aqui [no Ministério da Economia] exatamente para evitar problemas como esse. Tudo o que estava ao meu alcance de investimento eu vendi, tudo pelo valor de investimento. Eu perdi muito mais do que o valor da companhia que está declarado legalmente lá fora. É permitido, não fiz nada de errado”, disse, por chamada de vídeo.
O ministro fez questão de esclarecer que seu dinheiro no exterior é gerido de forma independente. “Eu saí da companhia dias antes de vir para o cargo de ministro.” A informação de que Guedes esteve à frente da administração da offshore de 2014 até dezembro de 2018 foi confirmada pela gestora de ativos Trident Trust, em nota enviada ao site O Antagonista. Da parte do ministro, que até então só havia falado por meio de seus advogados, nenhum documento foi apresentado para confirmar suas declarações.
Guedes quebra o silêncio apenas dois dias após o plenário da Câmara dos deputados aprovar, na quarta-feira, por 310 votos a 142, sua convocação para prestar esclarecimentos sobre o patrimônio estimado em 9,5 milhões de dólares (cerca de 52 milhões de reais, nos valores atuais) —ligado à offshore Dreadnoughts International Group— que o ministro mantém em sociedade com sua esposa, Maria Cristina Bolivar Drummond, e uma filha. Além de Guedes, também está na mira dos parlamentares o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, outro listado nas investigações conduzidas pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, em sua sigla em inglês).
Antes de Guedes comentar o caso nesta sexta-feira, sua defesa havia se antecipado a possíveis pedidos por parte da Procuradoria Geral da República (PGR). Os advogados entregarram, na quarta, documentos que demonstrariam que o ministro não ocupava o cargo de administrador da offshore desde que assumiu o Ministério, em dezembro de 2018. Em nota, os defensores negaram conflito de interesse, afirmando que ele “em hipótese alguma, teve seus investimentos beneficiados em razão do cargo que ocupa”. É essa suspeita que motivou os pedidos de explicação do Parlamento —além da convocação, foram aprovados mais três convites para que ele se explique.
A revelação do Pandora Papers fez ecoar as declarações de Guedes em 2020, quando o ministro sugeriu que a alta dólar seria positiva. Na mesma oportunidade, disse que antes de o dólar aumentar seu valor em relação ao real, “empregada doméstica estava indo para Disney, uma festa danada”.
Enquanto Guedes se diz “tranquilo, supertranquilo” quanto aos esclarecimentos que deverá prestar diante dos deputados (em data ainda a ser definida), o Brasil se preocupa com a economia. Além de uma nova alta nos combustíveis, programada para ser anunciada no fim desta semana pela Petrobras, o país vê a inflação atingir alta recorde para o mês de setembro desde o Plano Real —ou seja, a maior variação mensal para o mês desde 1994.
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