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Copa América
Coluna
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A pátria em chuteiras calça as pantufas dos isentões

Bolsonaro festeja com chacota e seleção brasileira não vai além do minuto de silêncio protocolar

Protesto contra a realização da Copa América no Brasil, neste domingo, em frente ao estádio Mané Garrincha, em Brasília
Protesto contra a realização da Copa América no Brasil, neste domingo, em frente ao estádio Mané Garrincha, em BrasíliaAilton de Freitas (AP)
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Soccer Football - Copa America 2021 - Group A - Brazil v Venezuela - Estadio Mane Garrincha, Brasilia, Brazil - June 13, 2021 Brazil's Neymar scores their second goal from the penalty spot REUTERS/Henry Romero
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A Conmenbol, confederação sul-americana de futebol, abriu a Copa América em Brasília apenas com uma lembrança tímida, quase protocolar, a respeito de uma pandemia que já matou quase 500.000 brasileiros. O principal avalista do torneio, o presidente Jair Bolsonaro festejou ao seu estilo fanfarrão: com uma foto nas redes sociais apontando para a logomarca do SBT, emissora dona dos direitos de transmissão dos jogos. O líder negacionista vestia uma camiseta do time do Brusque (SC) com propaganda da Havan, firma do empresário e apoiador Luciano Hang, um dos patrocinadores da transmissão na TV de Silvio Santos.

O Brasil venceu por 3x0 uma Venezuela alvejada por um surto de Covid-19 às vésperas da partida —onze atletas testaram positivo e não puderam atuar neste domingo. A pátria em chuteiras, como o cronista Nelson Rodrigues batizou a seleção nacional, tampouco promoveu qualquer manifestação além do minuto de silêncio no início da partida.

Ao contrário das jogadoras da seleção feminina, que na semana passada, antes do amistoso com a Rússia, exibiram uma faixa de protesto contra o assédio de Rogério Caboclo —o presidente afastado da CBF—, os homens apenas jogaram bola, mantendo a marca histórica masculina da falta de pronunciamento. A pátria em chuteiras calçou as pantufas dos isentões.

Nem mesmo a gravidade da peste provocada pelo coronavírus comoveu até agora os atletas e a comissão técnica da equipe. Mesmo na singela cartinha publicada no story do Instagram dos boleiros, não houve a menor sensibilidade para defender a vacina ou o SUS, por exemplo. Nada. No jogo de abertura da Copa América, idem, nem mesmo um gesto que pudesse ajudar os brasileiros vítimas da Covid. Uma omissão histórica bem superior à vergonha moral do 7x1 para a Alemanha na Copa de 2014.

Na breve cerimônia de abertura, um médico e um enfermeiro, representando a turma da linha de frente dos hospitais, entrou no estádio Mané Garrincha com a taça da competição. Muito pouco, dona Conmebol. A melhor homenagem, porém, seria ter evitado a realização do torneio, como defenderam dezenas de infectologistas e autoridades em saúde pública. Não foi em vão que grandes patrocinadores oficiais, como Ambev e Mastercard, retiraram suas marcas do evento. Essa Copa América, também chamada de Cepa América, queima o filme. Não serve à imagem de ninguém, a não ser para redundar a frieza e o negacionismo presidencial.

Xico Sá, escritor e jornalista, é autor de “Os machões dançaram —crônicas de amor & sexo em tempo de homens vacilões” (editora Record).

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