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Copa América
Opinião
Texto em que o autor defende ideias e chega a conclusões basadas na sua interpretação dos fatos e dados ao seu dispor

Copa América, o futebol sem comunidade

Finalmente, a Eurocopa e a Copa América acontecem em meio à pandemia e nos concentraremos uma vez mais nas “pequenas alegrias que o futebol dá às pessoas”. E onde ficam as alegrias que as pessoas dão ao futebol?

Copa América 2021
Empregado no campo do estádio Mané Garrincha, em Brasília, que receberá a abertura da Copa América.Joédson Alves (EFE)
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BRA100. BRASÍLIA (BRASIL), 12/06/2021.- Empleados trabajan hoy, en el campo del estadio Mané Garrincha que acogerá la inauguración de la Copa América en la ciudad de Brasilia (Brasil). La Copa América 2021 ser realizará en cuatro ciudades de Brasil del 13 de junio al 10 de julio. EFE/Joédson Alves
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A América Latina vive constantemente na linha tênue que divide a ordem do caos absoluto. Sempre no limite, essa proximidade do ponto de ebulição gera uma tensão permanente que, por sua vez, a leva a sobreviver e a continuar operando. Um ato de equilibrista sobre um fio tão estreito que também é o eixo reitor de sua magia. É essa tensão entre caos e ordem que novamente se manifesta em torno de uma de suas maiores expressões coletivas: a Copa América de Futebol.

A festa que em 2019 rendeu mais de 100 milhões de dólares (cerca de 511 milhões de reais) em receitas financeiras tornou-se um caldo de cultivo de oportunismo político, obrigações comerciais, ausência de solidariedade coletiva, indignação popular e também de esperança futebolística renovada. Em vez de estádios lotados, cor, calor e antigas rivalidades, o torneio se tornou um reflexo das tensões da região e do impacto da pandemia de covid-19.

Na Europa, eterna rival, mas também referência permanente, se pensa que sua competição —a Eurocopa de Nações— será um símbolo de recuperação, de novos brios, de resiliência e de superação; na América do Sul tornou-se um símbolo de separação e polarização. No entanto, o torneio na Europa também é sinal de arrogância e megalomania. A Euro 2020 não mudou sequer de nome porque os souvenires já tinham sido mandados fazer e o desenho do logo já tinha sido pago. Quando foi anunciado no ano passado que o torneio seria adiado, os dirigentes se deram inclusive ao luxo de mencionar a data em que o torneio seria retomado. Aqueles que dirigem o futebol se sentiam —e se sentem— com a capacidade de dizer como e quando o mundo voltará a girar.

O futebol, eurocentrista e arrogante, salpica sua essência sobre o resto das regiões e indústrias. Pensa que não está sujeito às mesmas regras que o resto da comunidade com a qual busca se conectar e graças à qual existe. Talvez não esteja equivocado; finalmente os torneios acontecerão e nos concentraremos uma vez mais nessas pequenas alegrias que o futebol dá às pessoas. E onde ficam as alegrias que as pessoas dão ao futebol?

Como deixar de lado o fato de que o futebol existe graças ao seu senso de comunidade? É justamente o coletivo que lhe dá vida, o que faz com que o esporte mais popular do mundo possa existir e se reinventar diante de cada grande tragédia que atravessa a humanidade e diante de cada grande fracasso que enfrenta como consequência da má gestão de alguns poucos. Quando mais se necessitava que a América Latina se alimentasse de solidariedade, que por meio da colaboração enfrentasse os desafios que a levaram a ser a região mais afetada pela pandemia, foi aí que seus dirigentes políticos e futebolísticos se esqueceram, mais uma vez, do motor deste espetáculo que tanto lhes dá: o público.

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O jogo da batata quente fez com que a Colômbia não pudesse encarar suas responsabilidades dada a repressão inescrupulosa e violenta de seus manifestantes, que a Argentina não quisesse ceder e a Conmebol tampouco. Enquanto isso, o Brasil, liderado por Bolsonaro, aproveita qualquer oportunidade para se posicionar geopoliticamente por meio de seu esporte favorito enquanto seu povo desesperado foge da morte. No entanto, o anúncio da Confederação agradeceu ao presidente e sua equipe por abrirem as portas para “aquele que é hoje o evento esportivo mais seguro do mundo”. Um reconhecimento surreal para um país em que já morreram cerca de meio milhão de pessoas. No entanto, o futebol continua, por isso todos podemos ficar tranquilos.

O escritor uruguaio Eduardo Galeano menciona em seu livro As Veias Abertas da América Latina que “quanto mais cobiçado pelo mercado mundial, maior é a desgraça que um produto traz consigo para o povo latino-americano que, com seu sacrifício, o cria”. Nada mais apropriado para um momento em que o futebol, mais uma vez, ficou devendo à sua gente.

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