_
_
_
_
Governo Bolsonaro
Coluna
Artigos de opinião escritos ao estilo de seu autor. Estes textos se devem basear em fatos verificados e devem ser respeitosos para com as pessoas, embora suas ações se possam criticar. Todos os artigos de opinião escritos por indivíduos exteriores à equipe do EL PAÍS devem apresentar, junto com o nome do autor (independentemente do seu maior ou menor reconhecimento), um rodapé indicando o seu cargo, título académico, filiação política (caso exista) e ocupação principal, ou a ocupação relacionada com o tópico em questão

Batucada a passo de ganso

Nem o povo brasileiro nem a comunidade judaica merecem o imperdoável golpe de infinita estupidez que o secretário da Cultura de Bolsonaro acaba de disparar

Ilustração para coluna do Jorge F. Hernández

O povo brasileiro, a comunidade judaica do mundo inteiro, os herdeiros – tatuados ou não – da Shoah e absolutamente todos os seres pensantes, racionais e sensíveis do planeta chamado Terra (além de todas e cada uma das crianças) não merecem o imperdoável golpe de infinita estupidez e delírio que Roberto Alvim, secretário de Cultura do Governo brasileiro presidido por Jair Bolsonaro, acaba de disparar. Apesar de ter sido demitido de maneira fulminante pelo presidente, cabe desejar a Roberto Alvim um longo martírio de escárnio e uma penitência ininterrupta para o resto de seus dias; não lhe desejo o forno (que achará no Inferno) nem o paredão que possivelmente merece, e sim uma longa tortura de décadas, atado a uma cadeira que lhe permita ver de maneira ininterrupta filmes intermináveis de consciência e solidariedade, de piedade e comiseração, de vítimas que souberam vencer seus algozes e de anciões que jamais hão de esquecer, herdando por gerações a memória viva de todo o Holocausto.

Mais informações
Adolf Hitler saluda a las juventudes del partido nazi en Núremberg, en 1933.
Por que votamos em Hitler
Hitler y Goebbels, en Berchtesgaden en 1943.
Goebbels, propagandista superestimado

Acontece que o imbecil do Alvim teve a ideia de citar Joseph Goebbels em um inflamado discurso a favor da “nova cultura nacionalista brasileira”. Ordem e progresso to the max, numa estultice esquizofrênica que ele quis minimizar como “coincidência retórica” e cuja esmagadora infâmia motivou que até o próprio Bolsonaro tivesse que demiti-lo (sem eliminar a dúvida de que, no fundo, seus colaboradores e seus ministros sincronizam com uma filiação fascistoide que ele mesmo exala). O pior é que Roberto Alvim ainda tentou se livrar do escândalo imperdoável argumentando que as palavras plagiadas de Goebbels não foram transcrição, e sim coincidência; com isso, praticamente estava colocando o bigodinho de Carlitos, confirmando que o pior veneno dos neonazistas, supra-trumpistas, supra-supremacistas etc. é justamente que seus discursos coincidam com a saliva de Hitler ou a baba de Goebbels, ou com a vozinha esganiçada de Franco e o histrionismo sinistro de Mussolini, passando quase despercebida a rede ominosa de coincidências enquanto os novos fascistas imploram o império de seus nacionalismos xenófobos, suas elevadas aspirações assassinas.

As palavras de Roberto Alvim seguiram a sombra oprobiosa do ministro da Economia, Paulo Guedes, que não só justificou como também comemorou a repressão da velha ditadura militar brasileira ao defender o decreto AI-5, conhecido como “o golpe dentro do golpe”, uma bestialidade mental homenageada pelo próprio filho de Bolsonaro, que não negou suas celebrações a torturadores militares da velha ditadura. Nesse clima repugnante, ocorreu a Roberto Alvim vociferar em favor da “arte nacionalista”, que “será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada". Choram a Bossa Nova e o gingado do Samba, choram a praia da Copacabana e os amores no meio da selva, choram o lindo idioma da saudade e milhões de almas livres que não merecem senão enxergar de longe, pendurados na sua própria condenação ou língua, os tiranos descerebrados.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_