Ministro do Peru se demite após fazer festa durante a pandemia, na quarta renúncia do Governo Castillo
Uma vizinha ainda tentou fornecer um álibi a Luis Barranzuela, do Interior, mas ele se viu forçado a sair 48 horas após a crise
O ministro peruano do Interior, Luis Barranzuela, renunciou após dois dias de polêmica por ter realizado uma festa em sua casa na noite de domingo, Dia da Canção Crioula e do Halloween, apesar de um decreto governamental que proíbe as reuniões sociais. A norma, aprovada em julho, busca evitar o aumento de contágios por covid-19. Na semana passada, antecipando-se ao dia festivo, o próprio Ministério do Interior lembrou aos cidadãos que era proibido organizar reuniões em suas residências.
Barranzuela é o quarto membro do Executivo a renunciar por algum tipo de escândalo desde o início do Governo do presidente Pedro Castillo. Com a saída do ministro, Castillo, às vésperas de completar 100 dias de mandato, livrou-se de outro homem de confiança de Vladimir Cerrón, o líder e fundador do Peru Livre que convidou o professor rural a ser candidato presidencial por seu partido de esquerda e que ameaçava ser um presidente na sombra.
“Anuncio que recebi e aceitei a renúncia do ministro do Interior Luis Barranzuela. Nas próximas horas, tomarei o juramento do sucessor. Nosso compromisso continua sendo o de garantir a governabilidade do país”, anunciou o mandatário no Twitter dois minutos depois que o ministro informou sua saída por meio da mesma rede social.
A festa de Barranzuela, com música alta, incomodou seus vizinhos no distrito de Surco, que se queixaram à polícia municipal. O canal de televisão Latina chegou a gravar imagens da celebração, de uma pessoa que cuidava da porta e tinha uma taça de cristal na mão, e de convidados que saíam rapidamente tentando evitar as câmeras.
Na segunda-feira, a primeira-ministra Mirtha Vásquez pediu explicações ao titular do Interior. Barranzuela negou que tivesse realizado uma festa e alegou que se tratava de uma reunião de trabalho. No final do dia, Vásquez qualificou de inaceitáveis as explicações de Barranzuela e disse que na terça-feira, quando o presidente voltasse de uma viagem, seriam tomadas “as medidas cabíveis”.
Barranzuela tentou até o fim se manter no cargo. Em sua defesa veio o congressista do Peru Livre Guillermo Bermejo, também ligado a Cerrón, que comentou à imprensa na segunda-feira que a música crioula a todo volume vinha de uma casa vizinha, não da residência do ministro. O parlamentar foi um dos que participaram da reunião em Surco e saiu às pressas para evitar a aproximação de jornalistas. Ainda se tentou manter o álibi ao meio-dia de terça-feira, quando uma moradora da casa contígua à do ministro declarou à imprensa que na noite de domingo ela esteve bebendo com seu marido e que sua música, não a do ministro, é que havia irritado a vizinhança.
Vestida com um robe amarelo, a mulher apareceu diante das câmeras para mostrar uma lista de músicas em seu celular e uma caixa de som de tamanho médio em sua casa. Horas depois, o mesmo canal de televisão que gravou as imagens da festa de domingo desmontou o álibi ao mostrar, nessa gravação, a mesma vizinha de pé em sua varanda. Ela também havia sido gravada quando levava seu cachorro para a rua naquela ocasião. A versão a favor do ex-advogado de Cerrón desmoronou em poucas horas.
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