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Com vitória que não garante Governo, sociais-democratas discutem coalizão com Verdes e liberais

Olaf Scholz, do Partido Social-democrata (SPD), vence por uma pequena margem o CDU de Angela Merkel, mas precisa se unir a outras forças no Parlamento para assumir o cargo

Olaf Scholz, candidato social-democrata a primeiro-ministro da Alemanha, nesta segunda-feira na sede do partido em Berlim.
Olaf Scholz, candidato social-democrata a primeiro-ministro da Alemanha, nesta segunda-feira na sede do partido em Berlim.ODD ANDERSEN (AFP)
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Faz tempo que a Casa Willy Brandt, sede do Partido Social-Democrata (SPD) da Alemanha, não vivia um dia tão feliz. Um homem e duas mulheres, cada um segurando um buquê de flores, eram a viva imagem da vitória na manhã desta segunda-feira. Olaf Scholz, vencedor por margem mínima nas eleições federais da véspera, comparecia ao lado de Franzisca Giffey e Manuela Schwesig, também ganhadoras do pleito de domingo em Berlim e no pequeno Estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, respectivamente. O SPD tem motivos para comemorar.

Após duas décadas de derrotas, Scholz argumenta que os alemães agora lhe deram um voto de confiança para formar um Governo tripartite com Os Verdes e o Partido Democrático Liberal (FDP, na sigla em alemão). “Os eleitores falaram com clareza. Reforçaram os três partidos e, portanto, temos um mandato muito claro para construirmos o próximo Governo entre nós três”, declarou o candidato do SPD, que no domingo obteve 25,7% dos votos, contra 24,1% da União Democrata-Cristã (CDU) de Armin Laschet. Este resultado representa, segundo Scholz, que a CDU “recebeu o recado de que deve passar à oposição”.

Os sociais-democratas se sentem legitimados a liderar o Governo pela primeira vez desde 2005, quando Gerhard Schröder perdeu – por uma margem ainda mais estreita que a de agora, apenas 0,8 ponto percentual – para uma Angela Merkel que parecia muito enfraquecida. Mas isso não significa que a questão esteja resolvida. Porque, apesar de a CDU ter sofrido o pior resultado da sua história, Laschet deixou claro que não pensa em se render. Sua saída do Governo acarretaria, muito provavelmente, a sua morte política.

A batalha será dura. E Scholz tem a seu favor a legitimidade de ter ficado em primeiro lugar com um forte respaldo eleitoral, frente ao castigo inédito à CDU de Laschet. Mas a lei alemã é clara: será chanceler (primeiro-ministro) quem tiver mais deputados a seu favor, e os dois candidatos estão nesse jogo. Não seria a primeira vez que um chanceler não procede da formação mais votada. Aconteceu em três ocasiões, nas décadas de 1960, 70 e 80, quando os liberais preferiram apoiar os sociais-democratas Willy Brandt e Helmut Schmidt frente aos candidatos da CDU.

Nesta segunda-feira, Scholz se referiu a esse “bem-sucedido” passado de cooperação social-liberal sob os chanceleres Brandt e Schmidt e à experiência de Governo com Os Verdes sob Gerhard Schröder para ressaltar as bases negociadoras que se abrem a partir de agora. O homem-chave nesta disputa será Christian Lindner, líder do FDP, inicialmente mais próximo da CDU. Lindner, que aspira a se tornar ministro das Finanças, promete que só participará de um governo que se comprometa a não elevar impostos e manter a disciplina fiscal. Os Verdes – liderados por Annalena Baerbock, possível futura ministra de Relações Exteriores, e Robert Habeck, que também terá um papel muito relevante – ressaltam por sua vez que com eles a Alemanha tem que obter a neutralidade climática nos próximos 20 anos, ou seja, cinco anos antes da meta adotada pelo SPD.

Scholz foi bem claro: os três partidos têm margem para um acordo envolvendo ideias que sejam um avanço para a Alemanha. Os Verdes insistirão nos aspectos relacionados à mudança climática, e os liberais, na modernização do país.

O debate durante a campanha mostrou que Os Verdes e o FDP entram muito fortalecidos nas negociações. E tanto Scholz como Laschet parecem dispostos a lhes dar o que pedirem para conseguirem o cargo de chanceler. Mas tudo isto está só começando. A dança das cadeiras, de cargos e de negociações vai se prolongar durante semanas. Scholz, que na noite da eleição disse ter esperança de selar um acordo antes do Natal, acrescentou nesta segunda-feira que as negociações serão conduzidas com “pragmatismo e calma”. Os alemães já sabem que ingredientes pediram, mas desconhecem qual é o prato que vão receber.

As farpas já estão sendo disparadas em Munique, onde na manhã de segunda-feira se reúne a cúpula da CSU (versão local da CDU). O chefe dessa bancada, Alexander Dobrindt, criticou a campanha democrata-cristã, entre outras coisas, pela fraqueza do seu candidato a chanceler, segundo noticiou o jornal Die Welt. E o presidente do partido, Markus Söder, disse que não se deve relativizar a derrota. Laschet está consciente de que precisa a todo custo convencer Os Verdes e os liberais a serem seu par nesta dança, em vez de Scholz.

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