Iván Duque defende reforma policial “drástica” após onda de protestos na Colômbia

Presidente da Colômbia afirmou que governo será rigoroso com as condutas contrárias à Constituição e que proposta é antídoto contra os excessos demonstrados nos protestos de abril

Iván Duque nesta quarta-feira no Hotel Ritz em Madri.INMA FLORES (EL PAIS)
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Iván Duque, presidente da Colômbia desde agosto de 2018, encara a reta final de seu mandato consciente de que a onda de protestos que eclodiu no seu país em abril marcará irremediavelmente seu legado. O governante, em visita oficial à Espanha, se esforça em exibir um trabalho atraente para o cidadão médio do seu país e, ao mesmo tempo, para o investidor externo. Afável e de maneiras delicadas, Duque defende sua gestão aferrando-se a medidas como a vacinação maciça e a melhora na educação universitária. “O momento dos protestos nos serve para transformar a adversidade em oportunidade”, disse em conversa com o EL PAÍS poucas horas depois de aterrissar em Madri nesta quarta-feira.

Perguntado sobre a marca desses episódios – que deixaram mais de 50 mortos e 2.000 feridos – para o seu mandato, o presidente muda rapidamente o foco para outro terreno: “Não sei se o marca; foi uma situação difícil que se enfrentou. O importante é o legado estrutural que estamos deixando, centrado na equidade, com as mais importantes leis de investimentos sociais e reforma fiscal deste século”. O líder colombiano aplica uma espécie de equidistância na análise das reformas derivadas desses episódios de protestos. As mudanças legais, diz ele, “garantem o protesto pacífico e a tolerância zero contra qualquer conduta de membros das forças públicas contrária à Constituição e com qualquer conduta de um cidadão contra a força pública”.

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No entanto, o governante, que desde o começo do mandato mantém baixos índices de popularidade, não evita discutir os episódios de abusos policiais registrados naquelas jornadas: “Avançou-se por parte do Ministério Público e nas investigações internas. Já foram tomadas decisões a respeito de alguns membros das forças públicas quando havia prova de que sua atuação foi contrária à Constituição. Espero que antes do final do ano tenhamos uma situação muito mais clara para mostrar essa tolerância zero”. As modificações implicam mudanças para a polícia nacional: “Uma nova metodologia no escalão de promoções e uma modificação do regime disciplinar para sermos ainda mais drásticos com as condutas contrárias à Constituição”. Com a mesma ênfase que emprega ao destacar outras medidas de seu Governo, não hesita em definir essa legislação como “a reforma mais importante do século na polícia nacional”.

Se a violência empregada para conter os protestos erodiu a reputação da Colômbia, uma medida muito diferente, a regularização dos venezuelanos que fogem do país vizinho, recebeu, apenas dois meses antes, grandes elogios internacionais. “Esses 1,8 milhão de pessoas já estavam na Colômbia, mas eram invisíveis. Com o status de proteção temporária, antes do final do ano haverá um milhão de pessoas cobertas, e outras 800.000 no primeiro semestre [de 2022]”, promete. Sabedor de que esse coletivo também suscita certo receio entre os colombianos, Duque salienta os aspectos dessa decisão que melhoram a segurança pública e afugentam a competição por postos de trabalho. “Qualquer migrante que cometer atos contra a lei está agora registrado e pode ser submetido à lei. E esse venezuelano, que ganhava abaixo do que se pagava a um colombiano, não pode mais ser contratado por menos. Os estudos que fizemos demonstram que a imigração fraterna e bem dirigida representa algo positivo para o desenvolvimento econômico.”

Mas dentro desse contexto ele destaca que o gesto “não pode ser ilimitado” e que seria fundamental “que a Venezuela faça uma transição rápida para a democracia”. Duque evita demonstrar confiança total no processo de diálogo aberto recentemente entre Governo e oposição na Venezuela, mas admite: “Pela pressão internacional, a ditadura [em referência ao regime de Nicolás Maduro] não teve outro remédio senão sentar-se à mesa. É um feito muito importante. Mas o objetivo precisa ser o de eleições presidenciais rapidamente.”

Apesar de esboçar essas reflexões políticas, Duque trata de não se afastar do motivo que o leva à Espanha: apresentar seu país como um terreno fértil para investimentos. O presidente, que se reúne nesta quinta-feira com o rei Felipe VI e com o chefe de governo Pedro Sánchez, aspira a poder amarrar com as empresas espanholas “um investimento superior a dois bilhões de dólares [10,4 bilhões de euros] para os próximos anos”. Seu trabalho à frente do país latino-americano acabará muito antes, depois das eleições de maio de 2022.

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