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Peru chega à era Castillo em meio a muitas incertezas

“Pela primeira vez este país será governado por um campesino”, afirmou em seu discurso de posse. O professor rural informou que os nomes de seus ministros só serão conhecidos na sexta-feira. Castillo não deve ter tranquilidade para governar já que terá o Congresso contra ele

Pedro Castillo durante sua posse como presidente do Peru.
Pedro Castillo durante sua posse como presidente do Peru.CASA S.M. EL REY/Francisco Gómez (CASA S.M. EL REY/EFE)

Chegou a hora de Pedro Castillo. O professor de uma pequena escola nos Andes reuniu sua família e um pastor evangélico ao redor da mesa da cozinha de casa, no começo do ano, para anunciar que iria se candidatar à presidência. Era, à época, um sindicalista pouco conhecido. As possibilidades de que tivesse sucesso pareciam distantes. Oito meses depois, após uma exaustiva campanha que dividiu o país, Castillo assume o cargo de presidente. Sua posse coincide com uma data histórica, os 200 anos de independência do Peru. “Pela primera vez este país será governado por um campesino”, afirmou em seu discurso de posse nesta quarta-feira. Castillo criticou as castas e diferenças que começaram “com a era colonial e ainda persistem”. O novo presidente garantiu que desta vez “um governo do povo veio governar com o povo e para o povo construir a partir de baixo”.

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O momento chega cercado de incertezas. Pouco antes do início do ato, o professor rural informou que os nomes de seus ministros, que também deveriam ser empossados na quarta-feira, só serão conhecidos na sexta-feira, o que prolonga a incerteza sobre o próximo Gabinete. Vladimir Cerrón, o líder de seu partido e quem o convidou a se candidatar pela formação, tenta colocar o maior número de pessoas de seu entorno nos postos de importância do Governo. Cerrón é um político de esquerda radical alinhado a Cuba e à Venezuela. Em um evento recente do partido que ele mesmo criou lançou algumas mensagens veladas a Castillo: “Se o Governo se desviar, é o partido que precisa recolocá-lo no caminho”. Castillo, até agora, resistiu às pressões e pensa em colocar pessoas de seu entorno e de perfil mais de centro, como o economista Pedro Francke no ministério da Economia. O que fica claro é que a tensão entre Cerrón e o presidente pode ser uma constante.

Sua vitória nas urnas, questionada por sua rival Keiko Fujimori, não foi rapidamente reconhecida no âmbito internacional. O candidato incomum, um político nada usual, causava estranheza. Os observadores internacionais não detectaram nenhuma anomalia no processo eleitoral. Apesar disso, os Estados Unidos e a União Europeia demoraram três semanas a reconhecer que as eleições foram limpas. Sua posse, entretanto, terá nomes importantes. O Rei da Espanha, Felipe VI (com quem teve uma reunião), e cinco presidentes sul-americanos, entre eles o colombiano Iván Duque, estiveram no ato nas primeiras filas.

Castillo não terá tranquilidade para governar, se é que isso é possível no Peru. Terá o Congresso contra ele. Seu partido não está na mesa diretora e só tem 37 cadeiras, de um total de 130. Durante a campanha do segundo turno, os grupos políticos que dominam o novo Parlamento apoiaram Fujimori. Apesar dos obstáculos, 50% dos peruanos, segundo uma pesquisa do Instituto de Estudos Peruanos, veem seu futuro Governo com esperança e confiança. De acordo com uma pesquisa do Ipsos Peru, 75% dos peruanos esperam que ele dê prioridade aos serviços de saúde e ao avanço da vacinação contra a covid-19. Tem trabalho pela frente.

O professor foi proclamado como presidente há oito dias somente. O partido fujimorista Força Popular entrou –sem provas de irregularidades– com centenas de recursos para anular milhares de votos de Castillo, atrasar a posse e plantar dúvidas sobre a legitimidade e limpeza do processo eleitoral. 80% dos pesquisados desaprovam a conduta de Fujimori, cujos pedidos foram indeferidos. Na terça-feira foi publicado o relatório final da missão de observação eleitoral da União Europeia. “As eleições foram em geral críveis e íntegras, de acordo com os compromissos e obrigações nacionais e internacionais”, diz o documento.

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O futuro Governo é visto com incerteza por 29% da população, em parte pelo mistério que ainda envolve o gabinete de Castillo. Até agora não está claro se a vice-presidenta, Dina Boluarte, assumirá como presidenta do Conselho de Ministros ou se será Roger Nájar, um político cercado de polêmicas, muito próximo a Cerrón. A conduta deste último foi muito beligerante nos últimos dias. Chamou Francke depreciativamente de Chicago boy. Esse é o modo como é conhecido um grupo de economistas chilenos liberais que assessorou o ditador Augusto Pinochet. Além disso, dezenas de seguidores do partido se colocaram diante do edifício em que Castillo está morando nessas semanas para exigir que ele coloque o maior número de membros da formação no Governo. Castillo revelará na quinta-feira, ao nomear sua equipe, o caminho tomado. O Peru aguarda o momento com ansiedade.

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