Inundações no centro da China deixam pelo menos 16 mortos e 200.000 desabrigados

Pequim mobiliza o Exército contra a ameaça de rompimento de duas represas da província de Henan, próximas da sua capital, Zhengzhou, e da cidade de Luoyang

Uma avenida alagada pelas chuvas torrenciais na cidade de Zhengzhou, província de Henan (centro da China), em 20 de julho.SplashNews.com (GTRES)

As inundações causadas pelas fortes chuvas dos últimos três dias no centro da China deixaram pelo menos 16 mortos e 200.000 desabrigados. O temporal, que lançou em 72 horas o equivalente a um ano inteiro de precipitações, também levou o Governo a mobilizar o Exército contra a ameaça de rompimento de uma barragem próxima a Zhengzhou, capital da província de Henan e cidade mais afetada pelo desastre meteorológico, com seus 10 milhões de habitantes. Uma segunda represa perto de Luoyang, cidade da mesma província com sete milhões de habitantes, também ameaça se romper.

Bairros inteiros alagados e convertidos em lodaçais; cidadãos arrastados pela força da água em avenidas transformadas em autênticos rios; veículos submersos; hospitais inundados e sem eletricidade; estações de metrô cheias de água, com passageiros se afogando dentro dos vagões. É o cenário revelado por vídeos de Zhengzhou que circulam na mídia local.

Mais informações
Temporais causam inundações na Alemanha, que deixam dezenas de mortos e desaparecidos
Mortes por inundações na Alemanha e Bélgica sobem para mais de 120
As crises simultâneas que engolem o Amazonas: enchente, onda de violência e covid-19

O Governo dessa cidade, situada à beira do rio Amarelo, 650 quilômetros a sudoeste de Pequim, disse que 12 dos mortos estavam em uma linha de metrô alagada, de onde outros 500 passageiros puderam ser resgatados. Um vídeo divulgado nas redes sociais mostrava os viajantes às escuras dentro de um vagão, cobertos até o pescoço com uma água turva, assim como uma estação subterrânea alagada.

“A água chegava no meu peito”, escreveu um sobrevivente na internet. “Tive muito medo, mas o mais assustador não era a água, e sim o ar que começava a faltar no vagão.”

Pouco antes, as chuvas torrenciais tinham provocado a suspensão do serviço municipal de ônibus, que funciona com eletricidade, disse à Reuters um cidadão que se identificou apenas como Guo. Sem ônibus, “muita gente tomou o metrô e a tragédia aconteceu”, acrescentou esse homem, que se viu obrigado a pernoitar no seu local de trabalho.

Da noite de sábado até o final da terça-feira caíram 617 litros de chuva em Zhengzhou, quantidade quase igual à média anual de precipitações da cidade. De acordo com os meteorologistas da imprensa local, é algo que só se vê uma vez a cada “mil anos”. Estas chuvas tão inusuais fizeram com que vários rios transbordassem na vasta bacia do rio Amarelo.

A situação de dezenas de reservatórios e barragens preocupa especialmente as autoridades chinesas. Além do risco de transbordamento de muitas dessas infraestruturas, duas barragens estão com seus muros rachados. Em Luoyang, uma cidade de sete milhões de habitantes a oeste de Zhengzhou, o reservatório de Yihetan tem uma rachadura de 20 metros no muro de contenção, confirmou um comunicado do Exército chinês, que alertou que a barragem “pode colapsar a qualquer momento”. O Exército também anunciou que enviou soldados para desviar as subidas de nível dos rios com explosões de dinamite controladas.

Apoie a produção de notícias como esta. Assine o EL PAÍS por 30 dias por 1 US$

Clique aqui

Em Zhengzhou, a sede local de controle de enchentes, anunciou que outra barragem, a do reservatório de água de Guojiazui, que abastece os moradores da cidade, também está rachada.

A província de Henan é um importante centro logístico no centro da China, sede de importantes empresas automobilísticas e de telecomunicações. Muitas delas tiveram de interromper a produção e fornecer alojamento e alimentação aos empregados. Outros residentes da cidade tiveram de passar a noite em bibliotecas, museus e até mesmo em salas de cinema. A imprensa local informou que havia crianças pequenas presas em seus berçários desde terça-feira.

Vários hospitais, entre eles o da Universidade de Zhengzhou, o maior da cidade, com mais de 7.000 leitos, ficaram sem eletricidade e até mesmo sem suprimentos de reserva, razão pela qual foi necessário encontrar transporte para realocar cerca de 600 pacientes em estado crítico.

O presidente chinês, Xi Jinping, exigiu em uma circular que as autoridades locais dessem prioridade máxima à garantia da segurança da população e de seus bens, e que as medidas de proteção contra as inundações fossem reforçadas.

Inscreva-se aqui para receber a newsletter diária do EL PAÍS Brasil: reportagens, análises, entrevistas exclusivas e as principais informações do dia no seu e-mail, de segunda a sexta. Inscreva-se também para receber nossa newsletter semanal aos sábados, com os destaques da cobertura na semana.

Mais informações

Arquivado Em