Partido de Le Pen criou “sistema fraudulento” para desviar fundos europeus, conforme investigação oficial
Parlamento Europeu eleva a 44 milhões de reais o dinheiro utilizado em “empregos fictícios” pelo Reagrupamento Nacional, revela o ‘Journal du Dimanche’
O desvio de recursos públicos europeus pelo Reagrupamento Nacional (RN) no chamado escândalo dos empregos fictícios do Parlamento Europeu foi uma ação liderada pela cúpula desse partido francês de extrema direita, liderado por Marine Le Pen, afirma neste domingo o Journal du Dimanche. A Comissão Europeia elevou para 6,8 milhões de euros (44 milhões de reais) o montante de que o RN se beneficiou por meio de um “sistema fraudulento de desvio de fundos”, pelo qual a própria Le Pen seria diretamente responsável, acrescenta o jornal dominical, citando trechos de uma investigação oficial. A líder da extrema direita, que em 2018 negou na justiça ter cometido qualquer fraude, acusa o jornal de retomar o escândalo —que envolve o seu partido desde 2015— por causa de sua boa posição nas pesquisas, tanto para as eleições regionais em junho como as presidenciais de 2022, nas quais aparece como a principal rival do presidente Emmanuel Macron.
O RN, “por intermédio de seus altos funcionários e dirigentes, criou um sistema organizado fraudulento de desvio de fundos europeus em seu benefício, por meio de empregos fictícios de assessores parlamentares”, segundo as conclusões do Escritório Central de Luta Contra a Corrupção e Delitos Financeiros e Fiscais, citadas no Journal du Dimanche. Os recursos europeus não só foram usados para pagar colaboradores que, na realidade, trabalhavam para o partido, como também alguns contratos acumulados de modo indevido, acrescentam os investigadores no relatório de 98 páginas que entregaram à juíza de instrução encarregada do caso em Paris, Claire Thépaut, em 15 de fevereiro, e que a televisão pública francesa também afirma ter visto. Os investigadores, continua o semanário, consideram que há elementos suficientes para processar 17 dirigentes, políticos eleitos e pessoas próximas do partido de extrema direita por “desvio de recursos públicos” ou “ocultação” desse crime.
Le Pen e quase duas dezenas de líderes e outras pessoas ligadas ao RN, antiga Frente Nacional, foram indiciados há cinco anos por uso fraudulento de fundos públicos europeus. Embora este “sistema” já funcionasse na época de Jean-Marie Le Pen, pai da atual líder, “parece ter ganhado toda a sua amplitude sob a presidência de Marine Le Pen, após as eleições europeias de 2014”, quando a então Frente Nacional conquistou 24 cadeiras, escreve o Journal Du Dimanche. O jornal afirma ainda que “numerosas declarações” incluídas no relatório “coincidem em apresentar Marine Le Pen como a responsável direta pelo sistema fraudulento denunciado pela polícia”.
As acusações foram rejeitadas pelo advogado de Le Pen, Rodophe Bosselut, que garantiu ao jornal que sua cliente “nunca criou um sistema fraudulento” e que “todos os assessores do Parlamento Europeu citados na investigação trabalharam alguma vez” em Bruxelas.
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Clique aquiLe Pen, que no início do mês foi absolvida em outro julgamento, por ter divulgado, em dezembro de 2015, imagens de execuções cometidas pelo grupo jihadista Estado Islâmico, questionou o momento em que esse escândalo judicial volta à tona, ainda longe de estar concluído. “O JDD, órgão oficial do poder macronista, traz à tona o mesmo caso eterno dos assessores parlamentares, como antes de cada eleição. Nada de novo sob o sol, exceto, talvez, as boas pesquisas à vista?”, ironizou Le Pen em um tuíte. O tesoureiro do RN, Wallerand Saint-Just, acusou o ministro da Justiça, Eric Dupond-Moretti, de estar por trás da “manobra política” de “vazar” para o jornal um “conjunto de imprecisões e calúnias”. O ministro enfrentará Le Pen nas eleições regionais de junho na região de Hauts-de-France (norte do país), que é o reduto da líder do RN há 15 anos.
O secretário de Estado para Assuntos Europeus, Clément Beaune, destacou neste domingo a dimensão das acusações. “O RN no Parlamento Europeu é um pouco isso de ‘pegue o dinheiro e corra”, disse ele na estação de rádio Europe1. “Estamos falando de seis milhões de euros, que é em parte dinheiro dos franceses”, recordou.
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