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Civis armados atiram em grupos indígenas e o caos toma conta de Cali

Presidente Iván Duque pede aos líderes do Conselho Regional Indígena do Cauca que suspendam os bloqueios na terceira maior cidade da Colômbia

Indígenas caminham por uma rua durante uma manifestação em Cali, neste domingo. Em vídeo, o momento em que um grupo de civis armados se retira após abrir fogo contra a ‘minga’.
Indígenas caminham por uma rua durante uma manifestação em Cali, neste domingo. Em vídeo, o momento em que um grupo de civis armados se retira após abrir fogo contra a ‘minga’.Pablo Rodríguez (EFE)
Santiago Torrado

Grupos de civis armados dispararam este domingo contra os manifestantes que participavam da minga indígena―um grupo de resistência ou mobilização―que se reuniu na cidade de Cali, cenário de violentos confrontos como parte dos protestos contra o Governo de Iván Duque, conforme denunciaram as autoridades indígenas e se observa em vídeos que inundaram as redes sociais. Em meio a bloqueios que ameaçam provocar problemas de desabastecimento, a tensão na terceira maior cidade da Colômbia, de 2,2 milhões de habitantes, escalou de forma desenfreada nos 12 dias que transcorreram desde a eclosão da mobilização social reprimida com dureza pela polícia, com pelo menos 27 mortos em todo o país.

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As “famílias ricas de Cali em união com a polícia (…) dispararam de maneira indiscriminada” contra a guarda indígena e a comunidade, denunciou o senador Feliciano Valencia, do Movimento Alternativo Indígena e Social (MAIS), um dos líderes indígenas mais reconhecidos do país. O ataque armado no bairro de Cañas Gordas, numa avenida que liga Cali à vizinha localidade de Jamundí, no departamento do Valle del Cauca, deixou nove feridos a bala, informou por sua vez a Associação de Conselhos Indígenas do Norte do Cauca (ACIN). “Persiste a perseguição de indivíduos à paisana armados, com o acompanhamento cúmplice do Exército, da polícia e do Esmad [tropa de choque]”, diz a organização em nota.

Com mais de dois milhões de habitantes, Cali é a grande metrópole do sudoeste colombiano, perto da costa do Pacífico, que funciona como um corredor para o narcotráfico e há décadas sofre com problemas de segurança, de gangues de rua a grupos armados organizados. No final do século passado, testemunhou os embates entre os grandes cartéis da droga, assim como as ações das guerrilhas, em particular os sequestros maciços. A cidade é vizinha de territórios ainda em disputa no departamento do Cauca, e as autoridades inclusive advertiram para a incipiente presença de emissários de cartéis mexicanos. As mobilizações, confrontos e distúrbios decorrentes dos protestos contra o Governo, somados à violenta repressão policial, se juntaram em Cali com um barril de pólvora.

Afligida também por uma enorme desigualdade, a situação de Cali vem se agravando desde 28 de abril, o primeiro dia de paralisação nacional convocada por centrais sindicais e organizações estudantis, à qual se somou a minga indígena. Manifestantes de todas as tendências e causas ocuparam bairros populares, onde fecharam vias, levantaram barricadas e expulsaram a força pública, incapaz de controlar os desmandos. Em lugares como Siloé e Puerto Resistencia, a presença do Estado desapareceu, e o avanço dos protestos até os bairros mais ricos preocupou os moradores e aumentou os atritos. Logo depois dos incidentes deste domingo, a Polícia Metropolitana de Cali acusou os indígenas de cometer saques, vandalismo e “incitar ao terrorismo”, algo que autoridades indígenas qualificaram como flagrantes mentiras.

As autoridades locais reclamaram com insistência a presença das forças nacionais. “Senhor presidente Iván Duque, há um protesto indígena e uma paralisação popular. É um problema político de caráter nacional que tem Cali como cenário. Este problema político exige sua visita e de todo o conglomerado nacional para ser resolvido pela via do diálogo”, declarou o prefeito da cidade, Jorge Iván Ospina. “Aqui em nosso departamento, os prefeitos dos municípios, da arquidiocese de Cali e os líderes sociais estão trabalhando nas mesas para criar os corredores humanitários, mas a questão indígena é unicamente das alavancas do Governo nacional”, apontou por sua parte a governadora do Valle del Cauca, Clara Luz Roldán. Não obtiveram a resposta desejada.

Sem entrar em detalhes sobre o incidente nem mencionar os agressores, o presidente Duque reagiu com uma declaração ao país. O mandatário pediu aos líderes do Conselho Regional Indígena do Cauca (CRIC) que ordenem aos manifestantes a volta aos seus lugares e o fim dos bloqueios viários em Cali e no acesso a Jamundí, “para evitar confrontações desnecessárias”. Também anunciou o envio de uma delegação encabeçada por seu ministro do Interior, Daniel Palacios.

“As imagens que estamos vendo na cidade de Cali merecem, de parte de todos nós, agir com toda a prudência”, declarou o mandatário, a quem diversas personalidades cobraram que viajasse com urgência à região para ver de perto a difícil situação social e de ordem pública. “Eu tomei a decisão, por prudência, de não fazer neste momento uma presença que distraia o trabalho da força pública, que deve estar mobilizada em toda a cidade, mas estou em monitoramento permanente”, declarou. Suas palavras geraram uma chuva de críticas, tanto da oposição política como de seu próprio partido, o Centro Democrático.

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