Cuba testa eficácia de suas vacinas pressionada pelo aumento de casos de covid-19
Governo anuncia a fase 3 dos ensaios clínicos dos imunizantes Soberana 02 e Abdala, enquanto registra até 1.000 contágios diários
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Com a esperança depositada no sucesso dos ensaios finais da Soberana 02 e da Abdala, as duas vacinas cubanas em etapa mais avançada de desenvolvimento, a ilha vive o pior momento da epidemia do coronavírus, com cerca de 57.000 casos confirmados desde janeiro―cinco vezes mais que durante todo o ano passado (12.056).
Embora as cifras de contágios e mortos continuem sendo baixas em comparação com as de outros países da região (259 óbitos até agora este ano, e um total de 405 desde o início da pandemia), o Governo considera que a situação é preocupante e que ainda há semanas muito difíceis pela frente, sobretudo em Havana, onde a taxa de incidência da doença nos últimos 15 dias foi de 290 casos para cada 100.000 habitantes, quase o triplo da média nacional.
A capital e a segunda cidade do país, Santiago de Cuba, são neste momento os principais focos da epidemia e onde a situação é mais complexa. Apesar do toque de recolher em Havana (a partir das 21h), do fechamento de todos os restaurantes, bares e lugares de lazer e da suspensão das aulas, a situação continua descontrolada, e as autoridades realizam reuniões diárias para avaliar as emergências e decretar fechamentos perimetrais quando identificam surtos em determinados bairros.
Há seis meses, os casos diários estavam na casa das dezenas. Hoje a média varia entre 700 e 900 (houve jornadas com mais de 1.000 casos), metade deles na capital cubana. A situação crítica do abastecimento e a escassez galopante, que provoca grandes filas e aglomerações na porta dos comércios, complica muito o controle da epidemia. E as autoridades têm pouca margem de manobra, pois não há capacidade para garantir o fornecimento estável de alimentos e artigos de primeira necessidade, justamente quando o país atravessa uma reforma monetária que gerou alta nos preços.
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Clique aquiNeste delicadíssimo momento, com a ilha mergulhada numa grave crise econômica (a queda do PIB em 2020 devido à pandemia foi de 11%), o turismo semiparalisado e uma nova Administração nos Estados Unidos que já está há meses no poder e não aliviou nenhuma das sanções de Donald Trump, a aposta no desenvolvimento de uma vacina própria para imunizar sua população se transformou para o Governo de Havana numa questão política de primeira ordem, quase de segurança nacional.
Nesta terça-feira, as principais autoridades sanitárias e científicas do país esboçaram seus planos e prioridades num programa da TV. As medidas consistem em combinar a fase 3 dos ensaios da Soberana 02 e da Abdala (da qual participam dezenas de milhares de voluntários nas províncias de Havana, Santiago de Cuba, Granma e Guantánamo) com “estudos de intervenção” maciços, ampliados a centenas de milhares de pessoas de segmentos populacionais de risco e que, no caso da capital, significará vacinar em maio e junho quase todos os habitantes (2,1 milhões de pessoas) com os imunizantes cuja eficácia é agora testada.
Assim explicou a diretora nacional de Ciência e Inovação Tecnológica do Ministério de Saúde Pública, Ileana Morales, lembrando que se trata de “uma estratégia integral que avança por camadas: primeiro, um ensaio clínico; depois, estudos de intervenção em populações de alto interesse epidemiológico, que mais tarde serão ampliadas; em seguida, um possível registro ou aprovação de uso emergencial; e, finalmente, uma vacinação em larga escala, começando pelos grupos de risco em todo o país, até chegar “a uma porcentagem que garanta a proteção em escala populacional”.
Se tudo der certo, disse Morales, Cuba começaria a vacinar as pessoas maiores de 60 anos em junho. “Entre o final de julho e os primeiros dias de agosto, estaríamos completando esses grupos, que somam cerca de quatro milhões, para começar agosto com uma média de seis milhões [de pessoas vacinadas]”, afirmou.
A fase 3 do ensaio clínico da Soberana tem ainda a participação do Irã (que recebeu 100.000 doses) e da Venezuela (60.000). O México também mostrou interesse em integrar a última etapa do desenvolvimento desta que poderia se tornar a primeira vacina latino-americana contra a covid-19. Segundo as autoridades cubanas, antes do fim do ano a ilha terá toda sua população vacinada – e dezenas de milhões de doses para exportar.
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