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Junta militar que governa Mianmar bloqueia acesso de celulares à Internet para silenciar protestos

Desde a última segunda-feira, dia do golpe militar, foram presos 133 políticos e 14 ativistas. Foram confirmadas a prisão de dois assessores da chefa ‘de facto’ do Executivo civil, Aung San Suu Kyi

Manifestante com máscara do partido de Aung San Suu Kyi, no protesto deste sábado contra a junta militar em Yangon.
Manifestante com máscara do partido de Aung San Suu Kyi, no protesto deste sábado contra a junta militar em Yangon.LYNN BO BO (EFE)
Macarena Vidal Liy
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A group of protestors hold a demonstration in Mandalay on Feb 4, 2021 after a lightning coup brought a country on the path to democracy to a shuddering halt, returning the reins of power to the military who ruled Myanmar with an iron fist for nearly five decades. (Photo by STR / STR / AFP)
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Myanmar soldier sits inside a military vehicle in front of a Hindu temple in the downtown area, in Yangon, Myanmar, February 2, 2021. REUTERS/Stringer     TPX IMAGES OF THE DAY
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A Thai pro-democracy protester gestures at riot police in Bangkok on February 1, 2021, close to where Myanmar migrants were demonstrating after Myanmar's military detained the country's de facto leader Aung San Suu Kyi and the country's president in a coup. (Photo by Lillian SUWANRUMPHA / AFP)
Mianmar sofre golpe de estado e militares detêm Aung San Suu Kyi e o presidente Win Myint

O acesso dos telefones celulares à Internet foi bloqueado neste sábado em Mianmar. A junta militar que tomou o poder na antiga Birmânia, após um golpe de Estado na última segunda-feira, endureceu o controle das comunicações dentro do país, enquanto aumentam as manifestações e outros atos de protesto contra as autoridades militares e a favor dos líderes detidos —a chefa de facto do Governo civil, Aung San Suu Kyi, e o presidente, Win Myint. Desde o motim de segunda, Mianmar está cada vez mais isolado. O Exército executa medidas próprias dos tempos da ditadura que impôs entre 1962 e 2011: detenções de ativistas e políticos, ameaças e violência contra quem participa dos protestos, com agentes antidistúrbios ao redor das manifestações.

Após os cortes intermitentes das telecomunicações na segunda-feira passada, chegou a advertência do Ministério das Informações contra a difusão de “rumores” que pudessem causar distúrbios ou desestabilizar a situação. Depois vieram os bloqueios do Facebook e de outros aplicativos vinculados a essa plataforma; mais tarde, foi a vez do Twitter e do Instagram. Neste sábado foi bloqueado o acesso à Internet a partir de celulares.

O portal Netblocks, que monitora o tráfego de Internet no mundo, confirmou que a rede de Mianmar está praticamente toda bloqueada. Desde as 14h (4h30 em Brasília), a conexão havia chegado a 16% dos níveis habituais, “com tendência de queda”. “É provável que o bloqueio de informações restrinja seriamente a cobertura dos protestos contra o golpe”, afirmou o portal. Uma das grandes empresas de telefonia independentes, a norueguesa Telenor, confirmou que recebeu a ordem de fechar o acesso para evitar a difusão de “boatos”.

O apagão da Internet veio após Yangon, a capital econômica e cidade mais populosa do país, ter sido palco da maior manifestação até o momento, com 3.000 pessoas, segundo cálculos da AFP. “Ditador militar, caia, caia! Democracia, vença, vença!”, gritavam os participantes, conforme os vídeos que puderam ser distribuídos pelas redes sociais. As imagens mostram muitos manifestantes vestidos de vermelho e preto, as cores da Liga Nacional para a Democracia (NLD), o partido de Aung San Suu Kyi. Enquanto gritavam, os participantes elevavam três dedos para cima —gesto inspirado no filme Jogos Vorazes que se transformou em símbolo dos protestos estudantis na Tailândia no ano passado. As palavras de ordem se repetiram, em menor escala, em outras localidades deste país de 54 milhões de habitantes.

O Facebook, a rede social mais popular da antiga Birmânia, com 22 milhões de contas, declarou-se “extremamente” preocupado com o apagão e exortou “insistentemente” a junta a desbloquear as redes. “Neste momento fundamental, o povo birmanês precisa ter acesso a informações importantes e se comunicar com seus seres queridos”, declarou em nota o diretor de políticas públicas da plataforma para os países emergentes da Ásia-Pacífico, Rafael Frankel. “Bloquear a Internet em meio a um golpe de Estado volátil, uma crise humanitária e uma pandemia é uma decisão imprudente e atroz”, denunciou Ming Yu Hah, subdiretora regional para campanhas da Anistia Internacional. “Um apagão prolongado colocará a população em maior risco de violações graves dos direitos humanos por parte dos militares.”

Na mesma linha se pronunciou o diretor para a Ásia da Human Rights Watch, Brad Adams. “O apagão informativo dos líderes do golpe não pode esconder as prisões motivadas politicamente e outros abusos... Os militares devem soltar imediatamente os detidos, restabelecer o acesso às informações na Internet e proteger o direito à liberdade de expressão”, afirmou.

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A Associação de Assistência para os Prisioneiros Políticos (AAPP) em Mianmar denunciou que, desde o começo do golpe, no início da madrugada de segunda-feira, foram presos 133 políticos e 14 ativistas. Na quinta, quatro participantes de um protesto na parte externa da Universidade de Medicina de Mianmar em Mandalay (segunda maior cidade do país) também foram detidos.

Nesta sexta, soube-se da prisão de presidassessor econômico da Prêmio Nobel da Paz e professor da Universidade Macquarie (Austrália).

A junta militar, liderada pelo chefe do Estado Maior, general Min Aung Hlaing, 64, justificou o golpe com o argumento de que houve uma “fraude maciça” nas eleições de 8 de novembro, quando o NLD obteve uma vitória arrasadora. Nem a comissão eleitoral nacional nem os observadores internacionais respaldaram as denúncias das Forças Armadas.

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