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Pesquisas boca de urna apontam vitória em primeiro turno do candidato de Evo Morales na Bolívia

Apurações extraoficiais mostram Luis Arce, do MAS, com 52,4% dos votos, contra 32,5% do ex-presidente Carlos Mesa. A presidenta interina, Jeanine Áñez, reconheceu o resultado

David Choquehuanca (à esquerda), candidato a vice-presidente pelo MAS, junto ao líder das pesquisas Luis Arce, durante a madrugada desta segunda.
David Choquehuanca (à esquerda), candidato a vice-presidente pelo MAS, junto ao líder das pesquisas Luis Arce, durante a madrugada desta segunda.Cortesía

Luis Arce, do Movimento ao Socialismo (MAS), o partido do ex-mandatário Evo Morales, deverá ser o novo presidente da Bolívia. Segundo duas apurações extraoficiais, Arce obteve cerca de 53% dos votos, o mesmo que Morales conseguiu em 2005, quando foi eleito pela primeira vez. O resultado causa um terremoto na política boliviana e supera as expectativas do próprio MAS, que saiu do poder de maneira violenta um ano atrás, num episódio que obrigou Morales a se exilar, iniciou uma crise política e deu lugar a um governo interino que fez da luta contra o MAS sua principal ocupação e objetivo.

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Imediatamente depois do anúncio desses resultados não-oficiais, a presidenta interina Jeanine Áñez reconheceu os números reconheceu em um tuíte. “Ainda não temos o cômputo oficial, mas, pelos dados com que contamos, o sr. Arce e o sr. (David) Choquehuanca venceram a eleição. Felicito os ganhadores e lhes peço que governem pensando na Bolívia e na democracia”, escreveu.

A divulgação dos levantamentos boca de urna demorou bem mais do que se esperava. “As empresas de pesquisas se negam a publicar o resultado da boca de urna há mais de três horas. Suspeita-se que estejam ocultando algo”, disse mais cedo Evo Morales na Argentina, onde está asilado há quase um ano. As empresas divulgaram os resultados logo depois da manifestação de Morales e alegaram que tiveram dificuldades técnicas para consolidar uma amostra confiável.

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Logo depois de saber da grande diferença a seu favor, Luis Arce proferiu um discurso notavelmente calmo: “Recuperamos a democracia e recuperamos a esperança. Nosso compromisso é trabalhar, levar nosso programa adiante. Vamos construir um Governo de unidade nacional, vamos construir a unidade deste país”. Num momento de autocrítica ―algo que Morales foi muitas vezes criticado por não fazer ―o virtual presidente eleito prometeu também “reconduzir o ‘processo de mudança’, aprendendo e superando erros”. Morales, fez postagens nas redes sociais e comemorou os números. Ele repetiu que os bolivianos “recuperaram a pátria” e festejou: “Lucho [apelido de Luis] presidente!”.

A campanha de Carlos Mesa não quis se pronunciar sobre os resultados preliminares e pediu que se espere o fim da apuração oficial.

Uma eleição em paz

As eleições na Bolívia transcorreram sem incidentes graves, com elevada participação do eleitorado e grande presença de militares e policiais nas ruas. Houve longas filas nas seções eleitorais, porque as medidas de segurança sanitária por causa da epidemia de covid-19 tornaram mais lento o procedimento de votação. Ao contrário do que se temia, os cidadãos que tinham sido convocados para trabalhar no pleito compareceram e permaneceram ao lado das urnas durante as nove horas em que estiveram abertas.

Espera-se que a apuração oficial termine ainda nesta segunda-feira, mas pode ser que se prolongue até terça ou depois. “Queremos destacar a tranquilidade da população. Os cidadãos tiveram paciência, porque a jornada teve características singulares pela necessidade que tivemos de nos adaptar aos desafios do coronavírus. A votação foi mais lenta, mas fluiu. Nosso balanço é satisfatório” resumiu Salvador Romero, presidente do Tribunal Supremo Eleitoral.

Apesar da divisão dos horários de votação para evitar aglomerações, as escolas que receberam as urnas ficaram lotadas. O voto é obrigatório na Bolívia, e o índice de abstenção é tradicionalmente muito baixo (entre 10 e 15%). Supunha-se que desta vez, por causa da pandemia, haveria menos participação das classes médias do que das classes baixas, o que poderia favorecer Arce. Na última semana, as autoridades do Governo interino e os candidatos contrários ao MAS pediram intensamente que as pessoas não deixassem de votar.

Pouco depois de finalizada a votação, Áñez apareceu na televisão junto aos ministros de Defesa e Governo (Casa Civil) e dos comandantes da Polícia e das Forças Armadas. Agradeceu à população pela tranquilidade na jornada eleitoral e recordou que os resultados oficiais ainda levarão algum tempo. Por isso pediu três coisas específicas: paciência, respeito à lei e “recordar que, antes de mais nada, somos bolivianos, acima das nossas diferenças”.

Na noite de sábado, grandes contingentes de policiais, soldados e veículos militares patrulharam as ruas das principais cidades da Bolívia. As escolas onde houve votação também estiveram fortemente custodiadas. O vice-ministro de Segurança, Wilson Santa María, publicou nas redes sociais fotos de soldados com a frase “Estamos cuidando de vocês”. A quantidade exata de agentes mobilizados foi tratada como “segredo de Estado”.

“Não tomamos o poder pela via armada. Tomamos o poder pela via democrática, entendemos que é a forma de fazê-lo”, disse o candidato Arce após votar. “Quero pedir a vocês que não caiamos em nenhum tipo de provocação. A grande lição que nunca devemos esquecer é que a violência só gera violência, e que com ela todos perdemos”, apontou Morales por sua vez. O ex-presidente também se referiu aos rumores sobre seu iminente retorno à Bolívia, que seus adversários fizeram circular nos últimos dias com o objetivo de atemorizar os eleitores urbanos que rejeitam sua figura. “Diante de tantos rumores sobre o que farei, quero lhes dizer que a prioridade é exclusivamente a recuperação da democracia”, afirmou.

O principal problema desta eleição foi a suspensão do sistema de transmissão rápida de resultados preliminares, que devia permitir que o vitorioso fosse conhecido em poucas horas. O Tribunal Eleitoral decidiu suspender essa atividade no sábado, por causa de falhas em um teste de segurança. Tratava-se de um sistema novo, pois o anterior tinha sido questionado como um dos mecanismos de fraude nas eleições que foram anuladas, por esta razão, um ano atrás. Na época, o Governo de Morales insistiu em que o mecanismo de apuração rápido não era legalmente vinculante e, portanto, suas deficiências não podiam ser consideradas como provas de uma fraude. Agora, os porta-vozes do MAS afirmam que a anulação deste mecanismo nas novas eleições lhes dava a razão: a única apuração com valor legal é a das cédulas físicas, que em 2019 foi menos questionada que a digital, embora também tenha sido considerada suspeita.

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