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Acusações sobre desprezo de Trump pelos mortos em combate põem em risco o voto militar para a reeleição

A declaração, divulgada pela ‘The Atlantic’, levou o presidente a uma resposta contundente: “Que animal diria uma coisa dessas?”

Donald Trump habla con los periodistas tras aterrizar en la base de Andrews (Maryland), el jueves por la noche. En el video, las declaraciones del presidente.Foto: AP | VIDEO: REUTERS
Yolanda Monge
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U.S. President Donald Trump responds to questions from members of the news media during a news conference at the White House in Washington, U.S., August 31, 2020. REUTERS/Leah Millis
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Indignado e tentando se fazer ouvir sob o ruído dos motores do Air Force One. depois de voltar de um comício de campanha na noite desta quinta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, negou veementemente uma informação publicada pela revista The Atlantic, segundo a qual ele se referiu aos soldados norte-americanos mortos em combate como “perdedores” e “otários”.

A menos de 60 dias das eleições presidenciais de 3 de novembro que podem tirar dele a Casa Branca ―segundo as pesquisas―, Trump está mergulhado em uma polêmica que pode lhe custar o voto de um importante segmento do qual sempre se definiu como um defensor: os militares. A revista The Atlantic afirma que em 2018 Trump se recusou a visitar um cemitério onde foram enterrados soldados norte-americanos que lutaram na Primeira Guerra Mundial na França porque a chuva persistente naquele dia estragaria seu penteado e, além do mais, ele não achava necessário homenagear os mortos na guerra.

A agência Associated Press confirmou o relato da The Atlantic, que atribui suas fontes a “quatro pessoas que escutaram a conversa ocorrida naquele dia”, embora não forneça nenhum nome. A narrativa do que aconteceu mostra um presidente insultando brutalmente os mais de 116.000 soldados norte-americanos que morreram na Primeira Guerra. Em razão da celebração do 100º aniversário do Armistício, Trump conversou com alguns de seus colaboradores mais próximos sobre a necessidade de visitar o cemitério francês. “Por que eu deveria ir a esse cemitério? Está cheio de perdedores”, disse o presidente, de acordo com The Atlantic.

Na mesma viagem, o comandante-chefe ―qualificado como “covarde-chefe” pela senadora democrata Tammy Duckworth, gravemente ferida quando foi piloto de caça no Iraque— se referiu aos marines norte-americanos mortos em ação em Belleau Wood como “otários”, por terem se deixado matar.

“Que animal diria uma coisa dessas?”

“Se realmente existem pessoas que dizem isso, são escória humana e mentirosos”, disse Trump quando o Air Force One pousou e a imprensa o esperava para escutar sua versão dos acontecimentos. “Estou disposto a jurar sobre o que quer que seja que nunca fiz tal comentário sobre nossos heróis caídos”, prosseguiu o presidente. Trump continuou a se defender, garantindo que ninguém respeita os soldados mais do que ele. E concluiu suas declarações perguntando: “Que animal diria uma coisa dessas?”

Esta não é a primeira vez que Trump mostra desprezo por aqueles que ele não considera heróis. Sua conhecida animosidade pelo senador republicano John McCain se tornou pública e patente após sua morte de câncer em 2018, quando, de acordo com The Atlantic, Trump disse à sua equipe da Casa Branca que não pensava em contribuir “para o funeral de um perdedor”. O insulto não parou aí. Sempre de acordo com a mesma publicação, Trump ficou furioso ao ver as bandeiras tremulando a meio mastro. “Por que diabos estamos fazendo isso? O cara era uma porra de um perdedor.” McCain, um ex-herói de guerra, filho e neto de almirantes, deixou claro antes de morrer de câncer no cérebro que não queria que o presidente fosse convidado para a cerimônia que seria oficiada na Catedral Nacional de Washington.

Durante sua campanha como candidato à indicação republicana para a Casa Branca, Trump já havia expressado antipatia por McCain, cinco vezes senador pelo Arizona, de forma muito clara. “Ele não é um herói de guerra. Só é porque foi capturado: prefiro os que não foram capturados.” McCain, um aviador condecorado, passou cinco anos em cativeiro e sob tortura no Vietnã.

A campanha democrata do ex-vice-presidente Joe Biden se mobilizou de imediato com uma série de duros comunicados e fortes críticas ao presidente. O próprio candidato Biden expressou dúvidas sobre a capacidade de Trump de liderar o país. “O presidente dos Estados Unidos deveria ser presidencial”, declarou Biden, que deixou claro que não tem a intenção de descer “ao esgoto” como Trump faz. “A função do presidente é servir de exemplo”, concluiu Biden.

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