Republicanos defendem a polícia e dizem que eleitores “não estarão seguros na América de Biden”

Protestos antirracismo em Wisconsin marcam a terceira jornada da convenção. O vice-presidente Pence acusa o candidato democrata de ignorar a violência nas cidades

Mike Pence, vice-presidente dos Estados Unidos, em Baltimore (Maryland), nesta quarta-feira. Em vídeo, o discurso do vice-presidente contra Joe Biden.SAUL LOEB (AFP)

Os paralelismos entre o ano de 2020 e o turbulento 1968 voltaram a aflorar na noite passada nos Estados Unidos. A escalada violenta dos protestos contra a brutalidade policial em Wisconsin, onde duas pessoas morreram, marcaram a terceira jornada da convenção republicana. O partido do presidente lançou uma mensagem simples e crucial: Donald Trump ou o desastre. O encarregado de pintar esse panorama sombrio foi o vice-presidente Mike Pence, que prestou seu apoio às forças de segurança e afirmou aos eleitores: “Vocês não estarão seguros na América de Biden”.

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Como fez Richard Nixon na convenção que abriu caminho ao seu primeiro mandato, 52 anos atrás, quando o país era um barril de pólvora, Trump procura se alçar como o presidente “da lei e da ordem”. Funcionou para Nixon, que venceu as eleições. O trumpismo repete a receita, embora com notáveis diferenças: já acumula um mandato de desgaste e enfrenta a pior pandemia em um século.

“Na semana passada, Joe Biden disse que a democracia seria votada nas urnas, mas a verdade é que o que vai se decidir nas urnas é a nossa recuperação econômica, a lei e a ordem”, afirmou Pence em seu discurso de aceitação da candidatura a vice-presidente. “A violência deve parar, seja em Minneapolis, Portland ou Kenosha”, enfatizou Pence.

O conclave republicano se reuniu em um dia acalorado, horas depois de a polícia deter um adolescente branco de 17 anos como suspeito dos disparos contra manifestantes na madrugada de terça para quarta-feira em Kenosha, a cidade de 100.000 habitantes no centro desta nova erupção social. Os disparos pelas costas feitos pela polícia contra um homem negro desataram manifestações, saques e incêndios. O boicote dos jogadores do Milwaukee Bucks (Wisconsin), que se negaram a entrar em quadra contra o racismo, obrigou a NBA (liga de basquete) a suspender a rodada dos playoffs.

Pence aproveitou seu discurso para manifestar seu respaldo às forças de segurança, submetidas a duras críticas nestes últimos meses de históricas mobilizações contra o racismo: “O presidente e eu sabemos que a cada dia, quando vocês saem para trabalhar, põem nossas vidas acima das suas”, disse, e recordou ao agente federal Dave Patrick Underwood, morto em maio passado na Califórnia, supostamente por um ativista de extrema direita. Não mencionou Jacob Blake, o afro-americano em estado grave por causa do tiroteio de domingo, nem George Floyd, cuja morte em uma detenção brutal gravada em vídeo desencadeou a maior onda de mobilizações desde justamente esse 1968 em que Martin Luther King foi assassinado.

Tampouco admitiu nenhum problema de racismo no país e atacou o candidato presidencial democrata de ter ignorado a violência nas cidades. “Joe Biden disse que os Estados Unidos são sistematicamente racistas. E que as forças de segurança têm um ‘viés implícito’ contra as minorias. A verdade é que vocês não estarão seguros na América de Joe Biden”, afirmou Pence. “Com o presidente Trump, sempre apoiaremos a polícia e não vamos reduzir seus recursos nem agora nem nunca [...]. Apoiamos as manifestações, mas os saques não são direitos de manifestação, e derrubar estátuas não é liberdade de expressão, e a lei será aplicada a quem faz isso”, acrescentou.

Uns minutos antes tinha tomado a palavra o presidente da Associação Nacional de Organizações Policiais dos Estados Unidos, Mick McHale, para apontar as críticas à polícia como motivo do aumento da violência e do uso de armas de fogo registrado em várias grandes cidades nas últimas semanas. “Infelizmente, o caos acontece quando as autoridades em cidades como Portland, Minneapolis, Chicago e Nova York tomam a decisão consciente e pública de não apoiar os agentes.”

Lara Trump, esposa de Eric, segundo filho homem do presidente, somou-se à tarefa e assegurou que “descapitalizar a polícia” é o novo lema do “radical Partido Democrata” e que Biden “não fará o necessário para manter a ordem”. O candidato democrata apontou o racismo como um problema estrutural nos Estados Unidos e apoiou medidas para evitar os abusos policiais, mas não se uniu às vozes de ativistas que exigem menos recursos para as forças de segurança. “A maior parte de agentes é boa, mas a questão é que os maus devem ser identificados e processados”, disse o vice-presidente da era Obama após a morte de George Floyd por policiais em Minneapolis.

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