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Macron troca primeiro-ministro e nomeia Jean Castex, outro conservador moderado, para o Governo francês

Atual prefeito de Prades, que administrou a desescalada após a crise do coronavírus, assume lugar de Édouard Philippe, que pediu demissão

Jean Castex deixa o Palácio do Eliseu em imagem de 19 de maio.
Jean Castex deixa o Palácio do Eliseu em imagem de 19 de maio.GONZALO FUENTES / POOL (EFE)
Marc Bassets

O primeiro-ministro francês, Édouard Philippe, apresentou nesta sexta-feira ao presidente Emmanuel Macron a demissão em bloco dos membros do Governo, incluído ele mesmo. Philippe será substituído por outro direitista moderado, Jean Castex, encarregado da desescalada depois dos meses de confinamento na França e atual prefeito de Prades, povoado de 6.000 habitantes ao pé dos Pirineus. A decisão põe em marcha o processo para mudar a equipe governamental para a nova fase política que Macron deseja inaugurar após a crise da covid-19.

O anúncio chega depois das eleições municipais de 28 de junho em que o primeiro-ministro, o membro mais popular do Governo francês, venceu com conforto no seu feudo, na cidade portuária de Havre, cargo que deveria assumir no domingo. As eleições também representaram um revés para o República em Marcha (LREM), partido de Macron, e deram a vitória a candidatos ecologistas em algumas das principais cidades francesas.

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“Édouard Philippe apresentou neste dia a demissão do Governo ao presidente da República, que a aceitou. Garante, junto aos membros do Governo, o trato dos assuntos correntes até a nomeação de um novo Governo”, anunciou a presidência em nota na manhã desta quinta. Automaticamente foi anulada a reunião ministerial marcada para a tarde. “Um novo primeiro-ministro será nomeado nas próximas horas”, anunciou o Palácio do Eliseu, sede da presidência francesa.

“Orgulhoso dos 1.145 dias de Édouard Philippe no Matignon, e graças a Emmanuel Macron por ter acreditado nele”, escreveu no Twitter o eurodeputado Gilles Bover, que até um ano atrás foi colaborador próximo de Philippe na sede do chefe de Governo.

A remodelação governamental obrigava o presidente a fazer equilíbrios. Por um lado, deu sinais de querer impor um rumo ecologista e progressista. De outro, não pode se arriscar a perder a ancoragem na direita moderada que Philippe, identificado com esta corrente, lhe garantia. Nos próximos dias será anunciada a composição do Conselho de ministros.

Castex, de 55 anos, é pouco conhecido pelo grande público, mas tem a seu favor uma comprovada eficiência como alto funcionário conhecedor das alavancas do Estado e uma ancoragem local num setor da França que se sente afastado e às vezes desprezado por Paris. Ao escolher alguém procedente da direita, que trabalhou junto ao ex-presidente Nicolas Sarkozy, Macron opta pela continuidade. Mas põe no cargo alguém que, ao contrário de Philippe, dificilmente lhe fará sombra da etapa final do seu mandato, já com os olhares postos na eleição presidencial de 2022. Prades, de onde é prefeito desde 2008, fica na parte francesa da Catalunha e é um lugar simbólico do catalanismo: lá o violoncelista Pau Casals passou etapas de seu exílio, e anualmente é a sede da Universidade Catalã de Verão.

Numa entrevista publicada nesta sexta em vários jornais regionais franceses, Macron antecipou que remodelaria o Governo, sem esclarecer se a mudança incluiria o primeiro-ministro. “[Philippe] Conduz reformas importantes e temos uma relação de confiança que, sob certo ponto de vista, é única na escala da Quinta República”, disse. “Terei que tomar decisões para conduzir o novo caminho. São novos objetivos de independência, de reconstrução, de reconciliação e novos métodos a adotar. Depois, haverá uma nova equipe.”

Édouard Philippe acompanha Macron em celebração dos 75 anos do fim da Segunda Guerra, em 8 de maio.
Édouard Philippe acompanha Macron em celebração dos 75 anos do fim da Segunda Guerra, em 8 de maio. CHARLES PLATIAU (AP)

A saída de Philippe, de 49 anos, e a nomeação de Castex marcam a primeira mudança de primeiro-ministro desde que Macron venceu as eleições presidenciais de 2017. Philippe, assim como seu sucessor, é um egresso do partido de Sarkozy, Os Republicanos (LR), mas nunca chegou a militar no LREM. À frente do Governo, capitaneou a delicada negociação da reforma previdenciária e a gestão da covid-19.

A lealdade marcou a relação de Philippe com Macron, embora nos últimos meses tenham aflorado diferenças em assuntos como a idade de aposentadoria na reforma previdenciária e o ritmo da desescalada após meses de confinamento.

Segundo a Constituição da Quinta República, fundada pelo general De Gaulle em 1958, o primeiro-ministro “dirige a ação do Governo”, mas o próprio sistema propicia a acumulação de poder por parte do chefe do Estado, que frequentemente é na prática um chefe de Governo, fazendo do primeiro-ministro uma espécie de fusível: a peça que amortece os golpes dirigidos ao presidente e pode ser substituída caso seja preciso reorientar a política governamental. É habitual que o presidente o substitua no meio do mandato. O único que exerceu o cargo durante todo o período presidencial foi François Fillon, entre 2007 e 2012, o quinquênio de Sarkozy. Dos 24 primeiros-ministros da Quinta República, só houve uma mulher: a socialista Édith Cresson.

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