Macron nomeia o conservador moderado Édouard Philippe como premiê
Novo presidente da França tenta atrair grupo político ligado ao ex-primeiro-ministro Alain Juppé
O novo presidente da França, Emmanuel Macron, nomeou nesta segunda-feira Édouard Philippe, prefeito da cidade portuária de Le Havre e membro da ala moderada da direita francesa, para o cargo de primeiro-ministro. Macron tenta assim atrair a corrente do partido Os Republicanos ligada ao ex-primeiro-ministro Alain Juppé.
Philippe é a primeira peça a se encaixar no gabinete de Macron, que tomou posse como presidente no domingo. Na terça-feira serão anunciados os nomes dos 15 ministros.
Macron inova ao escolher um primeiro-ministro de outro partido, a poucas semanas das eleições legislativas de junho. Quem dirigirá a campanha para formar maioria na Assembleia Nacional não será um membro do A República em Marcha, o recém-fundado partido do presidente, e sim um político de um partido rival, Os Republicanos.
Philippe, de 46 anos, substitui o socialista Bernard Cazeneuve. É, como Macron, um rosto novo na política nacional, pouco conhecido do grande público, mas com a experiência executiva de comandar uma cidade de 175.000 habitantes desde 2010. Também é deputado desde 2012.
O novo premiê cumpre vários requisitos que Macron buscava para ser o chefe do dia a dia governamental. Ele reforça a mudança geracional que o presidente, de 39 anos, representa melhor do que ninguém, e também a abertura transversal que ele propõe, além das divisões entre esquerda e direita.
Philippe deu seus primeiros passos políticos na ala social-democrata do Partido Socialista liderada pelo falecido Michel Rocard, um dos modelos do próprio Macron. Depois começou a colaborar com Juppé, ajudando-o a fundar a UMP, partido que deu origem aos Republicanos, o grande partido da direita tradicional da atualidade na França. Como Macron, tem experiência no setor privado.
Autor de vários livros e com um estilo afiado, Philippe definiu Macron há algumas semanas como “o representante emblemático do sistema”. Escreveu isso em um artigo no jornal esquerdista Libération, onde publicava uma coluna semanal sobre a campanha. Em outros artigos, zombou do endeusamento de Macron, da sua retórica às vezes mística (“Neste momento caminha sobre as águas. Cura os cegos, multiplica os pães, espalha a boa palavra”) e da sua inexperiência (“Ele se gaba da sua imaturidade! O país deve escolher um capitão de navio diante de uma tempestade, e Macron nos diz: ‘Sou a pessoa adequada: nunca subi num navio, mas já vi muitos’”).
Aliar-se com Philippe, formado como Macron na elitista Escola Nacional de Administração, talvez beneficie o presidente com vistas às eleições legislativas de 11 e 18 de junho, pois ele pode causar uma migração de votos de candidatos e deputados dos Republicanos para o movimento do presidente. Seriam políticos ligados a Juppé, que, além de primeiro-ministro, foi ministro de Relações Exteriores e é a figura mais destacada da direita tradicional. O moderado Juppé perdeu as primárias desse grupo para François Fillon, candidato da ala mais conservadora dos Republicanos.
Os juppeístas como Philippe viram Fillon inicialmente com ceticismo, e depois com hostilidade, quando estourou um escândalo de nepotismo envolvendo o candidato.
Além de coordenar a campanha eleitoral, Philippe será útil a Macron para executar políticas que combinam liberalismo econômico e receitas da social-democracia nórdica.
A coalizão de Macron com o juppeísmo completaria a aliança do presidente com a centro-esquerda socialista. O fenômeno Macron acelerou a crise do PS. Agora pode agravar as divisões dos Republicanos.
“Na França odiamos os partidos. Mas a democracia não existe sem eles”, escreveu Philippe em um de seus artigos no Libération durante a campanha. E acrescentou, em uma frase premonitória: “Sem eles, pode ser que as raposas que rondam o galinheiro socialista não parem por aí”.
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