Mississippi aprova retirada de símbolo confederado da sua bandeira
Estado sulista dos Estados Unidos é o último a eliminar do seu estandarte a insígnia do lado derrotado na guerra civil do século XIX
![David Flynt em frente ao Legislativo do Mississippi com um grupo que apoia a bandeira estadual atual.](https://imagenes.elpais.com/resizer/v2/OQPEHCQ57NBE5G7AIY4OIO7PP4.jpg?auth=bd0ffd4fac58f1f3e0c23cc2d05ac6fd9f95fe349f0e4ddc2d9cf84907917ee8&width=414)
![Antonia Laborde](https://imagenes.elpais.com/resizer/v2/https%3A%2F%2Fs3.amazonaws.com%2Farc-authors%2Fprisa%2Fa22f30a1-cf7e-4fb4-a8f4-22376284e8db.png?auth=95d149efb144f432f0a40fe10c27f9b6b7901712a4430e34f45ac8dad48e5412&width=100&height=100&smart=true)
Os legisladores estaduais do Mississippi aprovaram neste domingo a retirada dos símbolos confederados da sua bandeira. Esse Estado sulista é o único que ainda conserva em seu estandarte o emblema que, para os afro-americanos, é o símbolo do racismo e da escravidão que motivou a Guerra Civil (1861-65). A histórica decisão ocorre após mais de um mês de protestos contra os abusos policiais cometidos contra cidadãos negros, o que motivou uma série de mudanças, inclusive nos protocolos de atuação policial. O governador republicano do Mississippi, Tate Reeves, antecipou que apoiará a histórica decisão e que, uma vez sancionado o projeto de lei, essa bandeira estadual perderá seu status oficial depois de 126 anos.
A bandeira do Mississippi tem três faixas horizontais, nas cores azul, branco e vermelho. À esquerda, ocupando os dois terços superiores, há quadro com a bandeira confederada – 13 estrelas brancas dispostas sobre um X azul, em cima de um campo vermelho –, motivo de polêmica há mais de um século. Para seus detratores, trata-se de um dos emblemas favoritos do grupo supremacista Ku Klux Klan e do trauma sulista da escravidão e da segregação dos afro-americanos, que foi legalizada até pouco mais de 50 anos atrás. Para os que a defendem e a mostram com orgulho, a presença do símbolo confederado é um gesto identitário e um legado histórico, independente de sua conotação racial. Em 2001, o Mississippi – um Estado de maioria branca – celebrou um referendo sobre a eliminação do símbolo confederado da bandeira, e o resultado foi favorável à manutenção.
Mas quase duas décadas se passaram desde então. Agora se respira um ambiente diferente. A ferida racial está muito aberta. Embora os afro-americanos representem menos de 40% da população do Mississippi, 72% dos mortos por coronavírus são negros, segundo os dados do departamento estadual de saúde. Além disso, faz um mês que o afro-americano George Floyd foi morto por um policial branco no meio da rua, em plena luz do dia, em Minnesota, um fato que desencadeou a maior onda de protestos raciais desde o assassinato de Martin Luther King. Desde então, em muitas cidades foram derrubados monumentos de personagens que defendiam a supremacia branca e a escravidão. Inclusive o Pentágono está discutindo a possiblidade de rebatizar bases militares batizadas em homenagem a oficiais confederados que lutaram contra a União na Guerra de Secessão.
A proposta de retirar o símbolo da Confederação da bandeira estadual teve um apoio bipartidário na votação de domingo. Na Câmara de Representantes, 91 deputados votaram a favor, e 23 contra. No Senado, o placar foi de 37 x 14. Agora, o governador Reeves deve sancionar a proposta e, quando isso acontecer, haverá um prazo de 15 dias para a retirada das bandeiras. “A discussão sobre a bandeira de 1894 se tornou tão polêmica quanto a própria bandeira”, observou Reeves em nota, “e é hora de pôr um fim a isso”. A lei aprovada no Legislativo estadual também propõe a criação de uma comissão encarregada de desenhar um novo pavilhão, com o pré-requisito de que contenha a frase “Em Deus confiamos”, em inglês. Esse novo desenho será submetido a votação em novembro.
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