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Suprema Corte da Colômbia abre investigação contra Uribe por rede de espionagem no Exército

Inquérito preliminar deve esclarecer se ex-presidente recebeu informações obtidas através de monitoramentos ilegais de políticos e jornalistas

O ex-presidente Álvaro Uribe em outubro do ano passado, na Suprema Corte da Colômbia.
O ex-presidente Álvaro Uribe em outubro do ano passado, na Suprema Corte da Colômbia.Luisa González (Reuters)
Francesco Manetto

Álvaro Uribe está novamente sob a lupa da Justiça colombiana. A Suprema Corte do país anunciou nesta terça-feira a abertura de um inquérito preliminar sobre uma suposta trama de espionagem contra políticos, jornalistas e advogados de direitos humanos descoberta no Exército. Caberá à sala de instrução da máxima instância da Justiça comum da Colômbia determinar se o ex-presidente e hoje senador foi “destinatário da informação [resultante] de monitoramentos ilegais de inteligência militar em 2019”, quando já ocupava uma cadeira no Senado. A decisão, tomada em meados de maio, se baseia em um escrito anônimo, que já deu lugar à inspeção de várias unidades da força terrestre e é parte do escândalo de interceptações da inteligência militar revelado há um mês pela revista Semana.

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A rede de espionagem operou, segundo as denúncias de alguns dos implicados, entre fevereiro e dezembro do ano passado, tendo mais de 130 pessoas como alvos. Os relatórios solicitados, cheios de imprecisões e avaliações infundadas, continham detalhes sobre domicílio, escritórios, endereços de email, nomes de amigos, familiares, contatos e outros dados privados. Tratava-se de “trabalhos especiais” realizados por equipes de inteligência cibernética e supostamente encarregados por superiores. Os monitoramentos, que atingiram inclusive Jorge Mario Eastman, secretário-geral da Presidência do atual mandatário do país, Iván Duque, revelam a conduta ilegal e extemporânea de membros do Exército. As dúvidas da Justiça têm a ver com o envolvimento da rede de comando e os possíveis responsáveis políticos por essas práticas.

Depois de conhecer a dimensão deste novo escândalo de chuzadas (interceptações), o ministro da Defesa, Carlos Holmes Trujillo, anunciou que 11 oficiais seriam retirados da ativa e condenou duramente o ocorrido. "É de extrema gravidade que estas ações tenham chegado até a Casa de Nariño [sede da presidência] ou ao próprio gabinete do senhor presidente da República”, declarou. Duque venceu as eleições em 2018 com o apoio de Uribe, e, após sua posse, os setores mais radicais do Centro Democrático, o partido fundado pelo ex-mandatário, assumiram o controle da área de Defesa, uma pasta-chave num país que acaba de deixar para trás meio século de conflito armado com as FARC.

Os principais comandantes das Forças Armadas e especificamente do Exército durante 2019 eram dois homens próximos a Uribe e encontraram no chamado uribismo os seus principais protetores. Entretanto, o ex-ministro Guillermo Botero renunciou no fim do ano por ter ocultado a morte de pelo menos oito menores em um bombardeio contra grupos dissidentes da extinta guerrilha. E o comandante do Exército, Nicacio Martínez Espinel, deixou o cargo no Natal alegando motivos familiares. Este último, que nega seu envolvimento no caso, foi chamado a depor pelo Ministério Público como parte de uma investigação iniciada em janeiro a respeito de “delitos de violação ilícita de comunicações” e “utilização ilícita de equipamentos transmissores ou receptores”.

O ex-presidente, que é réu em outros processos, rejeitou a denúncia através das redes sociais. “A Corte que vaza tudo deveria explicar por que há duas investigações contra mim por causa de um anônimo covarde”, escreveu no Twitter em referência ao alto tribunal. Seu advogado, Jaime Enrique Granados Peña, minimizou a abertura do inquérito preliminar, qualificando-o em nota de “uma atuação rotineira frente a toda denúncia que chega ao conhecimento da Corte”. Mas o advogado foi além e atacou também os meios de comunicação: “Rejeito enfaticamente que se pretenda armar um escândalo midiático”.

Uribe enfrentou no final da década, durante seu segundo mandato, outro caso de espionagem orquestrada pelo extinto Departamento Administrativo de Segurança (DAS), que interceptou comunicações de juízes, jornalistas e opositores. Seu sucessor, Juan Manuel Santos, dissolveu esse organismo. Dez anos depois, os monitoramentos ilegais voltam a sacudir a Colômbia e a colocar em xeque os procedimentos do Exército, uma instituição-chave para o funcionamento democrático do país.

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