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Pedido de Madri para abrandar confinamento gera tempestade na política regional

Secretário de Saúde enviou o relatório técnico ao Governo central na última hora, sem o aval da diretora-geral de Saúde Pública, que pediu demissão

Yolanda Fontes, em uma entrevista coletiva em fevereiro.
Yolanda Fontes, em uma entrevista coletiva em fevereiro.Rodrigo Jiménez (EFE)
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A man wearing a face mask walks past a mural with tango dancers in Buenos Aires, on May 8, 2020 amid the Covid-19 coronavirus pandemic. (Photo by RONALDO SCHEMIDT / AFP)
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In this photo taken on March 12, 2020, medical workers wearing protective clothing against the COVID-19 novel coronavirus walk to a decontamination area at the Keimyung University hospital in Daegu. - South Korea -- once the largest coronavirus outbreak outside China -- saw its newly recovered patients exceed fresh infections for the first time on March 13, as it reported its lowest number of new cases for three weeks. (Photo by Ed JONES / AFP)
Espanha e Coreia do Sul, exemplos opostos de controle epidemiológico do coronavírus
14-03-20. (DVD 992). La ciudad de Madrid practicamente vacia a consecuencia del cierre de tiendas y el servicio de hosteleria por el coronavirus. En la imagen, el paseo de la Castellana.
Jaime Villanueva
Diário de como um vírus parou um país

Carmen Yolanda Fuentes, diretora-geral de Saúde Pública da Comunidade de Madri (região que inclui a capital espanhola), pediu demissão nesta quinta-feira em protesto pela decisão de solicitar que a região entre, a partir da próxima segunda, na chamada fase 1 de retirada das restrições impostas pela crise do coronavírus. Contrariando a opinião dela, o Governo regional fez a solicitação às autoridades nacionais em um documento enviado depois das 22h (hora local) de quinta. Fuentes era a principal encarregada de administrar a crise em Madri, a máxima autoridade técnica nesse âmbito. A Secretaria de Saúde alegou que os relatórios “não precisam ser assinados”. “É um documento com indicadores, com casinhas para preencher. E é entregue pela Secretaria”, disse um porta-voz.

A região de Madri é o epicentro da pandemia do coronavírus na Espanha, com mais de 67.000 casos confirmados e 15.000 mortes vinculadas à doença. A renúncia da executiva ―uma “servidora pública muito metódica e de caráter”, segundo descrevem seus colegas― culmina um momento de fortes tensões dentro do Executivo regional nos últimos dias. Os constantes vaivéns e desencontros entre os partidos PP e Ciudadanos, sócios na coalizão regional de centro-direita, impediam de conhecer a postura e os planos do Governo com relação à pandemia.

Fuentes, que já se opusera anteriormente a um relaxamento prematuro das medidas de distanciamento físico, deixou o Executivo logo antes que a presidenta (governadora) Isabel Díaz Ayuso anunciasse a nomeação como vice-secretário de Saúde Pública e coordenador do plano Covid-19 de Antonio Zapatero, que foi diretor do hospital de campanha da Ifema e é diretor do hospital de Fuenlabrada. Ele assumirá as funções de Fuentes.

Segundo a carta de renúncia de Yolanda Fuentes, a decisão do Executivo regional “não se baseou nos critérios de saúde”, pois predominaram outras questões “políticas e econômicas”

Conforme o Servimedia, Fuentes salientou na sua carta ao secretário de Saúde, Enrique Díaz Escudero, que para iniciar a desescalada do lockdown seria preciso se basear em indicadores tanto epidemiológicos como de atendimento hospitalar, e considera que Madri não os cumpre. Na mensagem, afirma que seu compromisso com a administração pública a impede de concordar com esta decisão e afirma que a solicitação “não se baseou nos critérios de saúde”, que, recorda, devem imperar sobre outras questões políticas e econômicas. Por isso, Fuentes destacava que não tinha “outra opção” senão apresentar sua demissão.

A presidenta Isabel Ayuso reconheceu nesta sexta-feira que o principal critério para solicitar ao governo que mude a região para a fase 1 não é a saúde, mas a economia, e que a renúncia de Carmen Yolanda Fuentes ocorreu porque ela não queria endossar o relatório apresentado por Madri ao Ministério da Saúde. “Um critério médico é sempre estar na posição mais cautelosa, mas para evitar qualquer recuperação, teríamos que ficar em casa para sempre”, argumentou a presidenta, que vê até o risco de um surto social se a economia não for reativada.

A decisão da Comunidade de Madri provocou estupor em outras regiões espanholas, como a vizinha Castela e Leão, que decidiu não solicitar sua passagem à fase 1, entre outros motivos, por sua incidência acumulada: é a mais alta de todas as 17 comunidades autônomas espanholas, 88,14 casos por 100.000 habitantes nos últimos 14 dias. Madri é a quinta com maior incidência (58,26), atrás também de La Rioja, Catalunha e Navarra.

Em 31 de março se deu o pico de hospitalizados, 15.227. Dois dias depois, em 2 de abril, foi a vez das UTIs baterem recordes de ocupação, com 1.528 pacientes intubados. Os hospitais madrilenhos, submetidos a uma pressão inédita, foram capazes de se adaptar em poucos dias e conseguiram multiplicar por seis sua capacidade nas unidades de pacientes críticos, e por centenas de vezes os leitos para pacientes agudos. Isso faz só um mês.

As consequências de tudo aquilo são agora as que permitem que Madri ―com o contexto atual e com os dados oficiais disponíveis― cumpra os critérios quantitativos, os dois únicos conhecidos de forma concreta, por terem sido publicados no diário oficial espanhol em 3 de maio: “Dispor ou ter acesso ou capacidade de instalar em um prazo máximo de cinco dias entre 1,5 e 2 leitos de tratamento intensivo por 10.000 habitantes, e entre 37 e 40 leitos para doentes agudos por 10.000 habitantes”.

Segundo os critérios do Ministério da Saúde, a região, com 6,64 milhões de habitantes, teria que oferecer entre 24.575 e 26.568 vagas para internação e de 996 a 1.328 leitos de UTI em caso de necessidade. A região as tem, contando com o hospital de campanha da Ifema ―que foi esvaziado de pacientes em 1º de maio, mas permanece montado para o caso de possível recrudescimento da epidemia― e com a multiplicação de leitos já providenciada pelos hospitais, transformando as suítes em quartos duplos ou até triplos. Entretanto, não cumpre a infraestrutura prevista pelo Ministério para passar de fase.

Segundo a Saúde, a avaliação partirá da incidência acumulada, os casos por 100.000 habitantes notificados nos últimos 14 dias, e a partir daí se correlacionará essa cifra com as demais variáveis: a capacidade para isolar e controlar as fontes de contágio confirmadas, ter um sistema de alerta precoce e fazer a vigilância epidemiológica necessária para identificar e conter as potenciais fontes de contágio, a capacidade de atendimento primário e hospitalar e poder garantir a proteção coletiva.

Até esta quinta-feira, a Comunidade não informou sobre reforços em termos humanos ou materiais para alcançar essas metas. Só na terça-feira a presidenta Díaz Ayuso anunciou uma prorrogação até dezembro dos mais de 8.000 profissionais contratados como reforço contra a covid-19, mas ainda não há nada formalizado. E o atendimento primário, que precisa arcar com todo o ônus de acompanhar os pacientes após a alta, fazer testes em massa e manter sua atividade habitual, tampouco foi reforçado e enfrenta esta carga extra de trabalho após anos de cortes por parte do Governo regional.

Agora, está nas mãos do Ministério da Saúde decidir se Madri e as demais regiões que assim solicitaram passarão à próxima fase da desescalada. O anúncio, a ser feito nesta sexta ou no sábado, terá consequências. “Estamos todos assustados com o que pode acontecer? Claro”, admite uma fonte governamental. “Mas é preciso tomar decisões difíceis, que é o que faz a presidenta, e não estão escritas em nenhum manual”.

O que significa entrar na fase 1?

Estas são as mudanças previstas na fase 1 de retirada das restrições na Espanha, com duração de pelo menos duas semanas: permitem-se reuniões sociais de até 10 pessoas respeitando a distância física; abertura do pequeno comércio; abertura de terraços (ocupação de até 50%); abertura de hotéis e de alojamentos turísticos excluindo zonas comuns; os locais de culto terão limitação de 30%; permite-se esporte não profissional para atividades que não impliquem contato físico nem uso de vestiários; feiras livres, com condições de distanciamento entre as bancas; espetáculos culturais para menos de 30 pessoas em lugares fechados (com um terço da lotação) e de menos de 200 pessoas ao ar livre; visita a museus limitadas a um terço da capacidade, e velórios para um número limitado de presentes.

 

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