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“Medo? Claro. Não temos máscaras nem informações reais sobre o que está acontecendo”

Em Codogno, epicentro da epidemia na Itália, poucos se atrevem a quebrar a quarentena imposta pelas autoridades após a detecção de quase 60 casos do coronavírus. Duas pessoas morreram

Daniel Verdú
Moradores em uma farmácia em Codogno, Itália.
Moradores em uma farmácia em Codogno, Itália.MATTEO CORNER
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Codogno (lodi) (Italy), 21/02/2020.- Health workers (front, in blue) wearing face masks walk with portable medical equipment in a corridor of the Codogno Civic Hospital, where the Emergency Room has been closed as a precautionary measure, in Codogno near Lodi, northern Italy, 21 February 2020. Six people have been reported infected with the novel coronavirus in Italy, all in the region of Lombardy, authorities said on 21 February. Residents of Codogno have been advised by regional authorities to stay at home as a protective measure and avoid all social contact. (Italia) EFE/EPA/MAURIZIO MAULE
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A bus carrying the passengers from the quarantined Diamond Princess cruise ship prepares to leave a port in Yokohama, near Tokyo, Thursday, Feb. 20, 2020. The cruise ship started letting passengers who tested negative for the virus leave the ship Wednesday. Test results are still pending for some people on board. (AP Photo/Eugene Hoshiko)
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A Itália descobriu na manhã de sábado, amontoada no guichê das farmácias enquanto acabavam os estoques de máscaras e desinfetantes, que a ideia de modernidade e segurança pode ser tão relativa quanto os primeiros sintomas de um resfriado. A região mais próspera do país, uma das mais avançadas da Europa, foi a primeira a sucumbir à epidemia por coronavírus de Wuhan. Logo o problema se estendeu à vizinha Vêneto, onde uma segunda pessoa morreu e os 11 casos positivos detectados elevaram a cifra global a 59 (nesta tarde, foi confirmado o primeiro caso em Turim). A Itália já é o país europeu onde mais se propagou o coronavírus, que provoca a doença Covid-19. É também o que foi obrigado a tomar mais medidas de segurança. O Governo afirma que tem um plano e adotará todas as ações necessárias, mas a “zona zero” da epidemia traz algumas dúvidas.

Codogno, uma pequena comuna italiana de 15.900 habitantes, é o epicentro do processo de contágio que forçou o isolamento de 10 municípios da província de Lodi, num total de 50.000 habitantes. Na manhã de sábado, suas ruas estão desertas, as lojas fechadas e muitas casas com as persianas baixas. Todos os eventos esportivos regionais foram cancelados, incluindo os da segunda divisão italiana disputados na região, e não há uma perspectiva clara de que tudo volte à normalidade. Na segunda-feira ninguém comparecerá ao local de trabalho, e nenhum aluno se sentará nas carteiras das escolas, totalmente fechadas. Em teoria, a subsistência até novo aviso deve ser feita sem sair de casa. Giovanni, morador da localidade de 52 anos, com máscara e gola da jaqueta levantada, aperta o passo para chegar à casa da mãe. “Medo? Claro. Não temos nem máscaras e não nos deram as informações reais sobre o que está acontecendo. Eu soube de grande parte do que ocorria pelos meios de comunicação”, protesta, apontando para o hospital, onde está internado um paciente contagiado na Itália.

Grande parte dos doentes e dos profissionais foi desalojada do centro de saúde depois que dois médicos se contagiaram e uma moradora da localidade de Casalpusterlengo (vizinha de Codogno) também contraiu o vírus e morreu neste sábado. Na porta, uma placa adverte sobre o fechamento da emergência e proíbe o acesso dos visitantes. Um cenário inquietante cuja origem o Governo ainda não conseguiu determinar – o suposto “paciente zero”, um homem que regressou da China em 21 de janeiro e que havia jantado com o primeiro infectado, deu negativo nos testes – e que contrastava com a normalidade de alguns habitantes, que passeavam com o cachorro ou saíam para comprar suprimentos nas cidades vizinhas como Piacenza, a apenas 19 quilômetros, onde não existe nenhum tipo de restrição e a vida transcorre como sempre. “A verdade é que para mim tudo isso parece um exagero”, diz Francesca, 83, enquanto ressoam, em meio ao silêncio do povoado, os golpes da enxada que utiliza para arrumar o jardim de sua casa.

A psicose, além da percepção de cada um, espalhou-se neste sábado por toda a Itália. Nas farmácias de Roma, as máscaras e os desinfetantes estavam esgotados já na véspera. O medo se propagou muito mais depressa do que o trem de alta velocidade que une a Lombardia com o restante do país. O serviço ferroviário, de fato, foi interrompido diversas vezes por causa do alarme, soado entre os passageiros, de que algum deles apresentava sintomas da doença. Numa das formações, um passageiro ligou para a emergência dizendo que conhecem alguém da localidade de Codogno, um dos lugares com maior número de casos, e que poderia ter contraído a infecção. Em outra, uma mulher alertou sobre a presença de um passageiro procedente da China com possíveis sintomas. Nas duas ocasiões foi alarme falso. Depois da intervenção da polícia ferroviária para tranquilizar os viajantes, os trens retomaram a marcha com normalidade.

As autoridades pedem que a população mantenha a calma e estabeleceram um gabinete de crise e Roma, na sede da Proteção Civil, que mantém contato permanente com a Lombardia, um dos focos com maior número de casos. Também foi isolada Vo’ Euganeo, uma localidade de cerca de 4.000 habitantes na província de Pádua. O primeiro-ministro, Giuseppe Conte, anunciou que o Governo estuda a adoção de novas “medidas extraordinárias” para enfrentar a emergência. O tráfego aéreo com a China está suspenso há semanas. A medida foi tomada quando se confirmou o primeiro caso da doença na Itália, com os turistas chineses e antes do registro dos primeiros contágios em território italiano.

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