China amplia a quarentena pelo coronavírus e deixa 41 milhões de pessoas isoladas

Governo anuncia a construção de um hospital a toque de caixa para atender casos da doença, que já deixou 26 mortos e 894 infectados

Agentes verificam temperatura de viajantes procedentes de Wuhan na estação de Hangzhou (China).AP

A China ampliou o fechamento de cidades para controlar a transmissão do novo coronavírus. Após a abrupta quarentena imposta a Wuhan, cidade de 11 milhões de habitantes que é o foco da infecção, as autoridades ordenaram o isolamento de dezenas de localidades próximas, incluindo Huanggang, com 7,5 milhões de habitantes.

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Além do bloqueio das cidades, medida que afeta mais de 41 milhões de pessoas, o Governo planeja construir a toque de caixa um novo hospital em Wuhan que centralizará o tratamento desses pacientes. Conforme noticiado pela TV estatal CCTV, a unidade será construída na periferia ocidental da cidade, próximo ao que antes era um complexo de descanso para os trabalhadores. As obras começaram nesta quinta-feira e devem ser concluídas na segunda-feira, 3 de fevereiro.

A ideia de montar um hospital recém-construído e encaminhar os infectados com o coronavírus para lá reproduz o que foi feito em 2003 durante a epidemia da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), que deixou mais de 700 mortos. Na época, Pequim ordenou a construção de uma clínica especializada, a de Xiaotangshang, nos arredores ao norte da capital. Cerca de 7.000 trabalhadores levaram apenas uma semana para construir a unidade.

Em outras grandes cidades chinesas, os governos locais anunciaram o cancelamento das celebrações públicas do Ano-Novo lunar, a partir deste sábado, para evitar o contágio. A Prefeitura de Pequim anunciou o cancelamento de grandes eventos: não serão realizadas as populares feiras do templo, que reúnem milhares de pessoas em alguns dos parques e templos mais frequentados da capital, com oferta de espetáculos tradicionais e jogos, uma medida à qual aderiu também Wuhan, a região autônoma de Macau e a província costeira de Zhejiang.

Nessa província, a cidade de Hangzhou, com 9,8 milhões de habitantes, anunciou que suspenderá shows e passeios em barcos de maior tamanho no Lago do Oeste, sua principal atração turística. Museus e outros pontos onde os visitantes tendem a se reunir também serão fechados.

Os dados mais recentes sobre o coronavírus conhecido como Wuhan 2019-nCoV indicam 26 mortos e 894 infectados. O patógeno já chegou a 16 países, incluindo Taiwan, Japão, Coreia do Sul, Tailândia e Estados Unidos. Na quinta, a Organização Mundial da Saúde (OMS) descartou nesta a declaração de um alerta internacional, embora tenha afirmado que poderá se reunir novamente por esse motivo nos próximos dias. Por enquanto, a OMS avisa: “a comunidade global deve estar preparada”.

As autoridades chinesas rastrearam a origem da infecção e chegaram ao mercado de Huanan, em Wuhan. Embora seu nome oficial o descreva como um ponto de venda de frutos do mar e peixes, são vendidas muitas espécies de animais selvagens, desde filhotes de lobo a morcegos. A Comissão Nacional de Saúde admitiu que o vírus foi transmitido de um animal para o ser humano, embora não tenha especificado qual teria sido a espécie.

Um primeiro estudo publicado na terça-feira na revista Science China Life Sciences, da Academia Chinesa de Ciências, analisou a relação entre o novo coronavírus e similares. Entre suas conclusões constatou que o patógeno estava intimamente relacionado a uma cepa que infecta morcegos. Mas também indicou a probabilidade de a infecção ter ocorrido por um animal intermediário. O trabalho dos cinco cientistas chineses publicado pela revista Journal of Medical Virology sugere que este animal é provavelmente uma cobra.

"O 2019-nCoV parece ser um vírus recombinante entre o coronavírus dos morcegos e outro coronavírus de origem desconhecida", explicam os especialistas. "Nossa pesquisa conclui que a cobra é o animal selvagem mais provável."

O estudo, que lembra que as cobras estavam entre as espécies vendidas no mercado de Wuhan, especifica que no sudeste da China, a área onde a cidade está localizada, duas espécies são endêmicas, a cobra chinesa ou Naja Atra e a Bulgarus Multicinctus. As cobras “também eram vendidas no mercado de Huanan, onde muitos dos pacientes trabalhavam ou tinham histórico de exposição a animais selvagens ou de fazendas”, explicam eles.

Embora o consumo não seja habitual, a carne de cobra é apreciada na tradição chinesa por suas supostas propriedades afrodisíacas, para proporcionar calor no inverno e dar uma aparência mais saudável à pele.

A Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), que em 2003 deixou quase 700 mortos na China e em outros países, estava vinculada ao consumo de carne de civeta, um felino selvagem originário do Sul e Sudeste Asiático.


Cronologia do caso

31 de dezembro de 2019. A China informa sobre um caso de pneumonia de origem desconhecida detectado na cidade de Wuhan.

3 de janeiro. Notificados os primeiros 44 casos de uma misteriosa pneumonia.

7 de janeiro. As autoridades chinesas identificam um novo tipo de coronavírus.

11 de janeiro. Primeira morte confirmada pela nova pneumonia.

11 e 12 de janeiro. A Comissão Nacional de Saúde da China informa que o surto está associado ao contato com frutos do mar em um mercado na cidade de Wuhan.

12 de janeiro. A China compartilha o sequenciamento genético do novo coronavírus para que os demais países possam estudá-lo e desenvolver ferramentas específicas de diagnóstico.

13 de janeiro. A Tailândia notifica o primeiro caso importado do novo coronavírus (2019-nCoV) de Wuhan, confirmado por laboratório.

15 de janeiro. O Japão relata um caso importado do coronavírus.

20 de janeiro. A Coreia do Sul relata um caso confirmado. A cifra oficial de contaminados sobe a 198.

21 de janeiro. Os Estados Unidos notificam o primeiro caso confirmado fora da Ásia.


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