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Príncipe Harry revela seus vícios em drogas e álcool depois da morte de Diana

Em sua série documental junto a Oprah Winfrey, o príncipe conta que sofreu ataques de pânico, que nunca teve o apoio da família real britânica e que não se arrepende de ter ido embora, porque temia pela vida de Meghan Markle

O príncipe Harry no palácio de Windsor, em outubro de 2019.
O príncipe Harry no palácio de Windsor, em outubro de 2019.POOL (Reuters)
María Porcel

O príncipe Harry voltou a romper todas as amarras que o uniam à família real britânica, dando detalhes muito íntimos sobre seu sofrimento, sobre como viveu a morte de Diana e sobre sua vida no palácio, indo inclusive além da entrevista que concedeu em março a Oprah Winfrey. Desta vez as declarações são parte de uma série documental que acaba de estrear, produzida e protagonizada por ele em parceria com Winfrey, The me you can’t see (“o eu que você não vê”). Nela, Harry conta que chegou a consumir de drogas ilícitas e álcool de forma recorrente para superar a perda da mãe, ocorrida em 1997, e “como válvula de escape”. “Estava decidido a beber, estava decidido a usar drogas, estava decidido a tentar fazer as coisas que me faziam sentir um pouco menos como me sentia”, contou o príncipe à apresentadora no primeiro capítulo da série. “Pouco a pouco fui percebendo. Não é que bebesse de segunda a sexta, mas provavelmente bebia em um só dia, uma sexta ou um sábado à noite, o mesmo que em toda uma semana. E estava bebendo não porque gostasse, mas porque estava tentando ocultar algo.”

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Além dessas incursões nas drogas e no álcool, Harry conta que sofreu frequentes ataques de pânico, sobretudo quando tinha que enfrentar as tarefas associadas ao seu cargo. “Cada vez que vestia terno e gravata e precisava fazer o papel, inclusive antes de sair de casa, começava a suar, meu coração ficava... Ataque de pânico, ansiedade severa. A época dos 28 aos 32 anos foi um pesadelo na minha vida, de loucura”, acrescentou o príncipe, que hoje tem 36. Eram, além do mais, ataques que todo mundo via e que o faziam se sentir exposto. “Sempre que entrava em um carro, que via uma câmera, começava a suar, como se minha temperatura corporal fosse dois ou três graus mais alta que a do resto. Achava que estava completamente vermelho, e todos podiam ver como me sentia, mas ninguém sabia os motivos.” Por isso, relata que os melhores anos da sua vida foram na década em que esteve ligado ao Exército, porque lá não tinha privilégios nem reconhecimentos por ser da família que é.

“Pessoas feridas desde sua criação, por seu entorno, pelo que passaram, pelo que tiveram que enfrentar, que ver..., se você não se transforma, se não processa, isso acaba se voltando contra si de todas as formas possíveis, e você não consegue controlar”, diz. “Olhando para trás, é tudo uma questão de tempo”, pensa em voz alta a respeito de como sua vida se desenvolveu. “Aos meus vinte e muitos anos, tudo era frenético para mim, ao ponto do esgotamento. Viajava por todo o mundo porque, do ponto de vista da minha família, assim eu saberia quem era. E era assim: ‘Alguém precisa ir ao Nepal, Harry, vai você’. Era o que sempre dizia que sim. Não sim, mas ‘Sim, claro, claro, naturalmente’. Sim, sim até acabar completamente queimado.”

Além disso, na série o príncipe aparece se submetendo a uma terapia que serve para aliviar pacientes que sofreram um choque pós-traumático. De fato, ele mesmo conta que depois da morte da sua mãe fez terapia por quatro anos (“E isso é muito tempo”), e que num primeiro momento isso o impactou porque tinha “medo de perder”. “Não estava em um entorno no qual me animasse a falar da questão, muito pelo contrário”, relata sobre a falta de comunicação com o resto da família real.

“Para mim, a terapia me equipou para ser capaz de suportar tudo. É o motivo pelo qual estou aqui, e pelo qual minha esposa está aqui também. Esse sentimento de me sentir preso na família, porque não havia opção para sair...”, relata o filho mais novo de Charles e Diana de Gales, acrescentando que, quando comunicou à sua família a intenção de partir, lhe disseram: “Você não pode fazer isso”. “E eu pensei: até que ponto as coisas precisam piorar para que me permitam?”

“Pensei que minha família me ajudaria, mas cada pergunta, pedido, aviso, o que fosse, esbarrava no silêncio ou na negligência”, queixa-se. A única recomendação que recebia, diz, era para que assentisse e sorrisse, pois assim superaria tudo. “Os membros da minha família disseram: ‘Jogue este jogo e sua vida ficará mais fácil’, mas tenho um inferno dentro de mim pelo que aconteceu com a minha mãe. Sinto-me fora do sistema, mas estava preso a ele. O único modo de se libertar e romper é dizer a verdade.” Harry conta que, depois da morte da mãe, se sentia como se tivesse a cabeça “enterrada na areia”, e que quando lhe perguntavam como se sentia nunca dizia que feliz ou triste, apenas que “bem”, sem aprofundar.

Também afirma que pensar na falecida Diana era muito doloroso para ele, por isso evitava trazê-la à lembrança. “Não quero pensar nela, porque se pensar nela virá à tona a questão de que não posso recuperá-la, trazê-la de volta, e isso me deixa triste. De que serve pensar em coisas tristes? Decidi, simplesmente, não falar disso. Ninguém falava.”

De fato, Harry pensou que o ocorrido com Diana poderia se repetir com sua esposa, Meghan Markle. “Perseguiram a minha mãe até a morte quando ela mantinha uma relação com alguém que não era branco, e veja o que acontece agora. Dissemos que a história se repete? Não vão parar enquanto não matá-la”, diz, em referência ao racismo que Markle e ele dizem ter sentido dentro da família real e também da perseguição midiática. “Pelas manchetes e pelos esforços conjuntos da Empresa [como a família real britânica é chamada] e da mídia para desprestigiá-la, acordava no meio da noite e ela estava chorando, mas não queria me acordar porque eu já carregava muito peso sobre meus ombros”, relata. “Era desolador, eu a abraçava, conversávamos, e ela chorava, chorava.” Como já contou antes, achou que a história da sua mãe se repetiria.

Por isso, afirma que não se arrepende em nada de ter deixado o convívio com a família real. E acrescenta que Londres lhe traz muitas lembranças de Diana e lhe causa sofrimento, porque lá se sente “perseguido”. De fato, acredita que agora está vivendo a vida que sua mãe queria e que não chegou a ter.

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Lady Gaga: me estupraram aos 19 anos e engravidei

Nos episódios do The me you can’t see, não são apenas o príncipe Harry e Oprah Winfrey que aparecem falando de saúde mental, mas também Lady Gaga, Glenn Close, o conferencista Zak Williams, filho do falecido ator Robin Williams, os jogadores de basquete DeMar DeRozan e Langston Galloway e o chef de cozinha Rashad Armstead. Num episódio, Lady Gaga (apresentada simplesmente como Stefani, seu nome real) relata como foi estuprada aos 19 anos, algo que já contou em 2014 e que mencionou diversas vezes ao longo destes anos (como quando, em 2016, revelou sofrer de transtorno do estresse pós-traumático, e em 2018, que tinha sido forçada por alguém da indústria do entretenimento). Desta vez, revela também que aquele estupro resultou em uma gravidez.

“Tinha 19 anos e já estava neste negócio [da música], e um produtor me disse: ‘Tire a roupa’. E eu disse a ele que não. Larguei-o, e então me disseram que iriam queimar toda a minha música. E não pararam. Não pararam de me pedir, fiquei congelada. E... quase não me lembro”, relatou. Não quis identificar o produtor, mas afirmou que não gostaria “de voltar a ver essa pessoa nunca mais”. Conta que o trauma levou alguns meses para aparecer, e quando veio foi “um absoluto surto psicótico”. “Primeiro senti a dor, depois me notei intumescida, depois doente durante semanas. Percebi que sofria a mesma dor que quando a pessoa que me estuprou me deixou lá, grávida, jogada numa esquina perto da casa dos meus pais, porque estava passando mal, vomitando. Porque tinha sido estuprada, e havia ficado trancada e presa num estúdio de gravação durante meses.”

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