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Hebert Conceição vai para o tudo ou nada, consegue nocaute e leva o ouro no boxe

Brasileiro derrota ucraniano que dominava a luta e fica em primeiro lugar na categoria peso-médio nos Jogos Olímpicos. “Estava perdendo e falei: ‘são 3 minutos para buscar o ouro”

Hebert sobe ao pódio com a sua medalha de ouro.
Hebert sobe ao pódio com a sua medalha de ouro.UESLEI MARCELINO (Reuters)
Felipe Betim
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Medalha de ouro para Hebert Conceição nos Jogos Olímpicos de Tóquio. O boxeador brasileiro ficou em primeiro lugar na categoria peso-médio (69-75kg) ao vencer a final por nocaute contra o ucraniano Oleksandr Khyzhniak, bicampeão europeu e campeão mundial de peso-médio. A disputa estava se caminhando para a vitória do europeu até o terceiro round, quando Hebert deu um golpe de esquerda que nocauteou seu adversário e definiu a luta ao seu favor. “Foi surpresa para muita gente, mas para mim, não. Eu trabalhei muito”, afirmou o campeão. Com o resultado, o Brasil passa a ter 18 medalhas, seis de ouro. A medalha de Hebert é a segunda do país no boxe. Antes dele, o pugilista Abner Teixeira conquistou o bronze na categoria peso pesado (até 91kg) na terça-feira.

Hebert não chegou na decisão como favorito, repetindo o cenário que enfrentou nas duas lutas anteriores. Mas, de novo, venceu. A diferença foi que, desta vez, os dois primeiros rounds terminaram com vitória de Khyzhniak de acordo com a avaliação unânime dos juízes. Assim, a única forma de o brasileiro sair com o ouro seria nocautear o ucraniano no terceiro e decisivo round. O golpe de canhota veio a um minuto e meio do fim, derrubando o ucraniano e emocionando o brasileiro. Foi apenas a quarta vitória por nocaute em todas as categorias do boxe disputadas nos Jogos de Tóquio. As medalhas de bronze ficaram com o filipino Eumir Marciel e com o russo Gleb Bakschi.

“Eu sabia que estava perdendo e falei ‘são 3 minutos para mudar a cor da medalha e buscar o ouro’. Sabia que a trocação era loteria e se eu tomasse o nocaute, não perderia nada”, disse depois da luta. “[Quero] dedicar a medalha pra todos os brasileiros. A pandemia atingiu e devastou muitas famílias. Muitos perderam emprego, entes queridos. Espero ter proporcionado um pouco de felicidade e um breve sorriso”, completou.

A medalha de ouro de Hebert também confirma a ótima fase do boxe brasileiro nas olimpíadas. Além dele e de Abner, a pugilista Beatriz Ferreira foi para a final da categoria peso leve (60kg) em Tóquio. O único pugilista brasileiro antes dele a conquistar um ouro olímpico havia sido Robson Conceição, na Rio 2016. Também houve o bronze de Adriana Araújo e as medalhas dos irmãos Yamaguchi e Esquiva Falcão que levaram em Londres 2012, respectivamente, um bronze e uma prata nas categorias peso médio e meio-pesado.

Hebert nocauteia o ucraniano na final.
Hebert nocauteia o ucraniano na final.LUIS ROBAYO (AFP)

Hebert, de 23 anos e natural de Salvador (BA), possui uma curta carreira internacional. Após ganhar um bronze nos Jogos Sul-Americanos, em 2018, estreou internacionalmente no ano passado Campeonato Mundial de Boxe Amador, na Rússia. Lá, conseguiu o bronze. No mesmo ano conquistou a prata nos Jogos Pan-Americanos, perdendo o ouro para o campeão olímpico da Rio 2016, o cubano Arlen Lopez.

O pugilista é filho de Ieda Conceição, de 61 anos. Ao portal G1, ela contou que pediu a ele que evitasse fazer ligações para a família e que ficasse tranquilo. “Quando ele liga para mim em chamada de vídeo, os olhos dele ficam cheio de lágrimas”, explicou. “Eu não quero ver meu filho assim, eu quero ver meu filho bem, fazendo o que tem que fazer, desempenhando o papel dele, porque ele se propôs, lutou muito, com muita garra, anos de dedicação”, acrescentou. Ela ainda prometeu que que irá, na volta de Tóquio, ao aeroporto de Salvador buscar o filho. “Quando ele está com a gente ele chora, ele é muito emotivo, muito família. Quando ele vem de viagem, ele fica aqui, tem que fazer comida, porque ele gosta muito de comer e eu invento de fazer tudo o que ele gosta”, explica ela.

Hebert já havia garantido o terceiro lugar quando passou para a semifinal na última quinta. Ele chamou a atenção dos telespectadores que acompanharam as quartas de final quando, ao vencer Abilkhan Amankul, do Cazaquistão, gritou: “Eu sou medalhista olímpico, caralho! eu mereço pra caralho! Nós trabalhamos pra caralho, porra!”. Com ao menos um bronze garantido, continuou: “É Brasil, é Bahia, é Salvador!”.

A reverência à Bahia não é a toa. O Estado é a terra natal não só dele mas também dos principais pugilistas brasileiros, como Beatriz Ferreira, Robson Conceição, Adriana Araújo ou Acelino Popó Freitas. Herbert tem Robson como mentor e também é treinado desde os 12 anos por Luiz Dórea, um dos principais formadores de pugilistas do Brasil. Ex-treinador de Popó, ele também teve a participação no bronze de Adriana em 2012 e no ouro de Robson em 2016. No último domingo, o jovem pugilista telefonou eufórico a Dórea para celebrar que iria ao pódio ao menos com um bronze. O treinador então deu uma bronca: “O quê? Está feliz? Tudo bem, mas ainda não acabou: você ainda tem de fazer esse bronze virar ouro!”, contou o treinador ao portal UOL.

E Hebert foi em busca desse ouro. Na sexta-feira, venceu a semifinal contra o russo Gleb Bakshi (ROC), campeão mundial de boxe em 2019, em Ecaterimburgo (Rússia). A classificação para a final foi também uma espécie de vingança, já que os dois pugilistas haviam se encontrado na semifinal do Mundial. Naquela ocasião, o russo levou a melhor. “Estava um pouco tenso antes da luta, como sempre fico. Acho que temos que ter essa adrenalina, porque treinei muito com a minha equipe. Foi bom que consegui reverter mais essa revanche. Peguei uma chave muito dura, só tive lutas duríssimas”, comemorou o baiano. O topo do pódio olímpico em Tóquio 2020 é o passo mais importante de uma carreira que parece estar ainda começando.

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